Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
Melhores maneiras de lidar com pessoas com deficiências adultas e idosas serão discutidas durante o I Congresso Brasileiro sobre Envelhecimento e Deficiência Mental, que acontece de 12 a 15 de fevereiro em São Paulo. Organizado pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo (Apae-SP), o evento pretende reunir profissionais da área de saúde mental do Brasil e do exterior para refletir sobre ações e políticas sociais voltadas para pessoas com deficiência que já estejam com idade avançada [veja formas de participação no box ao lado].
O congresso, apoiado pelo Ministério da Saúde e a Unesco, terá oficinas durante todo o primeiro dia, enquanto os demais serão preenchidos com conferências, mesas-redondas e palestras que complementarão umas às outras. Os temas das oficinas são: atividades físicas, esporte, lazer, arte, teatro e jogos dramáticos, família, relacionamento entre pessoas de diferentes idades, sexualidade e sistemas da memória.
Entre os conferencistas previstos estão Tamar Heller, chefe do Departamento de Desenvolvimento Humano e Deficiência da Universidade de Illinois (EUA), a assessora do Departamento de Assuntos Sociais e Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, Ana Maria Simeoni, e o representante do Instituto de Migrações e Serviços Sociais da Espanha, Balbino Martínez. Do Brasil, foram chamados nomes como a doutora em psicologia escolar da Universidade de São Paulo Anita Liberalesso Néri, a doutora em estudos populacionais pela Escola de Economia de Londres Ana Amélia Camarano e o doutor em neurologia José Salomão Schwartzman. “Todos que trabalham com o assunto no Brasil foram chamados”, diz Edgilson Tavares, um dos organizadores do evento e membro do Instituto Apae, órgão de pesquisa da Apae.
As falas dos participantes abordarão assuntos como qualidade de vida, interdisciplinaridade no tratamento, formas de aumentar a longevidade das pessoas com deficiência e bioética.
O tema
“Essa é uma questão muito pouco discutida no país. Havia vários mitos em torno do envelhecimento de pessoas com deficiência”, afirma Luciana Mendonça, da área de desenvolvimento institucional da Apae de São Paulo. Entre os mitos está a afirmação de que deficientes morrem cedo, pois a doença traria degenerações. “É uma lenda gerada pela falta de estudos tanto no Brasil quanto no exterior. Hoje já sabemos que a deficiência mental não causa morte. Outras patalogias foram descobertas e tratadas. O trabalho preventivo também foi desenvolvido”, diz Tavares.
De acordo com o Censo 2000, há 2,8 milhões de pessoas com deficiência mental permanente no Brasil. Destas, 572 mil têm 60 anos ou mais. Apesar de constituírem um grupo representativo, recebem pouca atenção do governo. Isso gera uma grande preocupação nas pessoas que tratam de seus problemas e procuram soluções.
“O que fazer com eles daqui a 5, 10, 20 anos? Qual futuro eles terão com essa falta de estrutura?” pergunta Tavares.
Segundo o organizador do congresso, essa parcela da população sempre foi excluída da escola, do trabalho e do sistema de saúde. Mas, com o passar do tempo, esses problemas se agravam, pois idosos, mesmo os que não apresentam deficiência, são deixados de lado. Uma das causas apontadas são os mitos criados em torna da deficiência, mas a falta de estudo também seria um grave obstáculo, que precisa ser superado já. Como exemplo do atraso, Tavares cita o trabalho de uma das palestrantes, a norte-americana Tamar Heller, que desde o começo dos anos 90 estuda a questão.
Segundo os organizadores do evento, é preciso mais atenção por parte do poder público para os idosos, principalmente aqueles com deficiência mental. “As cidades têm de ser mais acessíveis, oferecer facilidades. O sistema de saúde demanda melhorias”.
Quem também necessita melhorar são as famílias, de acordo com Tavares. Segundo ele, eram raros os casos de pessoas com deficiência envelhecendo em casa. Agora, porém, é mais comum, e a tendência é aumentar. Por isso ele se diz contente ao verificar que, até agora, 40% dos inscritos no congresso não são especialistas, mas, sim, pessoas com relação de parentesco ou afetividade com portadores de necessidades especiais. “É uma chance de adquirirem mais experiência e aprenderem coisas novas”, afirma.
O congresso foi pensado para o grande público, mas o foco são mesmo os profissionais de saúde - como médicos e enfermeiros - e outros, como educadores e psicólogos. A idéia de sua realização nasceu em 1999, quando o Instituto Apae intensificou os estudos nessa área. Dois anos depois, foi fundado o Centro Sócio-Ocupaciona Zequinha, onde pessoas idosas com deficiência são atendidas. No ano passado, alguns membros do Instituto Apae participaram do segundo Congresso Europeu sobre Envelhecimento e Deficiência Mental e decidiram realizar um evento semelhante no Brasil. Aos que não tiverem como participar, resta o consolo de poderem aproveitar no futuro, ainda sem data definida, o livro que será publicado com as discussões travadas durante o evento.
“Na verdade, esperamos que esse seja o início de um grande movimento. Mais tarde, a intenção é montar alguma rede para produzir informações”, afirma Tavares.
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