Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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No Brasil, são registrados em média 7 mil novos casos de leucemia por ano. No entanto, o atendimento está longe de ser adequado e suficiente para todos os pacientes, assim como a saúde pública em geral no país. Os pacientes de leucemia, entretanto, podem contar agora com uma grande mobilização da sociedade civil organizada para melhorar a qualidade de tratamento dessa doença. O Projeto Nacional para Transplante de Medula Óssea pretende garantir que todos os profissionais e instituições responsáveis por esse processo atuem de forma interligada e otimizem a dinâmica de doações, recebimentos e realizações dos transplantes de medula.
A iniciativa é da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e da Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta), que apresentaram o projeto, no último dia 5 de novembro, para representantes dos principais hospitais brasileiros que possuem unidades onco-hematológicas, além de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Registro de Doadores de Medula Óssea (Redome), do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A intenção da apresentação foi preparar essas instituições para acompanharem o crescimento do fluxo de doações de medula óssea, que deverá ocorrer com o início da veiculação da campanha publicitária para o projeto, em abril de 2004. A campanha será veiculada, ao longo de um ano, em diversos meios de comunicação, em dez estados distribuídos por todas as regiões do país. A mensagem será no sentido de atrair novos doadores voluntários. "Queremos garantir que todos os hemocentros responsáveis estejam equipados e aptos a fazerem a coleta de medula", afirma Merula Steagall, presidente da Abrale e da Abrasta.
De acordo com Steagall, desde o lançamento do projeto, no início deste mês, está em andamento a implementação das medidas necessárias para que os hospitais estejam preparados para receber o fluxo dos novos doadores. As instituições começaram a capacitar seus funcionários e a contratar novos profissionais qualificados, a fim de melhorarem o processo de captação de doadores e todas as etapas do transplante.
Melhorias na infra-estrutura e no tratamento
O Projeto Nacional para Transplante de Medula Óssea buscará unificar esforços das equipes multiprofissionais e científicas dos hospitais e todos os setores responsáveis do governo. "Vamos reunir todos os recursos que existem sobre o assunto e incentivar a viabilização de novos", afirma Steagall. De acordo com o projeto, todas as partes envolvidas no processo de transplante de medula óssea no Brasil - cadastro, doação, captação, logística e demais programas envolvidos - deverão assumir as suas responsabilidades e atuar em conjunto.
A campanha pretende aumentar o número de doadores no banco nacional de voluntários – o Redome – dos atuais 50 mil para um milhão de pessoas até o final de 2005. Com o aumento de voluntários doadores, será possível aumentar também o número de transplantes não-relacionados (de pessoas que não são da família do paciente) e, consequentemente, as chances de cura. Mas, para isso, é necessário, entre outros investimentos, expandir o número dos centros de transplantes. Apenas três instituições no país, credenciadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), realizam transplantes não-relacionados: o Inca, o Hospital das Clínicas de São Paulo e o Hospital das Clínicas de Curitiba. De acordo com dados do Inca, 1.500 pacientes esperam na fila por um transplante. Cerca de 400 deles têm doador identificado mas esperam leito para realizar o procedimento.
É necessário, também, disponibilizar o maior número possível de hemocentros para a recepção de medula. "Qualquer hemocentro pode coletar medula. Mas não é o que acontece. Muitos hemocentros alegam que não têm pessoal nem a infra-estrutura necessária para fazer a coleta", diz Steagall.
A situação dos laboratórios que fazem o teste de HLA (que verifica a genética do doador e a compatibilidade com o paciente) não é diferente. Existem no país, hoje, apenas 40 laboratórios credenciados que realizam esse teste. Muitos estão ociosos e outros não podem trabalhar com sua capacidade máxima, ou porque não têm verba ou por falta de amostras para os exames.
O tratamento do câncer no Brasil é financiado pelo governo, mas os recursos disponibilizados não atendem a toda a demanda. Além da falta de centros de transplantes e da estrutura deficiente para a realização da coleta de medula e dos exames, são muitos os problemas a serem solucionados. Entre eles, a escassez de verbas para a compra de medicamentos, para que os hospitais possam internar e manter todas as pessoas que precisam de tratamento quimioterápico.
Reivindicações e próximos passos
Para garantir que a campanha em 2004 seja um sucesso, a Abrale apresentou algumas reivindicações ao Ministério da Saúde. Foram solicitados investimentos para aumentar o número de laboratórios, melhorar a eficácia da estrutura de recepção e de doação de medula, treinar as equipes dos hemocentros, criar novos centros de tratamento e transplante e custear medicamentos e despesas.
A Abrale pretende concluir ainda um cadastramento nacional de todos os centros onco-hematológicos do país, a fim de possibilitar o conhecimento da estrutura disponibilizada por cada uma dessas unidades. A organização também utilizará o cadastro para fazer contatos com as equipes dos hemocentros e convidá-los para encontros, reuniões, conferências e seminários, para, assim, afinar a sintonia entre as partes envolvidas. "Vamos fortalecer o transplante como um todo", acredita a presidente.
O cadastro está disponível na página da Abrale (veja link ao lado), que, aliás, contém muitas informações sobre o tratamento da leucemia e do linfoma e acerca do transplante de medula óssea no Brasil. Outras informações, pelo correio eletrônico abrale@abrale.org.br e pelo telefone (11) 3331-6038.
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