Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Os cangurus, marsupiais típicos da Oceania, são conhecidos principalmente por causa de duas características: andam aos pulos e carregam seus filhotes em uma bolsa na parte frontal do corpo, junto ao que seria o ventre da mãe. Foi justamente esta última característica do animal que inspirou um método inovador e cada vez mais difundido de tratamento de recém-nascidos prematuros - o Método Mãe Canguru, objeto de um projeto da Fundação Orsa, em parceria com o Ministério da Saúde e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A prática surgiu na Colômbia em 1979, a fim de diminuir a mortalidade neonatal. Colocando-se o recém-nascido contra o peito da mãe, isso promoveria maior estabilidade térmica, substituindo as incubadoras, permitindo alta precoce, menor taxa de infecção hospitalar e, conseqüentemente, melhor qualidade do atendimento às crianças e às mães.
No Brasil, a posição canguru começou a ser aplicada no hospital Guilherme Álvaro, em Santos (SP), e no Instituto Materno e Infantil de Pernambuco, em Recife (PE). Em julho de 2000, o Método Mãe Canguru foi transformado em política pública pelo Ministério da Saúde, através da portaria número 693, que estabelece a Norma de Orientação para a Implantação do Projeto Mãe Canguru. A metodologia passaria, então, a ser implantada nos hospitais do Sistema Único de Saúde que estivessem capacitados para aplicá-la.
É nessa etapa que entra a Fundação Orsa. O trabalho da instituição é capacitar funcionários dos hospitais públicos onde o método está sendo implantado, dando orientações a profissionais de medicina e enfermagem sobre como realizar um atendimento completo às mães e às crianças. Sensibilizar para a delicadeza e as particularidades do método está entre os temas abordados na capacitação.
Bom, bonito e barato
A posição canguru consiste em colocar os recém-nascidos verticalmente, com o mínimo de roupa possível, junto ao peito das mães. Desse modo, não só a mãe transmite o calor necessário à criança, como reforça os laços de afetividade entre os dois. Mãe e filho ou filha se conhecem melhor e o desenvolvimento e a recuperação do bebê são facilitados e apressados devido à relação com a mãe. "O que chama a atenção é a intensificação da relação mãe-filho e a recuperação mais rápida", aponta como principais vantagens do método Marilena Ninomiya, coordenadora da área de saúde da Fundação Orsa.
A troca de estímulos entre mãe e crianças vai muito além do simples aquecimento da criança - o que, na maioria dos hospitais, é feito nas incubadoras. Ao ouvir o batimento do coração da mãe, o da criança "lembra" de bater; ao sentir o respirar da mãe, o sistema respiratório do bebê "lembra" de funcionar; e aí por diante. Além disso, a mãe sente e escuta mais os sons produzidos pelo bebê, podendo identificar mais rápida e facilmente quando ele está com dor, fome, dificuldade etc.
Como os estímulos são mais presentes para o bebê, a sua recuperação é facilitada e apressada - trazendo não só o ganho de saúde para a criança ou o ganho de segurança para a mãe. A metodologia também diminui o tempo de internação, o que, por sua vez, significa menos gastos com saúde pública. Como define Marilena, o método se mostra "bom, bonito e barato: bom porque é eficaz; bonito porque vemos claramente o estreitamento da relação mãe-filho, ou avó-neto, ou pai-filho etc.; e barato porque, ao se apressar a recuperação, reduz-se o tempo que a criança e a mãe ficam internados, ocasionando menos gastos para os hospitais, menos uso de aparelhos etc."
Considerando que o trabalho da Fundação Orsa é realizado em hospitais públicos, isso significa também melhor uso do dinheiro de cidadãos e cidadãs. Porém, o método não é implementado em toda a rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS), apenas naqueles mais aptos a aplicar o procedimento de Atendimento ao Recém-Nascido de Baixo Peso. Desde 2001, quando foi assinada a parceria, a Fundação Orsa já capacitou aproximadamente 3.400 agentes de 13 estados brasileiros. Atualmente, 396 maternidades desenvolvem o Método Mãe Canguru. "Não basta dar a orientação para colocar a criança junto ao corpo da mãe; os hospitais precisam passar por alguma orientação", diz Marilena, lembrando que o treinamento dos novos agentes tem duração de 40 horas-aula. Existem ainda sete Centros de Referência [cuja localização pode ser lida no box ao lado], que funcionam como multiplicadores do método. São funcionários destes centros que fazem a capacitação nas novas maternidades que vão aplicar a metodologia.
Acompanhamento anterior ao nascimento
A coordenadora da área de saúde da Fundação Orsa explica que a sensibilização das mães para a possibilidade de aplicarem o Método Mãe Canguru começa antes mesmo do parto. "Aquelas mulheres que estejam fazendo o pré-natal na rede pública e que apresentem potencial para terem filhos prematuros - como as mães com pressão alta, de idade avançada, adolescentes etc. - são aconselhadas a procurarem as maternidades que aplicam a metodologia", assinala Marilena. Nos hospitais, as mulheres são conscientizadas do que pode vir a acontecer, de que o bebê prematuro não é doente e que, caso isto ocorra, não é nenhum absurdo.
Além de conseguir ajudar mães e pais a compreenderem a situação e a colaborarem para a recuperação de seus filhos prematuros, o método conseguiu também um feito louvável em se tratando de programas governamentais: com a troca na gestão federal, a metodologia foi mantida pelo Ministério da Saúde, com o mesmo estímulo e as mesmas condições que gozava nos anos anteriores. "Isso com certeza é um ponto positivo para o método", orgulha-se Marilena, já se preparando para o I Simpósio Internacional do Método Mãe Canguru, que acontecerá em novembro de 2004.
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