Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
![]() | ![]() |
Se o discurso que defende a qualidade tolerante do povo brasileiro muitas vezes esconde o lado cruel do preconceito, os homossexuais são um dos grupos que mais sofrem os efeitos dessa rejeição da diversidade. De acordo com o fundador do Grupo Gay da Bahia e professor do Departamento de Antropologia da Universidade da Bahia, Luiz Mott, a cada três dias um gay, lésbica ou travesti é assassinado, vítima da homofobia no país. Para lidar com esse tipo de violência, geralmente ligada à falta de informação, a Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura está criando o Grupo de Trabalho de Promoção da Cidadania GLTB (gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais) com o objetivo de incentivar toda a produção artística que promova a cultura da não-discriminação. Essa iniciativa é uma das etapas do programa Brasil sem Homofobia, lançado em maio pelo governo.
"A secretaria tem a missão de preservar a identidade e valorizar a diversidade para que possamos fortalecer a auto-estima desses grupos discriminados", explica a técnica do Ministério da Cultura responsável pelo grupo de trabalho, Flávia Galiza. Segundo ela, o objetivo principal do GT é fazer um mapeamento e dar visibilidade à produção cultural GLTB no país.
Para este ano, está previsto um concurso de monografias sobre o tema. "Estamos organizando também um fórum para debater as questões colocados no GT", adianta Flávia. Além dessas iniciativas, a secretaria está, através das leis de incentivo à cultura, registrando toda a produção cultural com a temática homossexual. "Antes, quando um livro era submetido à nossa avaliação, ele era aprovado por ser um objeto cultural e não pelo seu conteúdo. Hoje, analisamos o tema, pois queremos definir, por exemplo, quantas obras existem sobre o assunto", explica.
Uma das reivindicações de Luiz Mott, convidado especial do GT, é que as bibliotecas públicas adquiram livros sobre o tema. Segundo ele, hoje é praticamente impossível realizar uma pesquisa sobre homossexualidade. "Queremos incentivar a compra e a distribuição de livros básicos sobre a cultura GLTB, pois é difícil encontrar literatura com essa temática", diz Mott.
A estimativa é de que entre 6% e 10% da população brasileira seja formada por homossexuais. Esta parcela considerável de cidadãos e cidadãs não tem acesso a nenhum registro importante da cultura GLTB. "Eu defendo a recuperação da nossa memória há muito tempo. Encontramos o resgate da cultura dos afro-descendentes, das mulheres, das populações indígenas, mas sobre os homossexuais, tudo se perde", condena Mott. Para preencher esta lacuna, uma das reivindicações que o professor vai levar para Brasília será a criação de um museu da cultura GLTB. Para Luiz Mott, contar a história do carnaval é uma das formas de construir um pouco do passado dos homossexuais no país.
Apesar de ver com bons olhos a iniciativa do Ministério da Cultura, Mott explica que as ações no âmbito do governo ainda são muito tímidas. Apenas nos ministérios da Saúde e da Justiça as ações afirmativas são mais freqüentes e enérgicas. "Isso acontece porque, infelizmente, a homossexualidade ainda está muito ligada à AIDS e à violação dos direitos humanos", lamenta o professor. Outra crítica que faz ao governo é a forte resistência do Ministério da Educação, peça-chave na campanha de combate à homofobia, em aderir ao movimento. "O ministério ainda resiste em incluir representantes do movimento GLTB nos seus quadros", reclama.
Todas as propostas discutidas e aprovadas pelo grupo serão encaminhadas a comissões específicas de cada ministério para que sejam analisadas. Luiz Mott adianta que o GT vai dar prioridade à realização de uma campanha nacional envolvendo bibliotecas, cinemas, teatros, artes em geral, que abordem o tema da homossexualidade ou da homofobia. "Queremos patrocinar filmes, peças e exposições com a temática para quebrar esse complô do silêncio que dá margem ao preconceito e à violência".
Para Flávia Galiza, apesar de tímida, a criação do GT é apenas o primeiro passo: "O nosso objetivo principal é uma mudança na sociedade para que haja mais respeito às diferenças. Esperamos fazer com que esse grupo se fortaleça e quem sabe seja possível transformá-lo numa pasta permanente".
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer