Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Artigos de opinião
Pólita Gonçalves*
A questão do lixo no Brasil é um problema não só ambiental, mas principalmente social e econômico. Ambiental pelas razões óbvias de impacto negativo que a disposição inadequada pode causar. E, por outro lado, a produção dos materiais - embalagens e outros bens de consumo que cedo virão a ser lixo - demanda a extração dos recursos naturais esgotáveis.
Porém, é no aspecto social que precisamos nos debruçar com mais afinco para dar conta da complexidade inerente à questão do lixo. De um lado temos o nosso padrão de geração de resíduos resultante de um padrão de consumo cada dia mais intenso e perdulário; e, do outro, temos a exclusão social de milhares de catadores que encontram no lixo um caminho de sobrevivência colocando o Brasil em primeiro lugar no ranking mundial de reciclagem de alumínio.
Há catadores de todo tipo: desde autônomos catando em lixões ou rasgando sacos na rua, até cooperativados e autogestionários prestando serviço de coleta seletiva de qualidade de forma articulada e organizada, gerando trabalho e renda. Eles estão organizados a nível nacional no Movimento Nacional dos Catadores, têm apoio de diversas ONGs e estão articulados em fóruns em busca de consolidar a sua participação nos programas municipais de coleta seletiva.
O aspecto econômico assim se escancara: o poder público, ao elaborar políticas públicas de apoio ao desenvolvimento da coleta seletiva e solidária – aquela realizada pelos catadores - economiza enorme quantidade de recursos, aumentando inclusive a vida útil dos novos aterros sanitários cujo investimento é altíssimo e ampliando as frentes de trabalho autogestionário. Esta posição proativa é fundamental para combater a injustiça que existe no círculo perverso onde todos os atores da cadeia produtiva contribuem para a não sustentabilidade.
Por parte dos geradores - que somos todos nós -, para construirmos o círculo virtuoso da reciclagem, é imperativo separar o material reciclável na fonte tendo antes procurado diminuir a geração de resíduos evitando desperdícios e praticando o consumo consciente. Desta forma, considerando que o lixo é como um diamante lapidado, fica o convite de encarar o problema do lixo de forma complexa, prestando atenção às suas diversas facetas, de modo transdisciplinar e corajoso.
*Pólita Gonçalves é fundadora da ONG Lixo.Consulting (www.lixo.com.br), consultora sobre lixo reciclável e autora do livro “A reciclagem integradora dos aspectos ambientais, sociais e econômicos”, recém-lançado pela FASE e pela DP&A Editora.
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados. |
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