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Mundo livre e cada vez mais possível

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor





Mundo livre e cada vez mais possível

Com a notícia de que o governo vai anunciar em junho a decisão de oficializar o uso de software livre na administração federal, ganha uma dimensão ainda maior a quinta edição do Fórum Internacional de Software Livre (FISL), de 2 a 5 de junho, em Porto Alegre (RS). Mário Teza, membro do Projeto Software Livre Rio Grande do Sul e um dos organizadores, acha que o evento simboliza o crescimento desse movimento no Brasil e é "causa e conseqüência disso tudo". Segundo ele, o Fórum foi e continua sendo uma iniciativa inovadora e surgiu quando não havia qualquer evento de peso sobre o tema no país. "O FISL incentivou muito o que se tem feito no país sobre software livre e também se alimentou bastante desse processo", afirma. O próprio governo federal aproveita o evento para lançar a cartilha que vai orientar o processo de migração dos seus sistemas operacionais – trabalho que deverá estar concluído até o final do ano nos ministérios de Ciência e Tecnologia, Cultura, Educação, Relações Exteriores e Minas e Energia.

Cerca de 300 palestrantes já confirmaram presença, entre eles o diretor do projeto Creative Commons, Lawrence Lessig. Lessig virá especialmente para o lançamento do projeto no Brasil, em uma iniciativa do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. A idéia do Creative Commons é abranger um conjunto de bens culturais sob uma licença jurídica que permite a livre circulação e a recriação das obras. Será apresentada ainda uma versão em língua portuguesa do sítio do projeto.

Também estarão presentes, entre outros, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Pedro Jaime Ziller; John "Maddog" Hall, da Linux International; Marcelo Tosatti, do Projeto GNU/Linux Brasil; Wietse Venema, da Postfix/TCP Wrappers; e o arquiteto-chefe da Zope Corporation, Jim Fulton.

"O que nos diferencia de outros encontros internacionais é o fato de trazermos desenvolvedores, criadores de soluções de software", destaca Teza. E são eles que abrem a programação, com uma série de pré-eventos, como a 4ª Conferência Mundial Debian (de 26 de maio a 2 de junho). Durante o Fórum serão realizados também o 1º Encontro Mulheres e Software Livre e o 1º Encontro Internacional de Inclusão Digital com Software Livre. Haverá ainda uma Mostra de Soluções Livres, com exposição de iniciativas acadêmicas e corporativas.

Embora tenham trabalhado com uma previsão de 4 mil participantes, os organizadores acreditam que será possível chegar a 5 mil, pois o ritmo de inscrições costuma crescer à medida que o evento se aproxima. Mais de trinta caravanas já foram organizadas até o momento – de vários estados brasileiros e de países como Argentina e Peru.

Teza destaca, aliás, o aumento significativo da participação internacional, o que atribui à maior repercussão do trabalho que vem sendo desenvolvido no Brasil com software livre nos últimos anos, até mesmo em experiências na administração pública, como ocorreu no governo do Rio Grande do Sul. "Teremos um número muito maior de palestrantes estrangeiros", assinala. Entre eles, porém, não estará um dos nomes mais emblemáticos do "mundo livre". Embora convidado, Richard Stallman, fundador da Free Software Foundation, recusou gentilmente e por uma razão curiosa: ele não deseja deixar suas impressões digitais na Polícia Federal, ao chegar (o procedimento é uma norma para cidadãos norte-americanos, em represália à conduta semelhante que vem sendo adotada naquele país contra os brasileiros). Em mensagem enviada à organização do FISL, Stallman diz que não condena a atitude brasileira. "Na verdade, fico feliz por ver alguém lutando contra as intimidações dos EUA. No entanto, não desejo fazer parte do processo", afirmou. "É uma pena", lamenta Teza. "Ele esteve na primeira edição e a gente gostaria que visse a evolução do evento".

Pão e liberdade

Uma das grandes novidades da edição deste ano não está na programação. O FISL pretende arrecadar cinco toneladas de alimentos para o Programa Fome Zero, do governo federal. Todos os inscritos devem contribuir com um quilo de alimento não-perecível. As empresas que participam da mostra, por sua vez, devem colaborar com 50 quilos, como parte do pagamento pelos seus estandes.

A idéia de reforçar a preocupação com o aspecto social surgiu a partir de um artigo intitulado "Pão e liberdade", em que Teza procurava discutir como a área de Tecnologia da Informação poderia contribuir com o anunciado "carro-chefe" do governo Lula na área social. "O software livre sempre teve uma preocupação social", afirma. "A gente tinha a idéia de fazer alguma coisa, mas também uma dificuldade de materializar isso. E agora foi possível". Para o próximo Fórum, os organizadores pretendem fazer algo ainda maior. "Hoje, quem patrocina doa se quiser. No ano que vem, uma das exigências para quem quiser nos patrocinar será a doação de alimentos", antecipa Teza.

Serviço

O 5º Fórum Internacional de Software Livre será realizado no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que é uma das patrocinadoras do evento, juntamente com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e outras instituições.

O formulário para inscrições está disponível no endereço http://www.softwarelivre.org/forum2004. Até o dia 19 de maio, os valores são de R$ 25 para estudantes e R$ 50 para não estudantes. Caravanas pagam R$ 25. De 20 a 30 de maio, estudantes e caravanas pagam R$ 30; não estudantes, R$ 60. Vale lembrar que é preciso contribuir com um quilo de alimento não-perecível. E após o dia 31 de maio as inscrições só poderão ser feitas no local do evento.

Mais informações no sítio do 5° FISL [veja a área de Links desta página, no alto, à direita].

Fausto Rêgo

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