Autor original: Giuliano Djahjah Bonorandi
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Para oferecer capacitação profissional a jovens de baixa renda de 17 a 25 anos, o Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (Icema) lançou o programa Gera-Renda. Um dos objetivos é gerar trabalho e renda para os participantes, despertando neles um potencial empreendedor. A iniciativa conta com recursos da Fundação Kellog, em parceria com a Subgerência do Trabalho do Governo do Estado do Maranhão, o Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo (Iattermund), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Centro de Educação Profissional do Coroadinho (Cepec) e as empresas associadas ao Icema.
O Instituto desenvolve programas voltados para educação, cultura, saúde e qualidade de vida. Foi fundado em 2000, por empresários maranhenses que se juntaram para buscar soluções para problemas sociais.
O Gera-Renda foi elaborado pelos sociólogos Alessandro Lamar e Christian Noronha a partir da experiência com a metodologia de capacitação massiva em um curso do Ministério da Integração Nacional. "Após esse curso e a realização de diversos trabalhos em campo pelo Pronager (Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza), percebemos que poderíamos trazer a experiência para trabalhar com jovens em comunidades carentes na cidade de São Luís" conta Alessandro, que é diretor do Gera Renda.
A metodologia de capacitação massiva parte do pressuposto de que as populações de baixa renda têm dificuldade de permanecer no mercado de trabalho, em decorrência da sua baixa escolaridade e da carência de conhecimento técnico. Assim, o programa Gera-Renda busca realizar os chamados Laboratórios Organizacionais de Terreno (LOT), que são as atividades de capacitação em autogestão. O objetivo é que os jovens, a partir dessa experiência prática, gerenciem uma empresa associativa fictícia, mas de funcionamento real, que lhes permita atingir uma "consciência organizativa" e empreendedora.
O projeto prevê inicialmente a realização de duas capacitações neste ano. A primeira já está em curso no bairro de Coroadinho, em São Luís, e conta com 120 jovens, selecionados por participantes de outras iniciativas do Icema. Durante 50 dias, tudo que diz respeito ao dia-a-dia de uma empresa será vivenciado pelos participantes: produção, comercialização, divisão do trabalho, reuniões e prestação de contas. "A cada dia a equipe de campo, formada pelo diretor do evento e mais quatro auxiliares, vai se afastando. É nesse processo que se dá a construção da autonomia dos participantes", relata Alessandro.
A primeira empresa fictícia já tem nome: Instituto Empresarial do Pólo Coroadinho. O nome foi definido na primeira assembléia geral, em que também foram eleitos o presidente, o secretário, o diretor de produção e o diretor de comercialização. A empresa é do setor de confecções e serigrafia e produz camisas, fardamentos e artesanato. Na sexta-feira, dia 30 de abril, entregou sua primeira encomenda, de 130 camisas. No mesmo dia a empresa realizou sua segunda assembléia geral, em que foi estabelecido seu plano de trabalho e prestação de contas.
Após os 50 dias de treinamento os jovens continuarão a administrar a empresa. Nessa fase, a equipe do Icema oferecerá acompanhamento, procurando estabelecer parcerias que atendam à demanda do empreendimento. "Estaremos levando a experiência das instituições, de empresários e do poder público para que se crie uma rede de troca de conhecimento, forma também de garantir a sustentabilidade da empresa", conta Alessandro.
Uma das preocupações do Instituto é que a atividade produtiva escolhida possibilite a parceria com seus associados. O objetivo é que a relação entre as empresas associadas e a empresa dos participantes seja de comprador e fornecedor.
Porém, segundo Alessandro, mais importante do que gerar renda para esses jovens é despertar neles suas possibilidades como cidadãos. Para criar esse embrião de autonomia o Icema também oferece aos integrantes do projeto oficinas de jornalismo comunitário e elaboração de projetos. "Mais que uma empresa", diz ele, "o que buscamos é uma organização coletiva de jovens, para que eles possam atingir seus objetivos de forma autônoma e catalisadora da sua participação social".
Giuliano Djahjah Bonorandi