Autor original: Mariana Loiola
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Sumário executivo
Em todo o mundo, dez milhões de adolescentes casam e geram filhos enquanto elas mesmas ainda são crianças. Quando as meninas se tornam mães antes de estarem fisicamente e emocionalmente preparadas, os resultados são geralmente trágicos: muitas adolescentes morrem no parto, um número ainda maior de recém-nascidos morrem, e jovens mães e bebês que sobrevivem muitas vezes lutando para superar a saúde precária, educação restrita e a pobreza.
Este ano, o relatório Situação das Mães no Mundo 2004, focando no problema difundido da criança tendo criança, identifica 50 regiões onde o problema é particularmente grave. O primeiro Ranking de Riscos da Maternidade Precoce analisa os países onde a maternidade precoce é mais comum e onde as conseqüências são mais devastadoras. O relatório mostra onde as meninas têm as maiores probabilidades de se casarem jovens. Também mostra onde estão os maiores percentuais de bebês nascidos de mães adolescentes que estão morrendo antes de completarem o seu primeiro aniversário.
As história dessas meninas falam por si só:
Safa no Egito se torna a segunda esposa de um homem de 60 anos enquanto ela tem 17. O marido dela e sua primeira esposa esperam que ela faça a maior parte do trabalho doméstico e não fornecem alimentação nutritiva suficiente. Ela ficou grávida, mas não recebeu cuidado pré-natal. Ela perdeu o bebê, e rapidamente engravidou novamente.
Ganga no Nepal teve três crianças quando tinha 18 anos. Ela nunca foi à escola. Ela não pode ter de uma alimentação nutritiva ou uma casa decente para morar. Seu último parto foi especialmente difícil e ela ainda se sente fraca o tempo todo. "Eu estou ocupada durante todo o dia com as minhas tarefas domésticas e as crianças", ela diz. "Eu tenho dias horríveis na minha vida."
Abeba na Etiópia casa aos sete anos, começa a ter relações sexuais aos 9, e se torna viúva aos 12. Ela descobre que está grávida, mas perde o bebê depois de um trabalho de parto difícil. "Eu não quero casar de novo", diz. "Eu não quero que nenhum homem chegue perto de mim."
Pesquisa em dezenas de países em todo o mundo apontam para a enorme dificuldade, muitas vezes de vida ou morte, enfrentada pelas jovens mães e seus filhos.
Principais resultados
1- A gravidez precoce é geralmente uma sentença de morte para a adolescente e seu filho. Ambos sofrem grande risco de morte como resultado de complicações durante a gestação e o parto. Os bebês de adolescentes enfrentam um grande risco de morrer antes de completarem um ano de idade, que é 50% maior do que o dos bebês nascidos de mães por volta de 20 anos de idade. Por todo o mundo, mais de 1 milhão de adolescentes e seus filhos a cada ano não sobrevivem à gravidez e ao parto. Em relação a mães com 14 anos ou menos, os dados disponíveis sugerem que essas mães enfrentam os maiores riscos. Pesquisa no Bangladesh sugere que mães muito jovens (de 10 a 14 anos) podem correr cinco vezes mais riscos de mortalidade materna comparado a mães de 20 a 24 anos.
2- Por toda parte nos países em desenvolvimento, números alarmantes de crianças estão tendo crianças, com conseqüências trágicas. Nosso Ranking de Riscos da Maternidade Precoce, analisando o problema em 50 países em desenvolvimento, revelou que mais de uma entre quatro meninas entre 15 e 19 anos estão casadas, mais de uma entre 10 meninas nessa idade dará a luz em até um ano, e aproximadamente um entre nove bebês gerados por essas jovens mães vão morrer no primeiro ano de vida. Os países da África sub-Sahariana tendem a ter as maiores taxas de maternidade precoce assim como as maiores taxas de mortalidade de jovens mães e seus bebês. Países fora da África onde os riscos das jovens mães são especialmente altos incluem o Afeganistão na Ásia Central, Bangladesh e Nepal no sul da Ásia, Yemen no Oriente Médio, e Guatemala, Haiti e Nicarágua na América Latina.
3. Quando sobrevivem, as jovens mães e seus filhos sofrem grandes riscos de saúde. Quando o corpo de uma mulher jovem não está fisicamente maduro para gerar um filho de modo seguro, é comum haver complicação no trabalho de parto, e pode resultar em dolorosas seqüelas. Bebês nascidos de mães adolescentes tendem a ser prematuros e de baixo peso. E as meninas que se casam cedo têm maior probabilidade de contrair HIV/Aids do que os meninos da sua idade, e colocam os seus filhos em risco de nascerem com a doença.
4. Educação restrita pode ser tanto a causa quanto o efeito da maternidade precoce. Meninas que não vão à escola tendem a se tornar mães numa idade perigosa, e meninas que estão na escola que se casam cedo ou ficam grávidas geralmente deixam a escola. Jovens mães que não tiveram acesso à educação e seus filhos estão em grande desvantagem. Quando as mães carecem de educação, elas têm mais probabilidade de serem pobres, ficam grávidas com mais freqüência, têm as maiores taxas de mortalidade infantil e materna, têm menos conhecimento de planejamento familiar e HIV/Aids, e estão menos preparadas para cuidar dos aspectos de saúde, bem-estar e educação de seus filhos.
5- Jovens mães muitas vezes enfrentam dificuldades financeiras, e suas crianças têm mais probabilidade de repetir o ciclo de pobreza. A relação entre maternidade precoce e pobreza é mutualmente reforçado – as mulheres mais pobres têm mais probabilidade de ter filhos enquanto jovens, e aquelas que têm filhos enquanto jovens têm mais probabilidade de permanecer na pobreza. Essas crianças têm mais probabilidade de serem pobres quando crescerem, e de perpetuar o ciclo de crianças tendo crianças.
6- No mundo industrializado, os Estados Unidos têm as maiores taxas de maternidade precoce. Embora as taxas de parto na adolescência nos Estados Unidos tenham caído na última década, são ainda significativamente maiores do que em outros países industrializados – em torno de 2,5 vezes mais do que no Reino Unido, mais de dez vezes do que na Holanda ou no Japão, e mais de 17 vezes do que na República da Coréia. Os estados com as maiores populações rurais, taxas de pobreza acima da média e níveis de educação abaixo da média têm os piores recordes de crianças tendo crianças. Entre eles estão: Arizona, Arkansas, Mississipi, Novo México e Texas.
Recomendações para salvar a vida das jovens mães e suas crianças. Os principais resultados apontam para intervenções e investimentos específicos para encorajar as meninas a permanecerem na escola e adiarem a maternidade até elas estarem tanto emocionalmente quanto fisicamente preparadas para darem a luz e criarem seus filhos. Essas estratégias fornecem às meninas oportunidades e serviços voltados para as suas necessidades e aspirações. Elas fazem com que seja mais provável que meninas que engravidam tenham seguramente um bebê saudável e criem os seus filhos com sucesso. Elas também encorajam as famílias, comunidades e governos a assumirem papéis e responsabilidades para proteger a saúde e o desenvolvimento das meninas.
1- Ajudar mais meninas a irem à escola e permanecerem na escola. Uma das maneiras mais efetivas de ajudar as meninas nos países pobres que têm mais probabilidade de se tornarem mães numa idade perigosa é focar na educação das meninas. Crescentes investimentos são necessários para ajudar as meninas a irem à escola e permanecerem na escola, e encorajar as famílias e comunidades a valorizarem a educação das meninas. Tanto a formação da educação formal quanto a não-formal fornecem às meninas conhecimento, auto-confiança, habilidades práticas e esperança de um futuro melhor. Essas são as ferramentas mais poderosas que podem ajudá-las a adiar o casamento e a gravidez para uma época que seja mais saudável e economicamente segura para elas e seus filhos.
2-Serviços de saúde para as necessidades específicas das meninas recém-casadas e as mães pela primeira vez. Serviços de saúde para meninas recém-casadas e as mães pela primeira vez que são designados para as suas necessidades específicas, levando em consideração os riscos particulares que elas enfrentam, seu conhecimento e experiência restritos, e seu isolamento social. Programas de sucesso em todo o mundo estão apoiando as meninas recém-casadas e ajudando-as a adiarem o seu primeiro parto fornecendo informação e serviços sobre planejamento familiar. Outros programas servem para aquelas que engravidam, dando às jovens mães e seus filhos uma melhor chance de sobreviverem e crescerem.
3- Fornecer às meninas melhores opções de adquirirem renda para adiar o casamento e a maternidade. Quando as meninas adolescentes estão aptas a ganhar dinheiro, elas têm um maior controle sobre o seu futuro. Elas têm mais opções de adiar o seu casamento e gravidez, um status maior dentro da família, e uma melhor capacidade para sustentar a si mesmas e os seus filhos. Meninas e jovens mulheres com alguma escolaridade estão claramente em vantagem em relação a oportunidades econômicas, mas mesmo estas com pouca educação formal podem desenvolver capacidades vocacionais que ajudarão a elas e a seus filhos a melhorarem seu modo de subsistência e a evitarem trabalho prejudicial e explorador.
4- Apoio a esforços para mudar atitudes sociais em relação ao papel das meninas. Organizações governamentais e não-governamentais (ONGs) estão tendo algum sucesso no aumento de consciência sobre os danos causados pela maternidade precoce e na mudança de opinião sobre o valor das meninas. Enquanto o progresso é lento, existe alguma evidência encorajadora de que comunidades estão mudando a visão tradicional das filhas como desvantagem econômica e um potencial motivo de vergonha para a família se elas não se casam numa idade jovem.
5- Trabalhar para desenvolver leis em relação à idade mínima para o casamento e para reforçar as leis existentes. Os governos podem fazer muito mais para aplicar leis sobre a idade mínima legal do casamento. Eles também podem fazer um melhor trabalho de aplicação das leis para assegurar que o casamento aconteça apenas com o livre e total consetimento. Governos e ONGs, trabalhando juntos, podem ajudar a aumentar a conscientização das leis existentes no nível comunitário e gerar apoio social para a sua aplicação.
6- Pressionar a administração e o Congresso dos EUA a apoiarem a educação de meninas nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Porque a educação é uma dos melhores maneiras de criar definitivas, positivas mudanças para crianças em toda a parte – e ajudar as meninas a adiarem a maternidade até estarem emocionalmente e fisicamente prontas para serem mães – Save the Children está trabalhando através da Coalizão Básica de Educação para garantir educação para todas as crianças do mundo. Como primeiro passo, os Estados Unidos devem destinar $ 1 bilhão para a educação básica global. Para ajudar a direcionar esses recursos nas áreas pobres dos EUA, o governo dos EUA deve implementar dois importantes programas: Centros de Aprendizado Comunitários do Século 21 e Programa de Realização na Educação Rural. Além disso, o governo dos EUA deve melhorar o apoio a programas de saúde para a sobrevivência infantil e programas de saúde materna, incluindo planejamento familiar, para conhecer as necessidades das jovens mães nos países em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, ajudando a salvar as vidas de 4 milhões de crianças que morrem a cada ano de causas que podem ser prevenidas e tratadas ante de elas completarem um mês de idade.
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