Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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No que diz respeito à difusão do conceito de acessibilidade, o Brasil está à frente de todos os outros países da América do Sul, mas muito aquém do resto do mundo. É o que defende Guilherme de Azambuja Lira, presidente da Acessibilidade Brasil, instituição sem fins lucrativos que, por meio da informática, desenvolve estudos e projetos que privilegiem a inclusão social e econômica das pessoas com deficiências. A acessibilidade à Internet é parte integrante do projeto brasileiro de inclusão digital para as pessoas com necessidades especiais; no entanto, apenas 1% das páginas públicas é plenamente acessível no nosso país. "Espero que daqui a um ano esse número aumente", diz Guilherme, que conta com a efetivação da Lei de Acessibilidade, de 2000, e aposta no trabalho da entidade que comanda, que começa 2004 com avanços importantes na área.
O envolvimento de Guilherme na área da deficiência começou há sete anos quando ele começou a prestar serviços de informática para o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). "Minha formação é tecnológica; eu não conhecia nada sobre deficiência, então passei a estudar sobre o tema". Depois seguiram-se trabalhos para outros projetos e instituições, como o Instituto Benjamin Constant (que trata de pessoas com deficiência visual). "Me envolvi tanto no assunto que resolvi criar uma organização voltada para a acessibilidade", conta. Durante a 1ª Oficina de Inclusão Digital, realizada há três anos em Brasília, com a troca de contatos e informações, Guilherme se preparou para colocar a sua idéia em prática.
Fundada em 2002, a Acessibilidade Brasil reúne hoje especialistas da área de educação especial, ensino, engenharia, administração de empresas, arquitetura, desenho industrial, análise de sistemas e jornalismo. Suas ações são voltadas para a disseminação das normas nacionais e internacionais de acessibilidade; o desenvolvimento de conteúdos de interesse específico para a área de deficiência, nos setores de serviços e promoção da cidadania; implementação e manutenção de páginas na Internet que atendam às necessidades especiais de pessoas; disponibilização de conteúdo em formatos alternativos, como em Língua Brasileira de Sinais (Libras), Braille etc.; entre outras atividades.
Foi a Acessibilidade Brasil, por exemplo, que criou a página da Escola de Gente, organização não-governamental voltada para a comunicação a serviço da inclusão de grupos vulneráveis na sociedade, principalmente de pessoas com deficiência. A jornalista e diretora-executiva da Escola de Gente, Claudia Werneck, faz questão de expressar a sua confiança na parceria. "Eu fico tranqüila de a nossa página estar sob a responsabilidade da Acessibilidade Brasil. Venho acompanhando o empenho deles na meta de avançar na acessibilidade à informática e Internet para todos os brasileiros e brasileiras e vejo que existe muita afinidade entre as duas organizações. Espero que possamos estreitar ainda mais nossa parceria", diz Claudia.
Os resultados
Em dois anos de atividades, a Acessibilidade Brasil recebeu em torno de 200 webdesigners de organizações não-governamentais e da área pública para participarem de seus cursos de capacitação e disponibilizou cerca de 200 livros didáticos em Braille na Internet, além do Dicionário Libras, que foi distribuído para 15 mil escolas. O projeto TLibras - ainda em andamento e dependendo de recursos - também deverá ser muito útil nas salas de aula. O TLibras é focado na construção de um tradutor de informações em português de origem textual ou sonora para Libras, por meio de sinais animados e apresentados via computador, com o objetivo de permitir que a pessoa com surdez tenha pleno acesso a meios de comunicação e entretenimento.
"Da Silva" é o nome do projeto mais recente lançado pela instituição. Trata-se do primeiro avaliador nacional de páginas de Internet para o quesito de acessibilidade. O programa de computador "lê" a página e acusa, em um relatório, todos os elementos fora das regras de acessibilidade. Além de avaliar, o "da Silva" (também disponível em inglês e português de Portugal) ainda ajuda na construção e na manutenção de páginas. Desde o lançamento do programa, em 18 de dezembro, foram feitas cerca de 600 avaliações.
Novo recurso para a inclusão
"Problema maior que a deficiência no nosso país é a baixa escolaridade", diz Guilherme sobre a questão da exclusão digital. Com esse pensamento, a Acessibilidade Brasil parte agora para um novo desafio: a entidade acaba de dar início a um projeto pioneiro, que visa a amenizar o problema da exclusão causada pela baixa escolaridade. "A maioria dos brasileiros com deficiência não sabe ler nem escrever. Essa é uma demanda tipicamente brasileira; a Europa não tem esse problema. Por isso, desenvolvemos o primeiro projeto de acessibilidade no mundo que contemplará essa questão", afirma o presidente.
O novo projeto tem como objetivo desenvolver mecanismos de acessibilidade, que contenham uma linguagem mais simplificada, para pessoas de baixa escolaridade. "A idéia é que, tendo que passar por apenas duas ou três etapas, a pessoa obtenha a informação que procura". Esse software deverá ser implementado, primeiramente, em telecentros. Guilherme acredita que, até o próximo mês de julho, a instituição poderá disponibilizar um conjunto de normas para profissionais responsáveis pela construção de páginas públicas. Essas normas deverão ainda ser incluídas no "da Silva" e se constituirão em mais um recurso que beneficiará não apenas os cerca de 24,3 milhões de brasileiros com deficiência, mas todos os excluídos do acesso às novas tecnologias de informação e comunicação.
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