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União e informação contra o HIV

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor





União e informação contra o HIV


No início, conviver com o HIV era se inconformar com o desconhecido e se retirar da vida. Assim começa a história de luta de cada um dos coordenadores do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), criado em 2000, em Recife (PE). Unidos pela necessidade de resgatar a auto-estima e de batalhar pelos seus direitos, eles transformam as suas vidas enquanto trabalham para prevenir a população contra a epidemia da Aids e para estimular o ativismo e a educação de outras pessoas soropositivas.

"Para mim e outras pessoas esse projeto criou uma perspectiva de futuro, de continuidade da vida. Antes, ter o vírus era um atestado de morte pra mim. Eu me sentia excluído de todas as atividades. Hoje me sinto uma pessoa útil e capaz de ajudar outras pessoas", diz o coordenador geral da entidade, Wladimir Cardoso Reis.

O grupo começou a atuar em comunidades pobres de Recife, com a intenção de adequar as mensagens de prevenção à linguagem daquela população. "Outras ONGs forneciam informação sobre Aids, mas não na linguagem mais adequada para aquelas pessoas", conta Wladimir.

Foi no teatro de rua que o grupo encontrou a melhor forma de se comunicar com o público do seu projeto. Formou-se então o grupo de teatro "Turma da prevenção". Com a parceria de outros grupos, organizações governamentais e não-governamentais, o trabalho da "turma" se estendeu a outras localidades na Região Metropolitana de Recife e no interior do estado.

Hoje, além do teatro, o grupo realiza outros projetos de prevenção às DST/Aids, como o "Mercadores de ilusões", voltado para a abordagem e a formação de multiplicadores de informação em locais de prostituição masculina, e ações pontuais ao longo do ano. Há também o projeto "Horas positivas", que, por meio de reuniões semanais na sede da entidade, busca levar informação às pessoas soropositivas, fortalecer a sua auto-estima e integrá-las às suas famílias e à sociedade.

O próximo passo do GTP+ é montar um telecentro. O espaço e os computadores – que foram doados recentemente pelo Banco do Brasil – já estão garantidos. Agora falta fazer a instalação e buscar parceiros para realizar a capacitação. Segundo Wladimir, o telecentro será voltado para o público do "Mercadores de ilusões". A intenção é capacitar em Internet para criar possibilidades de profissão alternativas à prostituição. Esse novo projeto incluirá os travestis, grupo que passará a participar do "Mercadores de ilusões".

Sujeitos de políticas

Outro grande objetivo do GTP+ é estimular a participação política das pessoas soropositivas, a fim de diminuir o preconceito, favorecer a cidadania dessas pessoas e fortalecer a prevenção. Na opinião do coordenador de Comunicação e Eventos do GTP+, Reinaldo de Brito Barreto, integrante do grupo que está há mais tempo com o vírus, é preciso dar voz para que quem vive o problema possa defender seus interesses. "Aqui havia pessoas solidárias de organizações que falavam por nós – portadores de HIV e doentes de Aids. Mas nem sempre defendiam nossos maiores interesses, pois não estavam no hospital enfrentando a falta de medicação e de atendimento. Eles viviam esse problema à distância", diz.

Atualmente, representantes do GTP+ estão presentes em diversos espaços e movimentos, como o Conselho Municipal de Saúde, a Articulação Aids no estado, o Fórum de Mulheres de Pernambuco e o Comitê Assessor de Pesquisa e Vacinas. "É extremamente importante que nós passemos a ser também sujeitos das políticas de prevenção do HIV", reforça Wladimir.

Josefa Severina da Conceição, coordenadora de programas sociais e educadora social do GTP+, que descobriu ser portadora do vírus há dez anos, encontrou no trabalho do GTP+ uma forma de estimular outras pessoas a melhorarem a sua relação com a sociedade e lutarem pela sua cidadania. "Minha primeira filha morreu de Aids com seis meses. Foi aí que descobri que eu tinha a doença. No início eu não acreditei. Até então, eu não tinha nenhuma informação sobre o assunto. Achava – como muita gente – que Aids era coisa de prostituta e de homossexual. Eu sentia medo, não sabia o que fazer", conta Josefa, que, ao buscar informações sobre a doença, resolveu assumir outra postura. "Eu me interessei em participar do movimento, junto com outras pessoas que tiveram coragem de assumir, segurar a bandeira e lutar pela vida. Só quem passou por essa experiência sabe como é difícil. Por isso sinto que a gente tem a obrigação de estimular outras pessoas a lutarem por seus direitos e sua cidadania", diz.

Para entrar em contato com o Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), basta escrever para gtp@gtp.org.br ou telefonar para (81) 3231-0905.

Mariana Loiola

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