Você está aqui

A escola no caminho da prevenção

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor





A escola no caminho da prevenção


O Brasil tem, atualmente, 213 mil crianças afetadas direta ou indiretamente pela Aids, segundo a Unaids, entidade da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pelo controle da Aids no mundo. Entre adolescentes de 13 a 19 anos, cresce o número de infectados pelo HIV, principalmente no interior do país, de acordo com dados da Coordenação Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde. "Estes dados recentes mostram que temos que repensar os caminhos da prevenção", diz Teresinha Pinto, presidente da Associação para Tratamento e Prevenção às DST/Aids (Apta). Para construir esses caminhos, a escola tem um papel fundamental, ressalta a presidente da Apta.

No 8º Encontro Nacional de Educadores para Prevenção das DST/Aids (Educaids), promovido pela Apta, o papel da escola será amplamente debatido. O encontro - que conta com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Unaids, Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde, entre outros - reunirá, de 3 a 6 de junho, educadores e profissionais de saúde que trabalham com prevenção de todo o país, no centro de convenções Open Hall, em Guarulhos, São Paulo.

Para abrir o 8º Educaids, serão apresentados os resultados de um projeto que, há um ano, procura incluir socialmente o jovem com HIV. O VI Encontro para Inclusão da Criança e do Adolescente HIV+ na Sociedade, que acontecerá no dia 3, abrirá o Educaids com o Projeto Reviver – Associação de Apoio à Criança HIV positivo. A entidade apresentará os resultados do Fala Sério, uma das ações do seu projeto Tecer o Futuro. O programa Fala Sério, desenvolvido em escolas públicas e outras organizações sociais, utiliza o teatro para melhorar a convivência com jovens soropositivos. "Nós fazemos um acompanhamento junto aos professores e aos adolescentes, e são os próprios jovens que apresentam as peças para falar do preconceito e conscientizar os outros alunos", explica Tatiana Pardo, coordenadora do Tecer o Futuro.

O 8o Educaids terá seguimento com mesas-redondas na parte da manhã, para a apresentação de outros trabalhos em prevenção; e oficinas pedagógicas à tarde, que oferecerão aos professores recursos didáticos de educação continuada e prevenção nas escolas. Além de educação e prevenção, a ética é um assunto que também permeará os temas do encontro, como tratamento e pesquisa em HIV/AIDS, o tratamento da mídia em relação ao assunto, e metodologias de prevenção junto a minorias, como indígenas e pessoas com deficiência.

Mas as maiores atenções do Educaids deste ano deverão estar voltadas para a política de educação preventiva realizada pelo MEC em parceria com a Coordenação Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde, que, atualmente, está sendo implementada em 55 municípios brasileiros. Afinal, o compromisso do MEC com a educação preventiva foi a grande reivindicação nas edições anteriores do evento, que é realizado anualmente desde 1997.

A proposta de se incluir educação preventiva nas escolas começou a ser discutida há três anos como forma de prevenir a exposição de crianças e adolescentes aos riscos das DST/Aids. Os educadores sugeriram o aprofundamento das questões de gênero, homossexualidade e direitos sexuais e reprodutivos nos programas de formação continuada dos professores para uma educação preventiva. "A idéia é que essa política faça parte do projeto pedagógico e do cotidiano das escolas", explica Teresinha Pinto, coordenadora do Educaids.

A iniciativa desses educadores foi incluída no documento final do 5º Educaids e se transformou num Projeto de Lei, aprovado pela Câmara Federal, em 2001, e vetado pelo presidente FHC, em outubro de 2002, em razão da resistência de setores conservadores do governo contra a distribuição de preservativos nas escolas. A distribuição de camisinhas para jovens de 14 a 19 anos ainda é polêmica, mas Teresinha ressalta que ela não é feita indiscrimidamente. "A escola tem que demonstrar que realiza um trabalho de formação com professores para a educação preventiva", afirma.

Em 2003, o projeto foi retomado e finalmente entrou em vigor, com a liberação de recursos para a capacitação de professores e apoio aos programas de educação preventiva nas escolas municipais e estaduais do país. Até o final do ano deverão ser liberados recursos para até 200 municípios, em média. Um levantamento recente feito pela Apta apontou o envolvimento de 73,6% dos professores das escolas públicas nos projetos de prevenção, nas cidades onde estão sendo realizados, mas revelou dificuldades principalmente em relação à falta de material de apoio, recursos financeiros, capacitação profissional e material didático.

No 8º Educaids, técnicos dos dois ministérios terão um painel exclusivo para mostrar ao público como o projeto está sendo desenvolvido e abrir a discussões sobre o tema. O papel dos demais participantes será o de avaliar a experiência. "Este ano vamos reivindicar para que se avance nessa proposta e reafirmar a sua importância", diz a coordenadora do Educaids.

Como acontece em todas as edições do evento, o 8o Educaids terminará com a elaboração de um documento que será encaminhado ao poder público. "Vamos ver como os educadores vão avaliar os programas do governo e quais são as suas propostas, nesse momento histórico em que temos uma grande conquista. Espero que o documento deste ano tenha mais qualidade política do que o dos outros anos", diz Teresinha.

O programa e a ficha de inscrição do 8º Educaids são encontrados em www.apta.org.br. As pessoas podem se inscrever até o dia do evento, mas as vagas são limitadas. Mais informações pelo correio eletrônico apta@apta.org.br.

Mariana Loiola

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer