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Uma teia de transformações

Autor original: Giuliano Djahjah Bonorandi

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor





Uma teia de transformações


Para realizar o intercâmbio entre jovens líderes de comunidades ribeirinhas nos municípios de Santarém e Belterra, no Pará, a organização não-governamental Projeto Saúde e Alegria desenvolve desde o ano passado a Teia Cabocla de Lideranças Juvenis. A idéia é reunir os jovens periodicamente para que troquem experiências e construam iniciativas voltadas para o desenvolvimento comunitário.

O Projeto Saúde e Alegria atua desde 1987 com 32 comunidades dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns. O objetivo da entidade é fomentar processos contínuos de desenvolvimento sustentável e participação política. Nesse sentido, percebeu-se que para chegar a esses propósitos era necessária uma efetiva colaboração dos jovens nessa transformação. "Em certo momento, nos demos conta de que para atingir nossas metas tínhamos que pensar nas novas gerações", afirma Fábio Pena, coordenador da Teia Cabocla.

A partir daí, por intermédio do Núcleo de Educação, Cultura e Comunicação Popular, decidiu-se dar ênfase a este segmento da população. O instrumento criado foi a Rede Mocoronga de Comunicação Popular, que passou a capacitar grupos de adolescentes e jovens para a produção de vídeos, programas de rádio e jornais comunitários. Em cada comunidade, uma sucursal, em parceria com a escola, trabalha conteúdos de saúde, educação ambiental e da cultura local.

Após esse processo de incorporação dos jovens à gestão comunitária, estes se interessaram em participar de forma mais intensa. Um bom sinal disso foi a maior presença deles no Conselho Intercomunitário, espaço onde as comunidades planejam e avaliam as ações da ONG. Em 2002, na assembléia do Conselho, cinco jovens foram eleitos representantes de suas comunidades e passaram a compor a diretoria do órgão. Na oportunidade, foi proposta a criação de um grupo batizado com o nome de Teia Cabocla, que articulasse os jovens como promotores de ações efetivas de desenvolvimento.

No primeiro encontro da Teia, em abril de 2003, 40 jovens de 18 comunidades se reuniram em Jamaraquá. Os participantes tiveram a oportunidade de trocar experiências e visões de mundo e de articular formas de organização. Os debates giraram em torno dos temas liderança, planejamento e coordenação de atividades socioculturais. "Ali os jovens puderam se sentir como parte de um movimento intercomunitário", afirma Fábio.

Esse sentimento e a demanda por capacitações para elaboração de projetos e formação de lideranças juvenis trouxeram resultados rapidamente. Propostas de intervenção da juventude na comunidade, de geração de renda e de resgate cultural começaram a surgir e ser desenvolvidas. Um bom exemplo aconteceu na comunidade de Piquiatuba, onde jovens criaram o Festival do Açaí, evento destinado à reafirmação da cultura local com a apresentação de danças regionais.

No segundo encontro, realizado nos dias 15 e 16 de maio deste ano, o Projeto Sáude e Alegria se uniu ao Instituto Ayrton Senna (IAS) e à Fundação Konrad Adenauer para pôr em prática, junto à Teia Cabocla, o "Game SuperAção", um programa da IAS que procura potencializar o protagonismo juvenil por meio de um kit com vários jogos, fichas e etapas que devem ser superadas, a longo prazo, pelos jovens e educadores. O objetivo é levar cada participante a refletir sobre sua vida, suas necessidades, o mundo que o rodeia e a sua comunidade.

A formação dessa rede, ou melhor, dessa teia, trouxe novos horizontes para as comunidades atendidas pela Saúde e Alegria. Para Fábio, os jovens estão ocupando uma lacuna em lugares onde há carência de lideranças. "Além disso", diz ele, "as pessoas mais velhas que enxergavam a juventude com desconfiança agora passam a percebê-la como um grande potencial de transformação". E esse talvez seja o grande mérito da Teia Cabocla: encarar o jovem não como um problema, mas como uma solução para um futuro melhor.

Giuliano Djahjah Bonorandi

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