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Palmas no nome e no merecimento

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Existe um banco para o qual ser "boa gente" é um dos principais requisitos para se candidatar a um empréstimo de microcrédito. Não é a consulta às listas do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e do Serasa que dizem se a pessoa merece crédito ou não; são os seus vizinhos. Esse é o Banco Palmas, do Conjunto Palmeira, favela da periferia de Fortaleza.

"Nós vamos aonde o sujeito mora e procuramos saber quem ele é, como se relaciona e se é uma pessoa responsável. Falamos com os vizinhos, com o vendedor do boteco ao lado, com quem está jogando futebol ali perto. Nas comunidades todo mundo se conhece, por isso, os vizinhos nunca erram", conta Joaquim de Melo Neto Segundo, coordenador do Banco Palmas. A partir daí, antes de decidir sobre o financiamento, o Banco analisa se o empreendimento proposto é economicamente viável e se atende à demanda local.

O Banco Palmas foi criado em 1997 como uma estratégia da Associação dos Moradores do Conjunto Palmeira para melhorar as condições de vida da população local, que hoje é formada por 30 mil habitantes. A Associação luta desde 1981 (ano da sua fundação) para promover melhorias na região. A urbanização garantiu para o bairro uma melhor infra-estrutura, mas não possibilitou condições aos moradores de pagarem as taxas de serviço de energia elétrica, saneamento etc. – a maioria continuava desempregada. "Eles vendiam suas casas e iam morar em outras favelas", diz o coordenador.

A Associação constatou que em torno de 90% dos moradores não haviam concluído o ensino fundamental e tinham renda familiar de até um salário mínimo. Além disso, não tinham acesso às linhas oficiais de crédito, pois não dispunham das garantias exigidas para conseguirem um empréstimo, como comprovação de renda e fiador. "Até hoje o governo não criou um projeto de crédito para os mais pobres. O sistema financeiro oficial não é para essa gente", diz Joaquim. A idéia de desenvolvimento de um banco popular de inclusão social surgiu como solução para esse problema e, conseqüentemente, para amenizar a pobreza, a miséria e diminuir o desemprego na região.

A concessão do empréstimo é feita sem exigências burocráticas e a juros muito baixos. E a cobrança e o monitoramento ficam por conta da comunidade, pois, conforme explica Joaquim, enquanto um não paga o débito, não dá para emprestar para outro. Assim, a taxa de inadimplência se mantém em no máximo 3%.

Além do sistema alternativo de crédito, o Banco Palmas desenvolve outras atividades com o objetivo de oferecer condições aos empreendedores de serem bem sucedidos em seus pequenos negócios. Entre elas estão as empresas comunitárias Palmafashion (de confecção de roupas), a Palmart (de artesanato) e a Palmalimpe (que produz materiais de limpeza); a Palmatech, uma escola de capacitação profissional; e a Palmacasa, uma linha de crédito para pequenas reformas em moradias a fim de melhorar condições de produção. Há também a Incubadora Feminina, um espaço onde mulheres desempregadas ou com problemas de saúde e baixo nível de instrução recebem durante nove meses assistência social, psicológica e médica, e participam de cursos profissionalizantes e de oficinas de gênero e sexualidade. Somente após esse período elas podem receber empréstimos de microcrédito para desenvolverem seus próprios negócios.

Porém, a lógica do Banco Palmas entende também que não basta incentivar a produção, deve haver quem consuma os produtos. Para estimular os moradores a consumirem os produtos da própria comunidade, o Banco oferece o Palmacard, um cartão de crédito que não cobra taxa de administração e que pode ser usado nos estabelecimentos conveniados na comunidade. O Banco conta ainda com uma moeda própria, o Palma, que circula dentro do próprio bairro.

Segundo Joaquim, são cerca de 350 empregos diretos e três mil pessoas beneficiadas pelas ações do Banco Palmas, que tem servido como referência para a prefeitura de Fortaleza na criação de uma rede de economia solidária entre as famílias atendidas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).

Novos planos e metas

Uma das pessoas beneficiadas pelo Banco Palmas é Taciana Barros, de 19 anos, que atua na área de marketing e produção da Palmalimpe desde 2001. Quando estava desempregada, ela procurou o Banco e participou de uma capacitação na Palmatech. Taciana, que está para concluir o segundo grau, diz que a oportunidade a estimulou a fazer muitos planos. "Antes eu pensava em terminar os estudos e ir trabalhar em uma fábrica. Hoje eu quero fazer faculdade de marketing ou comunicação e abrir minha própria empresa", anima-se.

Não são apenas os jovens que fazem planos. A costureira Marinete da Silva, de 48 anos, realizava os seus trabalhos precariamente. Depois que passou a fazer parte da Palmafashion, suas produção e renda tiveram um grande crescimento. "Tive que botar outras pessoas para trabalharem comigo para dar conta das encomendas", diz Marinete, que também pretende abrir a sua empresa.

A procura para obter um microcrédito do Banco Palmas é grande, mas atualmente estão disponíveis apenas 30 mil reais, que provêm principalmente de doações da cooperação internacional. Mas o Banco está em busca de novos recursos para aprimorar os seus projetos e alcançar a meta de geração de 1.500 empregos. "Podemos acabar com o desemprego na comunidade", sonha e garante Joaquim.

Outras informações sobre o Banco Palmas, pelo telefone (85) 250-8279 ou 269-3800.

Mariana Loiola

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