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Informática desenvolve potencialidades de alunos especiais

Autor original: Marcos da Silva Graça

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor





Órteses são usadas para possibilitar o uso do computador

Implantado há dez anos nas Obras Sociais da Irmã Dulce (OSID), em Salvador (BA), o Programa Informática na Educação Especial atende atualmente 103 alunos portadores de deficiência física, sensorial e mental de comunidades de baixa renda da cidade ou do núcleo residencial da própria entidade. O projeto faz parte do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências (CRPD), utilizando equipamentos e softwares de acessibilidade para desenvolver as potencialidades cognitivas, o raciocínio lógico-dedutivo e a psicomotricidade de alunos especiais, permitindo a eles a socialização e o acesso ao mercado de trabalho.

O programa foi criado pelo engenheiro Teófilo Galvão, mestre em Informática na Educação, que coordena até hoje as atividades realizadas. “Percebemos que a dinâmica e as possibilidades de estímulo da informática poderiam auxiliar o desenvolvimento dos portadores de deficiência e partimos para essa iniciativa pioneira no país, que já atendeu centenas de alunos em seus dez anos de existência”, conta o pesquisador. No método utilizado, segundo ele, o ambiente computacional e a telemática na educação especial favorecem a autonomia e a inclusão social dos alunos. “Horizontes novos são abertos, possibilitando que sua inteligência, antes aprisionada em um corpo limitado, encontre novos canais de expressão", acrescenta.

O trabalho realizado com os alunos procura tornar o computador parte de um ambiente de aprendizado, integrado com os equipamentos desenvolvidos ou disponibilizados pelo CRPD, como órteses ou adaptações físicas, adaptações de hardware e software. “O laboratório é equipado para dar aos alunos amplas possibilidades de conexão e estímulo à criatividade, com 13 computadores, webcams, impressoras, scanners, máquina fotográfica digital e vários programas. Como não temos muitos recursos, no caso de alunos com comprometimento motor mais acentuado, partimos para a criatividade e criamos adaptações baratas que garantem o trabalho no computador, como máscaras de teclado, estabilizadores de punho, abdutores de polegar, além de simuladores de teclado e mouse com diferentes acionadores”, destaca o engenheiro Teófilo Galvão.

O sucesso do método é mensurável, segundo uma das duas pedagogas que trabalham no programa, Luciana Damasceno, tanto no desenvolvimento acelerado da compreensão como da coordenação motora dos alunos especiais. “A carga horária é de 2 a 3 horas por semana, como complemento da escola regular, mas conseguimos resultados ótimos”, explica. Ela lembra o caso de um homem tetraplégico de 37 anos que não conseguia comunicar-se porque não tinha sido estimulado. Por meio do trabalho desenvolvido, com um sistema que manipulava o computador com sopros de ar, ele foi alfabetizado. “A surpresa da família com a transformação foi impressionante, porque estes estímulos que atingem o lado afetivo do aluno também sensibilizam a família, e é reconfortante ver alunos desenvolverem-se, mesmo tendo freqüentado escolas especializadas por vários anos, sem que nunca tivessem conseguido aprender a ler e escrever”, destaca.

A excelência do Programa Informática na Educação Especial permitiu que ele fosse apresentado em diversos cursos, congressos e seminários nacionais e internacionais sobre projetos pedagógicos na educação especial; recebendo em 2001, da Fundação Banco do Brasil e da Unesco, o certificado de Tecnologia Social. "Temos hoje uma página eletrônica com links para páginas pessoais e trabalhos dos alunos e um boletim eletrônico, o Jornal do CRPD, editado por eles”, detalha a pedagoga, que trabalha há cinco anos no programa. Segundo ela, a inclusão social dos alunos tem permitido até mesmo que muitos prestem pequenos serviços de informática para a instituição. “A experiência tem produzido um grande impacto na elevação da auto-estima desses jovens, criando motivação e novos canais de comunicação para eles”, completa.


Marcos da Silva Graça

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