Autor original: Graciela Baroni Selaimen
Seção original: Artigos de opinião
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De 9 de agosto - aniversário da morte de Betinho - a 15, haverá, no país, uma grande mobilização em torno da Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade. A motivação é despertar gestos de pessoas e instituições que façam multiplicar exemplos de cidadania e solidariedade.
É o caso da indústria Tevah, no Rio Grande do Sul, que dedica um dia de toda a sua produção de agasalhos à população de baixa renda ou da escola Florestan Fernandes, do MST, em São Paulo, que educa seus alunos conscientizando-os de sua responsabilidade política e incutindo-lhes visão histórica.
Qualquer pessoa ou instituição - movimento social, denominação religiosa, ONG, escola, empresa, associação etc. - pode e deve participar da Semana, recriando-a no local onde se insere. Basta promover algo que reforce a cidadania e a solidariedade: mesas-redondas; campanhas; palestras; mutirão que beneficie, sem assistencialismo, a população de baixa renda.
A Semana estará centrada nas Metas do Milênio, aprovadas por 191 países da ONU, em 2000. Todos, inclusive o Brasil, se comprometeram a cumprir os oito objetivos até 2015: 1) Acabar com a fome e a miséria; 2) Educação básica de qualidade para todos; 3) Igualdade entre sexos e valorização da mulher; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde das gestantes; 6) Combater a Aids, a malária e outras doenças; 7) Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
Não há quem não possa fazer um gesto na direção desses oito objetivos: debater em sala de aula as causas da pobreza e os entraves à melhor distribuição de renda; introduzir na escola educação nutricional e o programa Jovem Voluntário, Escola Solidária; promover painel sobre Chico Mendes, exposição sobre os direitos dos povos indígenas ou ações de combate ao trabalho e à prostituição infantis; participar do Fome Zero ou organizar uma horta comunitária; lutar pela melhoria da educação, do acesso a medicamentos seguros e baratos ou abrir um curso de alfabetização de adultos; denunciar o preconceito contra homossexuais e o uso da mulher no estímulo ao consumismo; fortalecer a Pastoral da Criança e discutir a relação entre explosão demográfica e crescimento econômico com desenvolvimento social; conscientizar sobre os riscos da Aids, as causas da malária e o aumento de doenças decorrentes do desequilíbrio ecológico; atuar na implantação da reforma agrária, visitar e apoiar acampamentos e assentamentos rurais e pesquisar o que é desenvolvimento sustentável etc.
Há na esquerda quem torça o nariz para as Metas do Milênio. O mesmo erro foi cometido quando os verdes, décadas atrás, levantaram a bandeira da ecologia. Felizmente Chico Mendes nos abriu os olhos, ensinando que a preservação do meio ambiente é uma das poucas bandeiras que mobilizam adeptos em todas as classes sociais.
A Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade não é uma iniciativa do governo, embora conte com o seu apoio e participação. É uma proposta da sociedade civil, visando mobilizar a nação em torno de ações concretas que nos permitam construir o "outro mundo possível". E priorizar, em pleno neoliberalismo que assola o Planeta, valores antagônicos ao individualismo e à competitividade, como o são a cidadania e a solidariedade.
A pergunta central que a Semana pretende levantar é: o que estamos fazendo para mudar o mundo? O que faz você, a sua escola, a sua comunidade religiosa, o seu movimento social, a sua empresa? Queixar-se é fácil e reclamar não é difícil. O desafio, porém, é agir, organizar, conscientizar, transformar.
"Diários de motocicleta", filme de Walter Salles, mostra a cena em que Ernesto Guevara decide, na noite de seu aniversário, mergulhar no rio que o separava da comunidade de hansenianos. Naquele momento, Che optou pela margem oposta a da cidadania e da solidariedade. Não ficou na margem em que nascera e fora criado, cercado de confortos e ilusões, nem se reteve "na terceira margem do rio", aquela dos que se isolam em suas convicções sectárias e jamais completam a travessia. É esta opção que a Semana quer incentivar. Porque nós podemos mudar o Brasil e o mundo. Basta passar das intenções às ações.
Mais informações em www.nospodemos.org.br ou pelo correio eletrônico semanacidadania@terra.com.br.
* Frei Betto é escritor. Fonte: Alai (Agência Latino-Americana de Informação)
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