Autor original: Maria Eduarda Mattar
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Em 15 de fevereiro do ano passado, saíam às ruas milhares de pessoas em cidades espalhadas por todo o mundo, em um grito único: Não à guerra! A frase, no entanto, não foi ouvida pelos governantes das nações mais poderosas da atualidade - especificamente George W. Bush, dos EUA, e Tony Blair, do Reino Unido - que levaram a cabo as investidas militares no Iraque. Levaram também horror e morte para um país já castigado pelos anos de embargo internacional e décadas de ditadura de Sadam Hussein.
Hoje, mais de um ano depois daquelas manifestações, os pedidos de "não à guerra" persistem e serão mais uma vez verbalizados. Em 2004, a data escolhida foi 20 de março, estabelecida como o dia mundial de luta contra a guerra. A mobilização em torno deste dia ganhou mais força depois que a Rede de Movimentos Sociais - reunida na Assembléia de Movimentos Sociais, durante o IV Fórum Social Mundial - convocou organizações e movimentos sociais a realizarem atividades em 20 de março. (A íntegra da convocatória aprovada na Assembléia pode ser lida ao lado, em "Globalizemos a luta! Globalizemos a esperança!"). No entanto, este ano - dado que já houve a investida no Iraque e, previamente, no Afeganistão - os protestos se concentrarão nos pedidos de fim da ocupação estadounidense nestes territórios.
EUA e Reino Unido são os lugares onde mais acontecerão atividades. No país da Rainha Elizabeth, a Stop the War Coalition está organizando uma marcha no centro de Londres, saindo de Hyde Park em direção à Trafalgar Square. Há ainda uma série de eventos preparatórios para a manifestação do dia 20. Lá, as ações se direcionarão ao primeiro-ministro Tony Blair, com pedidos como "chega de mentiras!". As "mentiras" em questão dizem respeito às agora sabidamente falsas alegações de que havia armas de destruição em massa em poder do então governo iraquiano. A suposta presença de tais armamentos foi a justificativa usada pelos países que ocuparam militarmente o Iraque.
O argumento, aliás, continua sendo questionado nos EUA, onde organizações como a United for Peace promoverão atividades ao redor de todo o país. Uma das principais atividades programadas é a marcha na cidade de Nova Iorque: os manifestantes vão se reunir ao meio-dia do sábado, 20 de março, na Madison Avenue. Além de organizar alguns protestos, o sítio da United for Peace (veja link ao lado) lista diversas mobilizações programadas ao redor do país. Quem estiver promovendo algum protesto local pode incluir seu evento na listagem disponibilizada no sítio da entidade. Além disso, há reuniões sendo realizadas a fim de articular nacionalmente as diversas atividades. A próxima acontece no dia 8.
Nos EUA, há também as atividades organizadas pela campanha Not in Our Name (Não em nosso nome). A iniciativa - cujo lema é "Fim da ocupação! EUA fora do Iraque já!" - pretende que o 20 de março seja um dia para construir "toda a resistência surgida no ano passado, fortalecer e expandir um amplo e determinado movimento, capaz de parar este curso de guerra e repressão e de permitir que pessoas no mundo todo saibam que este governo não fala em nome de milhões deste país", conforme diz o sítio da organização.
Mobilização verde-e-amarela
No Brasil, as atividades ainda não estão muito definidas, com muitas entidades que organizaram as atividades do ano passado ainda em fase de planejamento. A sede da Central Única dos Trabalhadores - CUT no Rio de Janeiro (CUT-RJ), uma das principais articuladoras das mobilizações na cidade em 2003, fará uma reunião no dia 9 de março, às 14h, para definir os responsáveis, dentro da entidade, pela articulação das atividades. A CUT-RJ faz parte do Comitê pela Paz e Contra a Guerra, junto com o MST, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Plano de Ação do Cone Sul (PACS), a União de Estadual de Estudantes (UEE) e o Viva Rio, instituído no Rio de Janeiro no ano passado, por ocasião das manifestações de 15 de fevereiro.
O primeiro secretário da CUT-RJ, Júlio César Ferreira de Castro, reconhece que as entidades este ano estão demorando a organizar as atividades para o dia 20. "Acredito que o problema é justamente o prazo e o dia escolhido. No momento, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, a maioria das organizações está envolvida com comemorações desta data", diz Júlio Cesar. "Mas, acredito que, passado o dia 8, as entidades irão se voltar mais para os eventos do dia 20", completa. Uma outra hipótese considerada é a de que, pelo fato de o Fórum Social Mundial não ter sido realizado no Brasil em 2004, a mobilização das organizações brasileiras ficou dificultada e dispersa. (A mobilização mundial foi proposta inicialmente no 4º FSM, em Mumbai, Índia, em janeiro deste ano.)
Em São Paulo, pelo menos uma atividade já parece programada: protesto com concentração às 10h, na Avenida Paulista. Na cidade, a organização dos eventos contra a guerra tem sido feita, mesmo que timidamente, pela Coordenação de Movimentos Sociais (integrada por CUT, MST, UNE e outros). Segundo José Carlos Spis, membro da diretoria da CUT-SP, independente das reuniões para articulação de eventos para o dia 20, a luta contra a guerra já se encontra na pauta da entidade. "Estamos realizando plenárias estaduais - e vamos realizar mais algumas outras até o dia 20 - e dentro da agenda desses eventos também está contida a luta contra a guerra".
Nacionalmente, as mobilizações do dia 20 ganharam o reforço da Campanha Nacional contra a Alca. A adesão da iniciativa está em sintonia com o que vêm defendendo algumas organizações atentas ao processo: no Brasil, os protestos não devem ficar limitados a pedir o fim da ocupação americana e inglesa no Oriente Médio; devem também manifestar a oposição à Alca - Área de Livre Comércio das Américas. Segundo Maureen Santos, da Fase (organização que faz parte da Rebrip - Rede Brasileira para Integração dos Povos e opera a secretaria da rede), já houve uma reunião da Campanha Continental na qual foi discutida a inclusão das mobilizações do dia 20 na pauta da iniciativa. No entanto, ela diz perceber "que realmente está tudo muito dissolvido, não há uma estratégia nacional e falta articulação entre os estados".
Outras informações podem ser encontradas nas páginas eletrônicas das entidades mencionadas, cujos links estão ao lado.
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