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Revivendo o passado

Autor original: Luísa Gockel

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

No Brasil, existem mais de 600 mil soropositivos, são infectadas diariamente 300 pessoas pelo vírus HIV e mais de 800 doentes morrem de Aids a cada mês, de acordo com o Manifesto das ONGs do Brasil, lançado na Conferência Internacional de Aids, em Bangkok. Apesar do reconhecido programa de distribuição de anti-retrovirais do governo brasileiro, a Aids está longe de ser controlada no país. Para tentar alertar as autoridades sobre a banalização da epidemia e reunir pacientes, ONGs e profissionais que lidam com a doença no seu dia-a-dia, os grupos Pela Vidda Rio e Niterói organizam de 10 a 12 de setembro, no Rio de Janeiro, a 12ª edição do Vivendo (Encontro Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids).

O tema do encontro deste ano será "Eu vejo o futuro revivendo o passado", que, de acordo com a presidente do Pela Vidda de Niterói, Narda Tebet, é um alerta para que a sociedade perceba a necessidade de discutir questões sobre a doença que já eram consideradas superadas. "Escolhemos esse tema porque vendemos ao mundo a imagem de que estava tudo bem no Brasil. Se a epidemia estivesse controlada, por que cresce o número de infectados no país? Temos coisas antigas para serem debatidas ainda, como a educação sexual", esclarece Narda. Para ela, esta é uma questão polêmica, que esbarra nos setores mais conservadores da sociedade. "Temos de lidar com posições contrárias ao uso do preservativo, como a defendida pela Igreja, por exemplo", lembra.


Mesmo encontrando resistência ao uso da camisinha em alguns setores da sociedade, para Narda, no Brasil, o principal entrave ao controle efetivo da epidemia de Aids é a péssima condição social dos brasileiros. "Se uma pessoa não tem o que comer, como vamos falar para ela que deve usar preservativo?", questiona.


Segundo ela, ainda não houve uma "grande conscientização". Por isso eventos como o Vivendo são fundamentais para enriquecer o debate sobre as questões que ainda estão pendentes sobre a Aids e descobrir o que há de novo sobre a doença. "Teremos mesas sobre vacinas, direitos humanos, qualidade de vida e de atendimento ao soropositivo. Um médico vai discutir também a resistência aos anti-retrovirais. Quem está fora do eixo Rio-São Paulo não tem muito acesso às novidades", explica.


Para o presidente do Pela Vidda do Rio, William Amaral, a resistência ao coquetel será a principal questão dos portadores de HIV daqui para a frente. Apesar de a distribuição de anti-retrovirais ser eficiente, quando o paciente passar a depender de uma nova geração de medicamentos, ele terá de arcar com os custos. "Os novos remédios são todos patenteados e para quebrar uma patente é preciso muito investimento e vontade política. O acesso a essas novas drogas será um desafio", acredita William.


Todas essas questões, segundo o presidente do Pela Vidda de Niterói serão debatidas no evento deste ano. Para ele, no entanto, um dos grandes desafios do encontro, além da discussão sobre o acesso dos doentes ao tratamento adequado, é lidar com a questão de gênero. Em todo o mundo, as mulheres já são maioria entre as pessoas infectadas – 58%. "A questão de gênero é um dos maiores entraves na prevenção. Como falar para uma mulher casada há muito tempo que ela tem de usar preservativo?", destaca.


Para William, proporcionar um encontro como esse é de extrema importância para o avanço da prevenção e do tratamento da Aids no país: "Mesmo com todas as dificuldades, temos sempre uma experiência enriquecedora. O Vivendo capacita e põe em contato pessoas que trabalham ou vivem com Aids em todo o Brasil. E isso é fundamental, porque é diferente trabalhar com a doença no Norte e no Sul", acredita.

Luísa Gockel

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