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Berço de novos empreendedores

Autor original: Viviane Gomes

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor





Berço de novos empreendedores


O Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH) lançou no dia 13 de agosto, no Rio de Janeiro, a Incubadora de Projetos de Profissionais e Empreendedores Afro-Brasileiros. A idéia do projeto é utilizar a metodologia das incubadoras de empresas [leia mais no box ao lado] para implementar e desenvolver iniciativas de economia solidária, minimizando e corrigindo a discriminação sofrida por profissionais negros com relação ao reconhecimento do valor do seu trabalho.


O censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), em 2000, reforça a importância do projeto. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, há uma disparidade da renda média recebida por trabalhadores negros e brancos, que exercem a mesma função ou atividade, com o mesmo grau de escolaridade. Homens brancos recebem R$ 1.236,00. O rendimento médio mensal de mulheres brancas é de R$ 785,00. Homens negros recebem R$ 576,00 e o rendimento médio de mulheres negras é de R$ 383,00. "Isso é a etnização e a feminilização da pobreza. Elas aparecem quando cruzamos a variável étnica com a variável de gênero e o resultado é a superdiscriminação sofrida, principalmente, por mulheres negras", afirma explica Giovanni Harvey, diretor da incubadora e coordenador do Programa de Desenvolvimento Econômico do IPDH.


A idéia do projeto foi construída com base nas atividades desenvolvidas pelo núcleo de desenvolvimento econômico do IPDH ao longo de 15 anos. "Percebemos que as ações voltadas para a inserção do negro no mercado de trabalho não tinham ligação. Nossas capacitações estavam desassociadas das rodas de negócios. E as pessoas que participavam das rodas de negócios não contavam com assistência técnica necessária para a sustentabilidade dos projetos", explica Giovanni. Depois da avaliação, surgiu a proposta da criação de um Escritório Virtual. O projeto consistia em oferecer apoio logístico, formação e prospecção de novas oportunidades. Além disso, as iniciativas participantes do escritório compartilhariam acesso à Internet, telefones, fax e salas de reunião, entre outros itens de infra-estrutura com alto custo para quem está começando um empreendimento. A intenção do instituto era criar um ambiente favorável para o desenvolvimento e a sustentabilidade de iniciativas que pudessem contribuir com a inserção de afro-brasileiros no mercado de trabalho.


Somente em 2003, com a realização do planejamento estratégico da organização, o IPDH percebeu que o projeto tinha as características de uma incubadora. Diante da constatação, o instituto estudou o movimento das incubadoras de empresas e reformulou a iniciativa, rebatizando-a de Incubadora de Projetos de Profissionais e Empreendedores Afro-Brasileiros. O passo seguinte foi buscar viabilidade financeira para concretizar a idéia. E deu certo*.

Com o financiamento e o apoio de organizações não-governamentais, além de órgãos dos governos federal, estadual e municipal do Rio de Janeiro, a instituição se prepara para lançar, na primeira quinzena de setembro, o edital que vai selecionar 450 empreendimentos de afro-brasileiros de 25 a 55 anos da região metropolitana do Rio de Janeiro. Alguns critérios já estão definidos, tais como os setores dos projetos. "Aproximadamente 60% da população afro-brasileira economicamente ativa da região metropolitana do Rio de Janeiro atua na área de serviços, comércio e turismo. E essa é a vocação do estado", afirma Giovanni. Além desse critério, iniciativas promovidas por mulheres mantenedoras de domicílio terão olhar especial, assim como a idade do empreendedor. Giovanni ainda adianta que o nível de escolaridade não será impedimento. "A escolaridade não determina a capacidade empreendedora da pessoa. Quando a pessoa é empreendedora, ela vai em frente com a cara e com a coragem", explica.

As iniciativas ficarão na incubadora por três anos e serão agrupadas de acordo com o grau de maturidade do projeto apresentado. A primeira fase começa na segunda quizena de setembro, com a escolha de 150 novos projetos para participar da primeira turma de nivelamento. "É preciso que haja uma etapa de nivelamento para não reforçarmos desigualdades já existentes, tais como a escolaridade. As pessoas têm diferentes níveis de entendimento sobre o mercado de trabalho e sobre empreendedorismo. É preciso nivelar o conhecimento delas", justifica Giovanni. Em janeiro de 2005, mais 150 projetos entram na incubadora, somando 300 iniciativas. Em abril, mais 150, totalizando 450.

As aulas e o ensino continuam. No segundo ano do projeto, os novos empreendedores do estado vão realizar atividades ligadas ao desenvolvimento do potencial gerencial do empreendedor, ao desenvolvimento comercial dos negócios, à definição de produtos, mercados, qualidade, atendimento, noções de economia e de exportação. "No terceiro ano de incubação, no segundo semestre de 2007, faremos o acompanhamento dos planos de negócios. A idéia é que todas as iniciativas estejam prontas para ingressar no mercado formal, causando até impacto no PIB da região," diz Giovanni. O entusiasmo tem uma razão. Em 2007, o Rio de Janeiro vai sediar os Jogos Pan-Americanos e o IPDH quer aproveitar o crescimento da demanda por serviços, comércio e turismo que a atração vai causar no estado. "Queremos pensar nisso agora. Não dá para pensar nisso quando os jogos começarem. Até lá, queremos que esses projetos tenham solidez e temos tempo para nos preparar para oferecer produtos e serviços de qualidade", justifica.

O intuito real do projeto é alterar a paisagem do empreendedorismo, abrindo oportunidades para iniciativas de afro-brasileiros. "Não queremos criar a Associação dos Diretores Lojistas Afro-Brasileiros", diz Giovanni. "Queremos, com essa incubadora, empoderar as pessoas para que elas possam disputar e dividir o poder nas grandes organizações empresariais do Rio de Janeiro, porque infelizmente não encontramos negros nessas instituições. No horizonte de uma década, queremos ver negros dirigindo essas entidades," finaliza.

Viviane Gomes

* A principal financiadora da incubadora é a Petrobras, que apóia o projeto a partir do compromisso, assumido com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), de promover a justiça social e a superação das desigualdades raciais e étnicas na sociedade brasileira. A incubadora conta também com o apoio da IAF (Interamerican Foundation), da Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor), da Fundação Getúlio Vargas, do Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro, da Delegacia Regional do Rio de Janeiro do Ministério do Trabalho, do Instituto de Tecnologia Social, do Grupo de Economia do Trabalho do Instituto de Economia da URFJ, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, da Prefeitura, da Caixa Econômica Federal, do Instituto Brasil Social e da Coordenação de Interação Comunitária da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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