Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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O Alô Vida - serviço telefônico da Fundação Orsa que atende a chamadas sobre violência contra a infância, adoção e deficiências - registrou um aumento de 76% de ligações em 2003. Foram mais de 12 mil chamadas; quase o dobro em relação ao ano anterior. O aumento expressivo mostra que o serviço tem se tornado cada vez mais conhecido entre a população, que, por sua vez, exerce uma participação mais ativa na garantia dos direitos das crianças e adolescentes.
As ligações partem desde pessoas que suspeitam de algum caso de violência contra crianças, até das que buscam informações sobre adoção ou procuram serviços na área da deficiência. Atualmente, o Alô Vida dispõe de dois números telefônicos: um em São Paulo, que também atende a chamadas de outros estados brasileiros, e um no Amapá, que atende ao Vale do Jari, que abrange os municípios de Laranjal do Jari, Almerim e Monte Dourado.
O serviço compõe o Programa Respeitar, da Fundação Orsa, junto a outros projetos de enfrentamento da violência envolvendo crianças e adolescentes. Foi criado em 1996 com o nome de Disque Deficiência e só em 2000 passou a atender chamadas referentes a violência e adoção, temas trabalhados em outros projetos da organização. O serviço passou então a se chamar Alô Vida.
A coordenadora do Programa Respeitar, Linda Simone Malak, diz que a maioria dos casos atendidos ainda se refere aos encaminhamentos e orientações sobre deficiência. A procura é, geralmente, de pessoas que precisam de um serviço qualificado na área de deficiência próximo à sua residência. Para indicar o serviço, a equipe faz uma busca num banco de dados, que inclui hoje quase duas mil instituições privadas e do serviço público e ONGs que atendem casos de violência, adoção ou deficiência. Futuramente, esse banco de dados deverá ser disponibilizado pela Internet.
O número de ligações aumenta principalmente durante o período em que a Fundação Orsa veicula campanhas de mobilização da população, como a campanha para adoção tardia, realizada no ano passado. No auge dessas campanhas o serviço chega a receber cerca de 200 ligações por dia. De acordo com a coordenadora, a capacitação promovida pela Fundação Orsa também é responsável pelo crescimento do número de chamadas registradas pelo Alô Vida, pois divulga o serviço entre profissionais de várias regiões do país que atuam no enfrentamento da violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes. Muitas ligações são desses profissionais, que pedem orientação quando se sentem impotentes diante da falta de recursos e não sabem como proceder no atendimento dos casos.
A equipe que atende as chamadas, formada por profissionais capacitados e especializados de psicologia e serviço social, atende qualquer caso de suspeita ou constatação de violação de direitos contra a criança e o adolescente. As denúncias podem ser anônimas e o atendimento é sigiloso. Os casos de violência são encaminhados aos órgãos competentes: conselho tutelar ou vara de infância e juventude do município. Após 15 dias, a equipe volta a entrar em contato com o órgão para saber se o caso foi averiguado, se foi confirmado e que medidas foram tomadas. Segundo a coordenadora, esse retorno representa um diferencial do Alô Vida. "É uma forma de dar uma devolutiva à sociedade". Linda acrescenta que quanto mais informação a pessoa que faz a denúncia tiver, mais facilmente o caso é resolvido.
As informações sobre adoção costumam tirar muitas dúvidas dos candidatos a pais, como as questões sobre adoção tardia e adoção internacional. "Existem muitos mitos em torno da adoção, como o medo de adotar uma criança mais velha. Às vezes desmistificamos o assunto em apenas uma ligação telefônica", diz Linda. Os pretendentes à adoção são encaminhados para a vara de infância e juventude ou para grupos de apoio.
Para a coordenadora, o projeto tem um grande potencial para interferir na formulação de políticas públicas. Ela conta, por exemplo, que em um dos municípios atendidos foi registrado um grande número de casos de mães negligentes que saem para trabalhar e deixam a criança sozinha em casa ou mesmo na rua, por falta de um lugar para deixá-la. "Vimos que faltava educação infantil nesse município e encaminhamos essa demanda para o Ministério Público", diz.
Esse potencial é um dos fatores que colocam o Alô Vida como um dos principais projetos da área de Promoção Social da Fundação Orsa, segundo Sergio Amoroso, instituidor da entidade. "O Alô Vida tem grande importância para a Fundação Orsa, na medida em que fortalece a rede de atendimento à criança e ajuda a instituição a diagnosticar regiões que necessitem de atendimento", afirma.
Linda considera que uma das formas mais importantes de reconhecimento do trabalho do Alô Vida é receber chamadas das próprias crianças. "Tivemos o caso de uma menina de nove anos que ligou para denunciar o pai que não a devolveu à guarda da mãe e ficou quase um mês sofrendo ameaças. Ela soube do Alô Vida pelo projeto social que participava." O resultado do atendimento pelo Alô Vida foi o retorno da menina para casa e o encaminhamento de toda a família para tratamento psicoterapêutico.
Para 2004, o Alô Vida pretende aumentar a sua capacidade de atendimento e fortalecer o atendimento sobre trabalho infantil e exploração sexual. Também está entre os planos da Fundação Orsa disseminar a metodologia do Alô Vida e implementar o serviço em outras regiões do país, em parceria com outras ONGs e instituições públicas locais.
Serviço:
O telefones do Alô Vida são: (11) 4181- 8866 (São Paulo) e (96) 621-3500 (Vale do Jari). O contato com o serviço também pode ser feito pelo correio eletrônico alovida@fundacaoorsa.org.br. As instituições que queiram se cadastrar no banco de dados do Alô Vida podem utilizar essas mesmas formas de contato.
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