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Criança no lugar certo

Autor original: Viviane Gomes

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Criança no lugar certo


Lugar de criança não é na rua, especialmente se estiver vendendo mercadorias ou pedindo esmolas. Em Vitória, no Espírito Santo, a campanha "Não dê esmolas e ajude uma criança", realizada pela Rede Criança e pela Prefeitura, tem como objetivos principais divulgar a realidade de crianças e adolescentes que vivem ou estão nas ruas, informar sobre o trabalho de entidades que já desenvolvem ações em prol da infância e da adolescência no município, fazer com que as pessoas colaborem com estas atividades ou que simplesmente não dêem esmolas e não comprem os produtos que são vendidos.


"Para além da esmola" é a mensagem da quarta edição da campanha. "O que a campanha busca fazer é orientar a população a transferir esses recursos para uma estrutura organizada que consiga acompanhar, controlar e demonstrar os resultados obtidos", explica Naia Athayde, gerente geral da Rede Criança. Naia esclarece que os atos da doação e da solidariedade são legítimos e devem ser estimulados, porém podem ser direcionados para ações mais eficazes. "Quando o cidadão dá esmola, um prato de comida, sapatos, roupas ou compra os produtos vendidos por crianças e adolescentes que estão nas ruas, acaba colaborando para que aquela criança não saia da rua e não seja atendida por iniciativas que podem oferecer dignidade a ela", pontua a gerente. Além da permanência dos jovens nas ruas, a campanha quer salientar a existência de outro problema: a exploração infantil. Naia revela que as crianças e os adolescentes que estão nas ruas são, em sua maior parte, vítimas de adultos que os utilizam para sensibilizar motoristas e pedestres em troca de dinheiro ou outro ganho material.


As crianças e os adolescentes que vivem ou estão nas ruas se concentram, principalmente, nos sinais de trânsito dos principais cruzamentos da cidade. A mobilização de lançamento da campanha, que é permanente – e, desde 2003, anual – acontece justamente nesses lugares. Este ano a sensibilização, que ocorreu no final de abril, envolveu mais de 200 voluntários. Eles distribuíram cartazes e folhetos para motoristas e pedestres para convencê-los de que a esmola ou a compra de produtos não muda a situação da criança que está na rua. Durante a abordagem, os agentes da campanha informam sobre as entidades pertencentes à Rede Criança, cujas atividades ajudam a mudar esse contexto do público infanto-juvenil que vive nas ruas. "Nós queremos mostrar à população que ela pode mudar de atitude. Porque em Vitória existe uma rede de entidades preparada para garantir a infância de crianças e adolescentes que estão nas ruas", enfatiza Naia.


Mudança de atitude


Uma pesquisa realizada no final do ano passado pelo Instituto Futura de Pesquisa demonstra o sucesso da campanha. De acordo com o trabalho, 64,75% da população capixaba não dá esmolas. Sobre a amostragem, Naia ressalta que, quando questionadas sobre o porquê de não darem esmolas, as pessoas utilizaram os argumentos da campanha.


Mas para provocar essa mudança de comportamento foi preciso criar alternativas para o impulso voluntário de solidariedade das pessoas. Luiz Antonio Correia de Carvalho, hoje consultor para Projetos Especiais da Rits, foi responsável pela mediação, estudo e elaboração da Rede Criança. Ele lembra que antes da campanha, as entidades que trabalhavam com crianças e adolescentes foram identificadas e convidadas a formar uma rede para atender e garantir os direitos de crianças e adolescentes em situação de risco e ainda integrar programas, projetos e ações realizados por diversos atores. Ou seja, desenvolver uma estrutura que possibilitasse a participação articulada, superação de ações isoladas, iniciativas pontuais e medidas aleatórias. As atividades realizadas por estas instituições, assim como suas necessidades, foram estruturadas em uma base de dados. A campanha somente foi desenvolvida a partir dai, quando a rede soube como atuar e quais alternativas dispunha para oferecer a crianças e adolescentes em situação de rua. "Qualquer campanha que procure desviar o impulso da esmola para uma contribuição mais eficiente tem que ter por trás de si uma maneira fácil de contribuição e entidades prontas para enfrentar e dar conta dessa questão", diz Luiz Antonio.


Hoje, a Rede Criança congrega 68 entidades – entre elas, organizações governamentais, não-governamentais e órgãos de promoção, defesa e responsabilização dos direitos da criança e do adolescente. A rede ainda realiza uma atividade complementar à campanha: a abordagem de rua. Esse trabalho, feito por equipes multidisciplinares treinadas especialmente para conversar com a criança que está na rua, consiste em avaliar sua situação e encaminhá-la para a entidade da rede que melhor possa atendê-la.


Como participar


Seis números de telefones – (27) 9941-1002, 9941-1003, 9941-1004, 9941-1005, 9941-1006 e 9941-1007 – estão disponíveis para que a população auxilie a Rede Criança nesta campanha. Por meio deles, as equipes recebem e investigam, durante as 24 horas do dia, denúncias de exploração do trabalho infantil e informações sobre crianças e adolescentes pedintes. No sítio da Rede Criança, www.redecria.org.br, as pessoas interessadas podem ajudar consultando a Central de Oportunidades sobre recursos materiais, financeiros, trabalho voluntário ou prestação de serviços de que as entidades necessitem no momento. Outra forma de colaborar com a rede é pelo telefone 0800-39 50 55. A ligação é gratuita e válida para todo o país.


Viviane Gomes

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