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Pela ótica da inclusão

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor





Foto: Pela ótica da inclusão

No momento de abordar a realidade das pessoas com deficiência – que totalizam mais de 24 milhões de brasileiros e brasileiras, segundo dados do Censo 2000 do IBGE – a mídia demonstra um grande desconhecimento sobre os avanços no campo dos direitos desses indivíduos. Por esse motivo, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e a Fundação Banco do Brasil (FBB) elaboraram a publicação Mídia e Deficiência. A obra foi apresentada no último dia 3 de dezembro, durante o I Encontro de Conselhos de Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, em Brasília (DF). O principal objetivo do livro é ajudar os jornalistas a melhorarem a cobertura sobre o tema.

O livro inclui recomendações para o aprimoramento da abordagem dos diversos aspectos da inclusão social das pessoas com deficiência. As diretrizes indicadas foram elaboradas a partir de uma análise, realizada pela Andi, da atuação da mídia impressa, por meio de uma série de matérias publicadas nos principais jornais e revistas do país. A pesquisa constatou o despreparo da mídia no tratamento da questão. "A construção da notícia ainda é feita pela ótica da caridade", diz Severino Francisco, editor do livro e colaborador da Andi. O preconceito também aparece quando a mídia transmite a idéia de que a pessoa com deficiência é problemática, o que contribui para a exclusão, segundo Jacques de Oliveira Pena, presidente da FBB, que desenvolve um programa voltado para as pessoas com deficiência – o Diversidade.

Inclusão social: uma nova abordagem

De acordo com o editor, o livro traz um conceito muito pouco conhecido pelo público em geral, inclusive pelos profissionais da mídia: inclusão social das pessoas com deficiência. Severino explica que, historicamente, as pessoas com deficiência era marginalizadas da sociedade e as políticas públicas eram voltadas para a segregação institucional dessas pessoas, que eram mandadas para asilos ou outros lugares de reclusão. Depois veio o modelo de integração, que procurava criar estímulos pedagógicos para adaptar as pessoas à sociedade. Esse modelo é adotado até hoje por diversas instituições.

O conceito de inclusão é o mais recente e representa uma tentativa de avanço quanto à questão. De acordo com esse novo conceito, é a sociedade que tem que se adaptar para receber essas pessoas. Em outras palavras, a sociedade deve ser inclusiva, comportando toda a diversidade dos seres humanos - sem que, para isso, precise haver qualquer tipo de diferenciação no modo como os indivíduos são tratados ou nas oportunidades que lhes são oferecidas. Deve haver a preparação das famílias, escolas, ambientes de trabalho, espaços públicos e sistemas de comunicação para incluírem essas pessoas, pois estas são consideradas sujeitos de direitos, sob a perspectiva dos direitos humanos. "Mesmo se a mídia quisesse realizar uma boa cobertura, não poderia, pois está desatualizada em relação a essa nova visão. Esse desconhecimento é compreensível, pois ainda é muito restrito a um pequeno universo de especialistas. Daí a importância de esses conceitos serem difundidos", diz Severino.

Além dos jornalistas, a pesquisa da Andi constatou que as fontes também estão defasadas a respeito dos novos conceitos. "Mesmo quando as próprias pessoas com deficiência e seus familiares, e até mesmo as instituições que atuam nessa área, são ouvidas, esses novos paradigmas não aparecem nas matérias", diz Severino. Assim, as informações contidas no livro também serão bastante úteis para as fontes - tanto organizações quanto pessoas com necessidades especiais - que poderão incorporar um conceito mais amplo à forma como lidam com o assunto.

Guia e recomendações

A publicação serve como material de apoio, que contém inclusive um guia de fontes para os jornalistas, com endereços e contatos de instituições e especialistas que tratam do assunto. Entre as recomendações, o livro sugere que os jornalistas procurem não subestimar as pessoas com deficiência, tampouco tratá-los como heróis, e utilizem o mesmo rigor utilizado em outros tipos de matérias. "É comum alguns jornalistas ficarem tocados emocionalmente com o assunto e, por isso, não usam o mesmo rigor na apuração da matéria", diz Severino. Há também recomendações sobre a linguagem adequada. A publicação explica, por exemplo, que usar o termo "deficiente" para designar as pessoas que têm necessidades especiais não é adequado, pois reduz a pessoa a apenas uma característica. O ideal seria empregar a expressão "pessoa com deficiência".

Jacques espera que o livro contribua para aumentar o espaço de abordagem sobre a questão na mídia e para melhorar a qualidade das matérias. Para o presidente da FBB, a mídia tem um papel importante de cobrar do poder público ações relativas à questão da acessibilidade, por exemplo. "É preciso que a mídia valorize essas pessoas como capazes de serem incluídas na sociedade", diz.

Com a tiragem de 10 mil exemplares, o livro será distribuído gratuitamente para a imprensa, ONGs, bibliotecas públicas e instituições especializadas de todo o país. Para solicitar o livro, deve-se entrar em contato com a FBB, pelo telefone (61) 310-1900 ou pelo correio eletrônico diversidade@fbb.org.br.

Mariana Loiola

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