Autor original: Maria Eduarda Mattar
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A conferência sobre justiça social realizada na manhã de sábado, agradou ao público presente - o maior até agora nos eventos matinais do Fórum Social Brasileiro. Alexandre Gama, do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, falou sobre os direitos das crianças e adolescentes. Mary Castro, pequisadora da Unesco, abordou as desigualdades raciais, enquanto o teólogo e escritor Leonardo Boff apontou caminhos para o Brasil se tornar uma "Roma tropical".
Segundo Boff, o império brasileiro, ao contrário do romano, se pautaria pela solidariedade ao invés da dominação militar. Sua missão seria "unificar a família humana na casa Terra", disse. O teólogo afirmou que há quatro passos para se alcançar esse novo status. O primeiro seria cobrar medidas do Estado, que deveria ser social e de cunho popular. O segundo é a cobrança de engajamento por parte da intelectualidade nacional. "Ela tem uma dívida a pagar com os que não tiveram o privilégio de ir à Universidade. É preciso unir os saberes do povo com os dos profissionais", explicou. A terceira medida, dependente da
segunda, é ajudar a mobilização popular, enquanto o quarto ponto seria a
incorporação de uma "ética do cuidado" pelos políticos. Para o teólogo, os
governantes "deveriam ficar mais na planície do que no Planalto".
Para Boff, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) seria uma tentativa norte-americana de frear o potencial de mudança presente no Brasil. O escritor apóia a realização de um plebiscito sobre a Alca, cuja negação deixaria o país livre e soberano.
Para Alexandre Gama, é preciso cuidar mais das crianças e
adolescentes,segundo ele, as maiores vítimas da atual política
econômica. Apresentou dados que dizem que 30 milhões de crianças vivem hoje na pobreza. Gama disse ser preciso provar que o Estatuto da Criança e do Adolescente pode funcionar no Brasil e, assim, erradicar males como o trabalho infantil doméstico e violência sexual, física e psicológica. Afirmou ainda que o lugar das crianças é no Orçamento Público Federal. "O fim das crianças será o fim de todos nós", lembrou.
Já Mary Castro criticou as desigualdades brasileiras. Segundo ela, a
taxa de desemprego nacional de 8% é composta por 20% de jovens sem
trabalho. Mas esse número sobe quando se separa o universo dos negros de até 25 anos, que apresenta 32% de pessoas desempregadas. Outro exemplo foi a quantidade de meninos e meninas entre 10 e 14 anos analfabetas. Nesta faixa etária, 1,3% das crianças brancas não sabem ler, enquanto 5,14% das negras estão na mesma situação. Para Castro, a solução para essas disparidades seriam cotas nas universidades e bolsas de estudo.
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