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Jovens em desenvolvimento

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Em média, a juventude brasileira é mais alfabetizada do que o restante da população. A alfabetização é ainda maior se a pessoa for mulher, branca e viver em área urbana do sudeste. E, em geral, quanto mais anos de estudo se tem, mais dinheiro se ganha, apesar da renda familiar per capita dos jovens ainda ser baixa. Contudo, é preciso ter cuidado: o número de jovens que morrem em decorrência da violência é muito grande.

Essas são algumas conclusões que podem ser tiradas do Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Lançado no dia 15 de março, o IDJ é uma adaptação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ele procura medir três dimensões da vida da juventude: conhecimento, direito a uma vida longa e saudável e dignidade financeira. São consideradas jovens pessoas entre 15 e 24 anos.

O Brasil é o primeiro país a ter esse tipo de índice, que é mais uma demonstração das desigualdades brasileiras. A pesquisa utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, do Sistema de Informações de Mortalidade do DataSus e do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb).

No ranking geral dos estados, a região sul ocupa lugar de destaque. Santa Catarina ocupa a primeira posição com 0,673 pontos, numa escala de zero a um. O estado possui um dos três melhores índices do país em oito das nove categorias averiguadas. Apenas no quesito morte por causa violenta (homicídio, acidentes em meios de transporte e suicídio) ele se encontra fora da liderança; ocupa o nono lugar. O Rio Grande do Sul está em terceiro na classificação geral, com 0,646 ponto, e o Paraná, em quinto, com 0,600. O segundo lugar é ocupado pelo Distrito Federal, com 0,652 e o quarto, por São Paulo, com 0,622.

As últimas posições são de estados das regiões norte e nordeste. Alagoas está no fim da lista com 0,337, pouco mais da metade de Santa Catarina. Em penúltimo está Pernambuco, com 0,361, logo abaixo do Acre, com 0,385. O quinto pior lugar para os jovens, de acordo com o índice, é Roraima, com 0,413.

Violência e escolaridade

O IDJ mostra que o maior problema da juventude é a violência. O risco de morrer por “causas externas”, ou seja, decorrentes de violência, é muito grande. Enquanto na população brasileira são verificados 48,15 casos de morte violenta a cada 100 mil pessoas, entre jovens o número é 54% maior: 74,42 a cada 100 mil.

No Rio de Janeiro os registros são bem maiores. De cada 100 mil jovens, por volta de 128,57 morrem de forma violenta. A média fluminense, 267% maior do que a geral nacional e 57% maior que a nacional dos jovens, é seguida de perto pela de mais dois estados: Pernambuco (127,97) e Roraima (125,76). As unidades da federação onde há menos casos registrados são Maranhão (21,34) e Bahia (26,97). “Há uma enorme vitimização juvenil por causa de homicídios”, especifica Julio Jacobo, coordenador da pesquisa e do escritório da Unesco em Recife.

Se os números da violência são algo a se lamentar, as taxas de alfabetização são melhores, apesar de o índice de escolarização adequada ainda não ser bom. O índice nacional de analfabetismo é de 13,6%, mas entre pessoas de 15 a 24 anos ele é de 4,2%. O menor índice se encontra no sul (1,4%) e o maior, no nordeste (9,6%). O miolo desse ranking é ocupado por sudeste (1,6%), norte (4%) e centro-oeste (2,1%). Os dados mostram também que quanto mais jovem, mais alfabetizado ele é. A faixa de 15 a 17 anos possui apenas 3% de analfabetos.

Entretanto, se sabem ler e escrever, muitos já abandonaram a escola: 51,4% não freqüentam nenhum tipo de instituição de ensino. O problema se torna ainda mais grave quando considerada a relação entre idade e série. Só 29% dos jovens brasileiros estão na série adequada. Em média, o brasileiro jovem estuda 7,4 anos, sendo que nas regiões sul e sudeste o índice chega a 8,2 e 8,3, respectivamente. Por outro lado, no nordeste a média cai para 6,0 anos de estudo.

Se analisados com mais cuidado, os dados mostram que as mulheres brancas e moradoras de cidades são "mais estudiosas". Entre elas, 31,4% estão com a escolaridade adequada, índice que cai para 26,9% entre homens. A diferença entre negros e pardos em relação aos brancos também é grande nessa categoria: respectivamente, 21,3% estão nas séries adequadas contra 36,6%. A comparação entre áreas urbanas e rurais revela discrepância ainda maior. Enquanto 32,1% das pessoas que vivem na cidade estão na série adequada, apenas 13,5% dos que moram no campo têm o mesmo comportamento.

Para piorar o quadro, a qualidade do ensino não é boa. Utilizando resultados das provas do Sistema Nacional de Avaliação de Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação, percebe-se que os alunos estão abaixo da média. A pontuação pode variar de 150 a 500 pontos, mas a média brasileira em português, por exemplo, é de apenas 262,3 no terceiro ano do Ensino Médio.

Renda

As taxas ruins de educação refletem na renda dos jovens e de suas famílias. Entre as pessoas de 20 a 24 anos com renda própria, recebem salários maiores os que têm mais anos de estudo. Um jovem que tenha quatro anos de estudo, por exemplo, ganha em média 1,28 salário mínimo. Já o que possui 11 anos (o equivalente ao término do Ensino Médio) recebe 2,27 salários mínimos. A diferença é de quase um salário mínimo, portanto. De acordo com a pesquisa, a cada ano de estudo os ganhos aumentam em 0,27 salários mínimos, o que equivale, considerado o salário de R$ 240, a R$ 65 por ano de estudo. Além disso, uma série estudada aumenta em 2,2% as chances de encontrar um trabalho remunerado.

Mesmo com os baixos rendimentos (a renda familiar per capita mais alta é a do Distrito Federal, com 2,46 salários mínimos), a juventude está ocupada. Apenas 20,3% não estudam nem trabalham, quase o mesmo percentual dos que trabalham e estudam: 18%. Os demais só se dedicam a uma atividade.

A desigualdade racial também é visível se considerada a renda. A renda média de negros e pardos é inferior à de brancos em todos os estados, com exceção do Paraná, onde os negros e pardos recebem 6,1% a mais que os brancos. Em sete estados, a diferença ultrapassa os 100%.

A intenção dos pesquisadores da Unesco é atualizar o índice a cada dois anos. “Isso permite avaliar se a situação mudou e o possível impacto de políticas implementadas. O gestor pode saber os focos dos problemas juvenis, isto é, onde se torna mais necessária uma intervenção, e, depois, se a intervenção surtiu os efeitos esperados, diminuindo o problema”, explica Jacobo. A pesquisa não está disponível na Internet, mas foi distribuída a diversos órgãos de administração e de imprensa.

Marcelo Medeiros

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