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Questões contemporâneas do racismo

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor





Foto: Questões contemporâneas do racismo


Mitos como o da democracia racial e da inexistência do racismo no Brasil perdem força quando são feitas avaliações profundas sobre a real situação da população negra no país. Algumas dessas avaliações estão reunidas no livro "Racismos Contemporâneos", lançado durante a semana da consciência negra pela Takano Cidadania, em parceria com a Ashoka Empreendedores Sociais. O livro, que traz o pensamento de lideranças do movimento negro sobre a situação dos afro-brasileiros, inaugura a série "Valores", com o tema "Não Discriminação", da Coleção Valores e Atitudes (que foi inaugurada em setembro com a publicação do livro "Da Favela para o Mundo", do coordenador do Grupo Cultural Afro Reggae, José Junior).

"Racismos Contemporâneos" é uma obra inédita na discussão sobre o assunto no país. "É a primeira coletânea com textos só de autores negros, que militam contra o preconceito em diversos setores da sociedade e abordam a questão racial no Brasil", diz Marta Porto, diretora da Takano Cidadania, que comenta que o racismo é uma questão ainda pouco discutida na sociedade brasileira.

No livro estão reunidos ensaios de 11 autores negros, empreendedores sociais da Ashoka, ligados às questões raciais no Brasil, com enfoque para a cultura, educação, política e situação socioeconômica, ou seja, as várias configurações do racismo no Brasil de hoje. São autores do livro: Alzira Rufino, Jurema Werneck, Sueli Carneiro, Diva Moreira, João Jorge Santos Rodrigues, Maria Aparecida Bento, Normando Batista Santos, Berenice Kikuchi, José Marmo da Silva, Jairo Pereira de Jesus e Regina dos Santos. O prefácio é de Muniz Sodré, jornalista, escritor e professor universitário, e a abertura, do pesquisador e economista Ricardo Henriques.

Os textos aprofundam as raízes culturais e históricas do racismo, com temas sobre questões de gênero e raça, a ausência de políticas públicas, o uso da imagem dos negros e negras pela mídia, o preconceito contra as religiões afro-brasileiras, entre outros. São quatro capítulos: "Racismo e seus impactos", "Racismo e políticas públicas", "Racismo, saúde e empreendedorismo" e "Racismo e intolerância".

A desigualdade racial é apontada no livro como um dos principais desafios da agenda social, econômica e política do país. "É preciso que o governo assuma que a questão racial é prioridade política, pois afeta gravemente mais da metade da população no Brasil", ressalta a presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra, Alzira Rufino, cujo texto em "Racismos Contemporâneos" apresenta dados da desigualdade racial no país e destaca que as mulheres negras foram excluídas dos avanços feministas.

Jurema Werneck, fundadora da Criola – Organização de Mulheres Negras, também acha que o governo deveria ter um comprometimento muito maior com a questão racial. "Há 500 anos estamos na luta, que ocupa novas frentes. Mas ao olharmos o panorama social e o grau de violência que o neoliberalismo traz embutido, estamos realmente muito mal", diz. No livro, o texto de Jurema afirma que as ações de enfrentamento do racismo e pela igualdade racial necessitam de várias frentes, mas que participar dele é um imperativo ético.

Para Diva Moreira, consultora de questões raciais e de gênero do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), existem avanços significativos na luta contra o racismo, que deverão contribuir para reduzir as desigualdades raciais no país. Em seu texto na publicação, Diva defende estratégias políticas que possibilitem a superação das disparidades raciais. A consultora do PNUD acha que a sociedade brasileira e o Estado estão um pouco mais permeáveis às demandas dos negros por direitos, o que pode ser observado com a criação de políticas públicas específicas para o segmento da população negra e uma maior cobertura feita pela mídia sobre a temática racial.

"Apesar de saber que as desigualdades raciais estão na base da sociedade e do estado, ou seja, são estruturantes e estão entranhados na cultura brasileira, tenho a convicção de que serão superadas em um futuro não muito distante, espero. Dependerá muito do modo como os brancos irão reagir a mudanças que afetarão seus privilégios e o poder incontestável que sempre exerceram sobre os não-brancos", acredita.

Com tiragem de cinco mil exemplares, o livro "Racismos Contemporâneos" será distribuído gratuitamente para entidades públicas governamentais, ONGs, bibliotecas, veículos de comunicação e formadores de opinião. Quem quiser adquirir o livro, pode solicitá-lo pelo telefone (21) 2553-6620.

Mariana Loiola

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