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Atualizações diárias sobre o Fórum Social Brasileiro

Autor original: Maria Eduarda Mattar

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Dia 9 de novembro

Aplausos e abraços encerram última conferência

Abraços e aplausos marcaram a última conferência do Fórum Social Brasileiro, intitulada "A ação global dos movimentos sociais".

A confraternização aconteceu a pedido de Steen Meyer Thorsson, membro brasileiro da campanha internacional Jubileu Sul, que apóia a renegociação das dívidas externas de países em desenvolvimento. Após lembrar que os movimentos sociais não são contrários à globalização, mas ao modo como ela está sendo conduzida, Thorsson afirmou ser preciso "globalizar a cooperação, a solidariedade e a valorização da vida". Pediu então aos presentes ao Mineirinho gritos de "um outro mundo é possível", lema do Fórum Social Mundial, e que todos se abraçassem. Foi prontamente atendido pela platéia, que aplaudiu de pé o gesto coletivo.

Em sua fala, Thorsson sugeriu a diversos movimentos, como os promotores da economia solidária, consumidores responsáveis e os religiosos, que se unissem para melhorar o mundo.

Também participaram da conferência Raimunda Mascena, coordenadora nacional da Marcha Mundial das Mulheres, Rubens Diniz, representante brasileiro na Organização Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), e Moacir Gadotti, do Fórum Mundial de Educação. Raimunda afirmou que, no Brasil, a pobreza tem cor e sexo, referindo-se às mulheres negras. Para justificar a campanha pelo aumento do salário mínimo promovida pela marcha, declarou que "se não pensarmos em políticas de empoderamento das mulheres, não acabaremos com a miséria".

Diniz, por sua vez, comemorou o fortalecimento do movimento pela democratização da mídia no Brasil pouco depois de lembrar as mobilizações ocorridas na América Latina nos últimos anos, como o "panelaço" argentino e os protestos bolivianos que resultaram na renúncia do presidente do país andino. Disse ainda ser necessário fortalecer a campanha pelo plebiscito sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Já Gadotti abordou as ações globais, definidas por ele como "atividades que atacam o coração do sistema sem se afastarem das ações locais". Segundo o representante do Fórum Mundial de Educação, é preciso criar mais espaços em redes horizontais que sigam o "espírito de Porto Alegre", assim como fazem os participantes das ações globais.





Dia 9 de novembro


Relação entre movimentos sociais e Estado é debatida no FSB

A relação entre o Estado brasileiro e os movimentos sociais foi o tema da conferência de abertura deste último dia de Fórum Social Brasileiro. Entre críticas e explicações sobre o apoio de organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ao governo Lula, a conclusão a que os palestrantes chegaram foi que "autonomia é fundamental".

Participaram da mesa Gustavo Petta, presidente da UNE, Luís Marinho, presidente da CUT, e Valério Arcari, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet).

Petta lembrou que a postura do Estado em relação aos movimentos sociais sempre foi repressora, com pequenos períodos de relaxamento. Para o representante da UNE, é preciso buscar a coordenação entre diversos movimentos sociais - rurais e urbanos - para sustentar as mudanças que acredita estarem por vir.

Já Arcari fez diversas críticas ao atual governo federal, pois, em sua opinião, os políticos não estariam cumprindo promessas de campanha, além de manterem a política econômica da administração anterior. Por isso, segundo ele, movimentos sociais como o Movimento dos Sem-Terra (MST) e organizações como a CUT e a UNE deveriam romper com o governo e exigir mudanças urgentes na conjuntura nacional.

Luís Marinho respondeu às críticas ao governo, apoiado pela entidade que preside. Para Marinho, o governo está fazendo ajustes necessários ao país. Também corrigiu acusações feitas por Arcari sobre a falta de posicionamento de Lula em questões como o ataque ao Iraque. O professor havia criticado um suposto silêncio do presidente em relação ao assunto, mas Marinho lembrou a postura pacifista de Lula. Como conclusão, o sindicalista afirmou que o papel dos movimentos sociais não está encerrado, apesar do atual governo ser apoiado por parte deles.

Nas considerações finais, o consenso foi atingido na idéia de que a polêmica é saudável para o crescimento da organização popular, cuja autonomia deve ser sempre preservada.



Dia 8 de novembro


Mídia em discussão

Começou hoje, no Fórum Social Brasileiro, a Jornada pela Democratização da Mídia. A campanha reuniu no Mineirinho jornalistas brasileiros e estrangeiros, além de representantes de movimentos sociais, para discutirem os principais problemas da cobertura jornalística internacional.

O jornalista norte-americano Norman Solomon, autor do livro "O Iraque na mira: O que a mídia não conta", mostrou como os meios de comunicação de seu país deformaram o relato do ataque ao Iraque. Comentários semelhantes vieram das também jornalistas Aixa Gonzalez, cubana que comentou a cobertura internacional sobre a ilha em que nasceu, e Blanca Eekout, venezuelana que criticou os donos de TV de seu país e o comportamento de jornais e emissoras na tentativa de golpe de Estado ocorrida em 2002 contra o presidente Hugo Chavez.O palestino Moya Dragme, por sua vez, acusou a mídia internacional de esconder a situação de pobreza na qual seu compatriotas vivem e de só mostrá-los como terroristas.

Também participaram da mesa Gustavo Petta, da União Nacional dos Estudantes, Pedro Malavolta, da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social, e o jornalista e escritor José Arbex Jr, editor-chefe do jornal Brasil de Fato.

A jornada realizará outras atividades nos próximos dias. Amanhã, 9 de novembro, realiza oficina durante o FSB. No dia 10, chega ao Rio de Janeiro com um painel na Associação Brasileira de Imprensa, às 19h. No dia seguinte, o Teatro da PUC-SP (Tuca), recebe palestrantes a partir das 19h30.





Dia 8 de novembro


Boff fala no Fórum Social Brasileiro e pede solidariedade


A conferência sobre justiça social realizada na manhã de sábado, agradou ao público presente - o maior até agora nos eventos matinais do Fórum Social Brasileiro. Alexandre Gama, do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, falou sobre os direitos das crianças e adolescentes. Mary Castro, pequisadora da Unesco, abordou as desigualdades raciais, enquanto o teólogo e escritor Leonardo Boff apontou caminhos para o Brasil se tornar uma "Roma tropical".

Segundo Boff, o império brasileiro, ao contrário do romano, se pautaria pela solidariedade ao invés da dominação militar. Sua missão seria "unificar a família humana na casa Terra", disse. O teólogo afirmou que há quatro passos para se alcançar esse novo status. O primeiro seria cobrar medidas do Estado, que deveria ser social e de cunho popular. O segundo é a cobrança de engajamento por parte da intelectualidade nacional. "Ela tem uma dívida a pagar com os que não tiveram o privilégio de ir à Universidade. É preciso unir os saberes do povo com os dos profissionais", explicou. A terceira medida, dependente da segunda, é ajudar a mobilização popular, enquanto o quarto ponto seria a incorporação de uma "ética do cuidado" pelos políticos. Para o teólogo, os governantes "deveriam ficar mais na planície do que no Planalto".

Para Boff, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) seria uma tentativa norte-americana de frear o potencial de mudança presente no Brasil. O escritor apóia a realização de um plebiscito sobre a Alca, cuja negação deixaria o país livre e soberano.

Para Alexandre Gama, é preciso cuidar mais das crianças e adolescentes,segundo ele, as maiores vítimas da atual política econômica. Apresentou dados que dizem que 30 milhões de crianças vivem hoje na pobreza. Gama disse ser preciso provar que o Estatuto da Criança e do Adolescente pode funcionar no Brasil e, assim, erradicar males como o trabalho infantil doméstico e violência sexual, física e psicológica. Afirmou ainda que o lugar das crianças é no Orçamento Público Federal. "O fim das crianças será o fim de todos nós", lembrou.

Já Mary Castro criticou as desigualdades brasileiras. Segundo ela, a taxa de desemprego nacional de 8% é composta por 20% de jovens sem trabalho. Mas esse número sobe quando se separa o universo dos negros de até 25 anos, que apresenta 32% de pessoas desempregadas. Outro exemplo foi a quantidade de meninos e meninas entre 10 e 14 anos analfabetas. Nesta faixa etária, 1,3% das crianças brancas não sabem ler, enquanto 5,14% das negras estão na mesma situação. Para Castro, a solução para essas disparidades seriam cotas nas universidades e bolsas de estudo.





Dia 8 de novembro


RITS participa de oficina no FSB


A RITS participou na tarde do segundo dia do Fórum Social Brasileiro de uma oficina sobre "As novas tecnologias no monitoramento do orçamento público". Estiveram presentes no evento Elizabeth Cavalheiro, Julia Ribeiro e Julio Silva, representantes do IBASE; Cristiane Sanchez e Alexandre da Rangel, da ONG Socid; e Claudia Castro e Carlos Antonio, que falaram em nome da RITS . Na oficina, que foi moderada por João Sucupira, coordenador do Núcleo de Transparência e Responsabilidade Social do Ibase, foram apresentadas e discutidas algumas das novas ferramentas de monitoramento e capacitação para o acompanhamento do orçamento público.

Enquanto Cristiane e Julio apresentaram o site Cidade Transparente, Elizabeth abordou o curso gratuito à distância, promovido pelo Ibase, para entendimento do orçamento público. Claudia Castro, coordenadora da área de Redes da RITS, contou um pouco sobre o que é a instituição e tirou dúvidas relacionadas ao ambiente de estudo à distância. Carlos Antonio falou sobre as TICs na educação à distância e também apresentou mais informações sobre as ferramentas. Julia Ribeiro, por sua vez, falou - de forma completa e concisa - sobre diversos assuntos ligados ao tema. Alexandre Rangel respondeu a inúmeras indagações sobre as possibilidades dos programas.





Dia 8 de novembro


FSB discute alternativas ao neoliberalismo


Para sair da crise em que está, o Brasil precisa alterar sua estrutura de poder e democratizar com urgência a propriedade rural, a riqueza do sistema financeiro, a informação e a cultura. A solução é de César Benjamin, cientista político e coordenador do movimento Consulta Popular. Benjamin falou na primeira conferência deste terceiro dia de Fórum Social Brasileiro sobre alternativas ao neoliberalismo.

Para o autor de "A opção brasileira", o Brasil está em meio a uma grave crise, mas o potencial de mudança também é grande. "Porém, para que esse potencial seja posto em prática, é preciso livrar-se dos organismos internacionais. Nossa crise não é econômica nem conjuntural. É uma questão de destino", afirmou.

O cientista político disse não ser aceitável que, em um país de tantas áreas férteis, 1% dos proprietários rurais controlem 44% das terras. Segundo ele, é preciso redistribuir as propriedades para atender à demanda dos movimentos sociais. Ele defendeu ainda o controle do fluxo de capitais tanto internamente quanto no exterior, com o Estado assumindo o mercado de capitais. Além disso, crê na necessidade de democratizar a informação, colocando sob controle social o espaço público e a cultura - que, segundo ele, está dominada por uma elite muito voltada para o exterior. Para atingir esses objetivos, conclamou a esquerda a se reorganizar rapidamente, pois,"perto desses pontos, todo o resto é quase ninharia".

Os outros conferencistas eram João Moraes, professor de filosofia da Unicamp, e Jurema Werneck, da ONG Criola. Ela analisou os termos "democracia", "neoliberalismo","popular", "sexismo" e "racismo", que estariam sendo desvirtuados em favor da atual conjuntura. Em função disto, afirmou ser necessário recuperar o sentido de outras palavras como "superação", para a qual ela não tem definição exata, somente exemplos vindos da cultura negra, como a formação de quilombos. Para Jurema, a resistência deve ser vista como algo positivo, que gera benefícios, e não somente em seu sentido de reação a um mal.

Já Moraes fez críticas ao governo Lula, que, segundo ele, fez uma "contra-reforma da previdência", por retirar benefícios da população. De acordo com o professor, a "dinâmica de atração de capitais internacionais especulativos, infelizmente, será mantida".



Dia 7 de novembro

Palestrantes pedem novas negociações internacionais

Questionamentos às negociações de acordos de livre comércio e respeito aos interesses nacionais foram os principais tópicos abordados pelos palestrantes da primeira conferência do Fórum Social Brasileiro, que aconteceu na manhã de sexta-feira, 7 de novembro, no Mineirinho.

Para eles, o Brasil deve resistir às pressões para aderir à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), pois da forma como que ela está planejada, será prejudicial para a economia e a política nacionais. A postura ideal nas negociações seria similar à adotada na última reunião interministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada em Cancún (México), em setembro. Na ocasião, o governo brasileiro liderou um bloco de países, denominado G-20, que impôs condições para a aprovação dos pontos de pauta do encontro. O Brasil foi acusado pelos países mais desenvolvidos de "travar" a reunião.

Segundo Fátima Melo, secretária-executiva da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), há hoje um novo desafio para o grupo internacional. "É preciso mostrar que outro multilateralismo é possível. Queremos uma integração que não seja feita com base no livre comércio", disse, antes de lembrar a necessidade de mobilizações para os próximos eventos internacionais, como a reunião da Alca em Miami, que acontece ainda neste mês.

O argentino Carlos Juliá, da campanha Jubileu Sul, afirmou que a Alca reforça o poder das grandes empresas e dos EUA na América Latina. "Ela é uma verdadeira e definitiva colonização cultural, política e econômica", declarou. Juliá pediu ainda aos brasileiros que não deixem o país cometer os mesmo erros da Argentina.

Já Luís Fernandes, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF), traçou um histórico da hegemonia do modelo econômico neoliberal. Segundo ele, a atual situação é conseqüência da queda dos regimes socialistas europeus, que tornaram os EUA a única potência mundial. Lembrou ainda que o militarismo norte-americano não é um fenômeno recente, pois o desrespeito às regras internacionais é comum desde o segundo mandato de Bill Clinton, apesar de George W. Bush ter agravado essa postura. Segundo ele, o Brasil deve tomar cuidado nas negociações internacionais.

A conferência foi mediada por Sandra Quintela, economista do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), que concluiu o encontro dizendo que o Brasil deveria se retirar da Alca para que os interesses nacionais sejam atendidos.



Dia 7 de novembro

América Latina, globalização e militarização

"Não somos contra o progresso, mas não podemos ficar com o prejuízo". Assim Sérvulo Borges, do Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara, resumiu o posicionamento dos moradores da pequena cidade maranhense onde a Aeronáutica desenvolve o lançamento de foguetes de seu programa espacial. Ele falou durante a conferência "Globalização Armada e Militarização na América Latina", realizada na manhã de sexta-feira, 7 de novembro, no Fórum Social Brasileiro.

A base começou a ser construída na década de 1980 e, desde então, a comunidade sofre com o impacto de sua instalação. Segundo Borges, 300 famílias foram deslocadas de suas casas para dar lugar à área militar de 62 mil hectares. A vinda de centenas de trabalhadores para a construção, nas décadas de 80 e 90, provocou crescimento desordenado em Alcântara, que não teve obras de infra-estrutura suficientes e hoje sofre com o agravamento da pobreza.

Alcantâra, recemente, foi centro de uma polêmica envolvendo movimentos sociais e os governos brasileiro e norte-americano. Os EUA queriam lançar foguetes da base, cuja posição geográfica favorece a operação, mas, para isso, pediram a criação de uma área militar própria em território brasileiro. Um projeto de lei que autorizava a medida chegou a tramitar no Congresso, mas acabou não sendo aprovado, depois de manifestações contrárias de ONGs, movimentos sociais e partidos políticos. Agora, um novo acordo está em negociação com a Ucrânia.

Borges disse ser preciso cobrar uma posição do governo, pois mais pessoas podem sofrer com a ampliação do espaço e sua maior utilização. "Não queremos acordos com estrangeiros, pois os moradores são sempre deixados de lado e não usufruem do avanço", afirmou. Ele ainda lembrou que a taxa de analfabetismo, próxima a 80% da população da cidade, permanece praticamente inalterada hoje em dia.



Dia 6 de novembro

Marcha abre oficialmente o Fórum Social Brasileiro

Reunindo aproximadamente duas mil pessoas de diversas partes do país, a marcha de abertura do primeiro Fórum Social Brasileiro durou pouco mais de uma hora. Saindo das praças da Rodoviária (também conhecida como Rio Branco), Sete e Raul Soares, no centro, ainda sob a fina chuva que caiu em Belo Horizonte durante todo o dia, os manifestantes começaram sua caminhada às 17hs - duas horas depois do previsto.

Os três grupos se uniram na Avenida Olegário Maciel, pela qual seguiram animadamente até a praça diante da Assembléia Legislativa da capital mineira. O cansaço provocado pelas ladeiras não desanimou os participantes, que ainda assistiram a um show de um coral e ouviram discursos de autoridades federais, estaduais e municipais, cuja recepção foi sempre dividida, ouvindo-se tanto aplausos quanto vaias.

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