Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Artigos de opinião
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro...
"Tecendo a Manhã", de João Cabral de Melo Neto
Antônio Agenor de Melo Barbosa e Gisela Verri de Santana*
Em ano de eleição levanta-se a questão da ética e das dicotomias entre o discurso e a prática dos políticos e dos principais candidatos aos cargos majoritários. Recentemente, por conta das publicações a respeito do patrimônio de cada um dos candidatos a prefeito, várias dúvidas foram lançadas sobre esta questão.
Diante de tantas notícias e questionamentos sobre a conduta de "A" ou de "B", sobressai a importância da transparência e da necessidade de se acompanhar os processos políticos e administrativos no que se refere aos interesses públicos.
Sabe-se também que é fundamental a contribuição dos meios de comunicação na ampliação da transparência destes processos. Sem uma imprensa livre, imparcial e atuante, a sociedade não avança e não evolui. Após a redemocratização, o povo brasileiro tem se mostrado mais atento aos discursos e à correlação destes com as ações concretas empreendidas por seus representantes, seja no âmbito Legislativo ou no Executivo. É necessário, cada vez mais, uma crescente articulação e coerência entre o discurso e a prática. A mídia e os "vampiros" estão à espreita, aguardando o menor deslize - com suas micro-câmeras já tão famosas pelos escândalos que nos foram revelados recentemente através de suas lentes - para colocarem em evidência as falsas promessas e os acidentes de percurso, para não dizer a corrupção.
Com esta total ausência de paradigmas e com a morte das ideologias e das doutrinas políticas, outrora geradas no desenrolar da modernidade iluminista, o momento atual aponta para a necessidade de transformação. A crise também pode ser reveladora de um momento de criação. É fazer da adversidade e da turbulência uma oportunidade de mudança! E esta mudança depende muito mais da vontade da sociedade civil organizada que dos governos, não raro, ainda imersos no arsenal da burocracia e da inércia administrativa que não só encobre a corrupção como inibe a criatividade daqueles mais ousados.
Sabemos que novas lideranças surgem no cenário político nacional, sabemos do anseio da população em transformar o Brasil, não apenas em relação ao aspecto sócio-econômico, mas sobretudo, na ética, no sentido mais amplo que este conceito possa exprimir. É com esse espírito de um novo tempo que acreditamos que a tão sonhada mudança só virá através da constante participação popular e da implementação de novas metodologias e modelos de gestão pública que viabilizem o acompanhamento e o monitoramento constante das ações empreendidas pelos governantes.
Oxalá possam ser executados pelos governantes novos modelos de gestão que ousem descortinar outros horizontes para além desta realidade atual em que a ética e a moral dos homens públicos vem sendo chafurdada. Um novo conceito de gestão que possa instigar o homem público a pensar e, sobretudo, a agir sempre com total transparência.
Qual será o diferencial que estes novos homens públicos do século XXI precisam ter para transformar o nosso país? Que percepções de mundo eles deverão ter? Quais suas novas atribuições neste mundo tão globalizado quanto injusto? Como administrar tantos conflitos e jogos de interesses antagônicos?
Estamos acostumados a pensar nos defeitos, nos desvios, e nas falcatruas, mas será que passamos para o passo seguinte? O leitor poderá estar se perguntando, mas qual é mesmo o passo seguinte? É propor soluções! É agir de forma positiva, é potencializar as virtudes e as forças de cada homem público de bem neste país! É contribuir com o que achamos que é pouco, mas que somado a tantos outros poucos pode se tornar muito! É olhar para os que caminham conosco com o olhar de parceiros e não de inimigos! Os nossos concorrentes podem se tornar aliados, mas isso depende da forma como vemos o mundo!
É, portanto, esta a reflexão que devemos fazer para o futuro, procurando enxergar e, principalmente, viabilizar as soluções em meio a tantos problemas. Mais do que nunca precisamos ultrapassar urgentemente a fase dos "diagnósticos" e avançar no tempo e no espaço.
A Era da Informação está permeada por muitos aspectos que não podem mais passar despercebidos. A vida, o país, os governos e as ações políticas e públicas não podem ser deixadas ao acaso e sob o controle de qualquer um que apareça. Temos de assumir as rédeas da política, temos de conhecer, na medida do possível, todos os aspectos e atores envolvidos na questão para que possamos agir e cobrar dos nossos representantes.
É por isso que, em questões de interesse público, é fundamental a participação de cada um de nós para que a mudança ocorra, posto que cada indivíduo - além dos governos - é também co-responsável por tudo o que nos cerca.
A responsabilidade de termos governos ingovernáveis é nossa, que muitas vezes negamos o nosso direito ao voto, que não acompanhamos as ações públicas, que não nos lembramos em quem votamos, que consentimos certos absurdos sem nos manifestarmos de forma contundente. Que, muitas vezes, não conhecemos os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos.
A verdadeira mudança só virá quando eu e quando você, caro leitor estivermos imbuídos desta nova consciência de que todos somos responsáveis pelo que acontece ao nosso redor e torna-se necessário que cada um faça a sua parte para transformarmos o nosso país em uma verdadeira Nação, fundada na Ética e na Justiça.
* Antônio Agenor de Melo Barbosa é arquiteto, urbanista, Mestre em Urbanismo (UFRJ), Doutorando em Arquitetura (UFRJ) e Professor de Urbanismo e Planejamento e Evolução Urbana (UGF, UVA e Unipli).
* Gisela Verri de Santana é arquiteta, urbanista, Mestre em Desenvolvimento Urbano (UFPE) e professora de Urbanismo da Universidade Santa Úrsula.
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