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América Latina, globalização e militarização

Autor original: Maria Eduarda Mattar

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"Não somos contra o progresso, mas não podemos ficar com o prejuízo". Assim Sérvulo Borges, do Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara, resumiu o posicionamento dos moradores da pequena cidade maranhense onde a Aeronáutica desenvolve o lançamento de foguetes de seu programa espacial. Ele falou durante a conferência "Globalização Armada e Militarização na América Latina", realizada na manhã de sexta-feira, 7 de novembro, no Fórum Social Brasileiro.

A base começou a ser construída na década de 1980 e, desde então, a comunidade sofre com o impacto de sua instalação. Segundo Borges, 300 famílias foram deslocadas de suas casas para dar lugar à área militar de 62 mil hectares. A vinda de centenas de trabalhadores para a construção, nas décadas de 80 e 90, provocou crescimento desordenado em Alcântara, que não teve obras de infra-estrutura suficientes e hoje sofre com o agravamento da pobreza.

Alcantâra, recemente, foi centro de uma polêmica envolvendo movimentos sociais e os governos brasileiro e norte-americano. Os EUA queriam lançar foguetes da base, cuja posição geográfica favorece a operação, mas, para isso, pediram a criação de uma área militar própria em território brasileiro. Um projeto de lei que autorizava a medida chegou a tramitar no Congresso, mas acabou não sendo aprovado, depois de manifestações contrárias de ONGs, movimentos sociais e partidos políticos. Agora, um novo acordo está em negociação com a Ucrânia.

Borges disse ser preciso cobrar uma posição do governo, pois mais pessoas podem sofrer com a ampliação do espaço e sua maior utilização. "Não queremos acordos com estrangeiros, pois os moradores são sempre deixados de lado e não usufruem do avanço", afirmou. Ele ainda lembrou que a taxa de analfabetismo, próxima a 80% da população da cidade, permanece praticamente inalterada hoje em dia.

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