Você está aqui

Conselhos na mídia

Autor original: Giuliano Djahjah Bonorandi

Seção original: Novidades do Terceiro Setor





Conselhos na mídia

Uma parceria entre a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) está desenvolvendo o projeto "A Imagem dos Conselhos na Mídia - Análise e Construção" no qual são realizadas diversas iniciativas para aumentar a quantidade e qualidade da presença dos Conselhos Tutelares e de Direitos da Criança e do Adolescente na mídia brasileira. A idéia - que tem apoio da Petrobras, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e da Rede Andi – é fazer com que a sociedade tome conhecimento da existência dos conselhos, para que assim, estes se fortaleçam como órgãos de representação.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê a obrigatoriedade da criação dos conselhos de direitos nacional, estaduais e municipais, assim como a dos conselhos tutelares. Aos primeiros, compostos por representantes do poder público e da sociedade civil, compete a elaboração de políticas públicas voltadas para a infância e adolescência . Já aos conselhos tutelares, formados exclusivamente por membros escolhidos pela comunidade [cada município deve ter no mínimo um], cabe a ação direta, que se resume em fiscalizar denúncias locais, atender a população e assessorar o poder executivo municipal.

Apesar da regulamentação destes conselhos pelo ECA, em muitos casos a situação dos órgãos é precária. Tanto os conselhos de direitos como os tutelares são deixados em segundo plano pelos administradores públicos, principalmente em nível local. Em muitos lugares do Brasil, os conselhos sequer existem devido à falta de conhecimento dos governantes e da sociedade civil. Marcos Fuchs, diretor de planejamento da Andi, comenta: "Se o poder público não cumpre a lei, a própria população deve se engajar para a criação dos conselhos...o problema é que não há demanda da sociedade"

Completando o ciclo vicioso, aparecem os meios de comunicação, que não utilizam os conselhos como fonte de informação e nem os citam como órgãos representativos. Em recente pesquisa realizada pela Andi em 20 mil reportagens sobre infância e adolescência, constatou-se que os conselhos de direitos só foram citados ou usados como fonte em 0,46% da matérias e os conselhos tutelares em 0,71%. "O jornalista não reconhece os conselhos como fonte qualificada, assim como os conselhos não têm estratégias de aproximação com a imprensa" diz Fuchs. É aí que entra a aliança da Andi com o Conanda. O objetivo é encurtar a distância entre os conselhos e a mídia. Para José Fernando Silva, vice-presidente do Conanda, "os meios de comunicação são fundamentais como mediadores entre os conselhos e a sociedade".

O projeto vem sendo implantado desde 2003 e uma da atividades foi a realização de seis oficinas regionais com membros de conselhos, onde foi desenvolvido o Guia Mídia e Conselhos. O guia mostra um histórico da infância no Brasil, assim como planos de comunicação para atingir os veículos de informação. Dentro desses planos está a realização de uma campanha permanente - já em curso – de divulgação dos conselhos tutelares com peças publicitárias em emissoras de rádio, televisão e jornais. Fuchs afirma: "Queremos atingir não só os grandes meios mas também os jornais de sindicatos, jornais de bairro e rádios comunitárias, por exemplo"

Outra iniciativa a ser implementada em 2004 é a análise de três mil e quinhentas reportagens nas quais os conselhos são citados. A idéia é levantar o tratamento dado pelos principais jornais do país a estes órgãos. O resultado será divulgado em um livro da série Mídia e Mobilização Social a ser lançado em outubro. "Também queremos analisar a resposta que os conselhos deram à imprensa quando esta os procurou, para que os órgãos possam fazer uma auto-crítica" comenta Fuchs.

Também como parte do projeto foi realizado na última semana o Encontro Nacional de Conselheiros e Jornalistas - onde se reuniram representantes de todas as unidades federativas do país para elaborar planos estaduais de comunicação. Estes representantes continuarão discutindo e desenvolvendo os planos, que serão reencaminhados à Andi e ao Conanda para receber apoio destas duas instituições.

Além de fazer com que a sociedade os conheça como instrumentos de representação, a presença dos conselhos na mídia, é, para Marcos Fuchs, estratégica para uma melhor abordagem das questões que envolvem as crianças e os jovens brasileiros. Segundo ele, os jornais buscam soluções rápidas e tratam os problemas como casos isolados, ignorando o contexto das situações e não levando em consideração as políticas públicas. "Acho que os conselhos podem ajudar na medida em que conhecem a realidade como um todo" diz ele. Para José Fernando Silva "a abordagem tem melhorado mas há muito em que se avançar ainda, principalmente na televisão".

Giuliano Djahjah Bonorandi

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer