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"Extra-regionais" mudam perfil do refúgio na Amazônia

Com mestrado em Geologia, Carlos tinha uma vida tranqüila no Congo, trabalhando para o governo na área de mineração. Após receber a missão de mediar uma disputa tribal pelo uso de recursos naturais no interior do país, passou a ser perseguido por uma das tribos por ser considerado um colaborador do governo. Pouco tempo depois, descobriu que o próprio governo o considerava um traidor e que um eventual retorno à capital Brazzaville implicaria riscos à sua vida.Orientado por um conhecido, decidiu vir ao Brasil para solicitar refúgio, mas acabou sendo vítima de um golpe. Após uma longa jornada envolvendo o Congo e a África do Sul, passou por São Paulo e foi abandonado em Roraima, próximo à fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Quando se deu conta de que estava na Amazônia brasileira, foi orientado a solicitar refúgio em Manaus - onde vive há cerca de um ano.Carlos é um exemplo ilustrativo do novo perfil do refúgio na região amazônica brasileira, que tradicionalmente acolhe pessoas provenientes de países fronteiriços (especialmente a Colômbia). Entretanto, nos últimos anos, a região recebe um número cada vez maior de solicitantes de refúgio extra-regionais - aqueles que vêem de países de fora do continente americano.Foram cerca de 30 solicitantes extra-regionais desde 2010, em sua maioria homens jovens provenientes de países distantes do Brasil, como Quênia, Sri Lanka, Zimbábue, Gana, Nigéria, Irã, Bangladesh, Guiné Bissau, Costa do Marfim, Serra Leoa e Congo. Este novo perfil, entretanto, não altera o fluxo de solicitantes de refúgio da região. Atualmente, a Amazônia abriga cerca de 140 refugiados (a maioria bolivianos) e quase 700 solicitantes de refúgio de diversas nacionalidades.“A projeção internacional do Brasil aumentou sua fama como país acolhedor, ampliando sua inserção nas rotas migratórias internacionais. A posição geopolítica de Manaus e o peso simbólico da região amazônica, além de suas fronteiras amplas e porosas, aumentam a relevância e a intensidade destes fluxos”, afirma o Padre Isaías de Andrade, coordenador da Cáritas Arquidiocesana de Manaus - parceira da agência da ONU para refugiados na região.De acordo com o representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez, “a proteção às pessoas que fogem de perseguição e violação massiva dos direitos humanos segue representando um desafio para os países, especialmente quando novos conflitos se desenvolvem na África e no Oriente Médio”. Para ele, o Brasil tem demonstrado “uma postura solidária e humanitária frente ao tema”, independente da origem dos solicitantes. “Não é uma casualidade o fato de o Brasil abrigar 75 nacionalidades de refugiados em seu território”, completa Ramirez.Saiba mais em www.acnur.org.br.

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