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Abertos à sabedoria popular

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

O professor de língua e cultura tupi-guarani Antonio Macena se prepara para abrir novas turmas em 2004 e passar o seu conhecimento para mais alunos em seu curso. "Tem muita gente interessada em entender a cultura indígena", diz, com orgulho. Vice-cacique da Aldeia do Rio Silveiras de Boracéia, no município de São Sebastião, São Paulo, Antonio (Karay Gwera) é um dos professores da Universidade Aberta do Mar, criada em 2003 pelo Projeto São Sebastião Tem Alma, que atua pela preservação da cultura caiçara e do meio ambiente da região.

Voltada para atividades de pesquisa, comunicação e ensino, a Universidade Aberta do Mar tem como uma das suas principais características a integração entre o conhecimento científico e o saber tradicional da comunidade do litoral. A proposta é que, por meio dessa integração, as atividades da Universidade possam contribuir nos trabalhos desenvolvidos pelo São Sebastião Tem Alma, no sentido de melhorar a qualidade de vida das comunidades tradicionais de pescadores, artesãos e agricultores.

As atividades de pesquisa consistem em levantamentos sobre as condições ambientais, culturais e socioeconômicas da região. "A idéia é que as pesquisas gerem informação a ser disponibilizada para as ONGs e associações comunitárias", conta Simone Conte, uma das coordenadoras da Universidade Aberta do Mar. Ela acrescenta que os levantamentos poderão servir também como instrumento para a tomada de decisões pelas autoridades locais.

Nos primeiros meses de atividade, a Universidade formou 60 alunos em cursos de especialização e extensão, entre eles professores, pesquisadores, universitários, secundaristas, comunidade científica e pessoas da comunidade. O foco de todos os cursos é a questão ambiental, que é abordada de forma multidisciplinar, nas áreas de cultura, educação, comunicação, pesca, agricultura, extrativismo, biologia, oceanografia, clima, ciências florestais, turismo, direito do mar e ambiental.

Assim como Antonio, outros representantes das comunidades locais compõem, junto com acadêmicos, o corpo técnico e docente da Universidade Aberta do Mar, participando como monitores, professores e palestrantes. O canoeiro Giovani de Oliveira será um deles, num treinamento sobre pesca artesanal. Ao falar sobre a sua experiência, ele não esconde a expectativa: "Vou apresentar a técnica da canoa, como se faz, como se utiliza. Não sei como vai ser, espero que dê certo".

A programação para 2004

Além das capacitações em "Língua e Cultura Tupi-Guarani" e "Fundamentos da Pesca Artesanal", estão confirmados para 2004 a realização de mais três cursos: "Educação e Agricultura", em que uma engenheira agrônoma abordará a questão ambiental nas escolas; "Oficina de Realização Cinematográfica: Comunicação e Meio Ambiente", no qual os alunos deverão produzir um filme de curta-metragem; e "Atualização do Ensino de Ciências da Natureza, com ênfase em oceanografia", realizado em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).

Os cursos, abertos ao público, são cobrados, mas os alunos que não tiverem condições de pagar poderão solicitar bolsas. Segundo a coordenadora, a expectativa para este ano é ampliar os trabalhos da Universidade e abrir outros cursos, entre eles, um de pós-graduação em gestão ambiental, previsto para o segundo semestre.

A possibilidade de incorporar o saber tradicional deve não somente enriquecer a produção acadêmica, como também colabora significativamente para a valorização das comunidades locais. O vice-cacique acredita que é uma grande oportunidade para divulgar a cultura do seu povo. "Ninguém melhor para ensinar sobre a cultura indígena do que um professor indígena", afirma.

Mais informações sobre a Universidade Aberta do Mar podem ser obtidas pelo correio eletrônico povosmar@iconet.com.br.

Mariana Loiola

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