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C.A.I.S do Parto - rede de parteiras, agora na Internet

Autor original: Viviane Gomes

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Está no dicionário. Cais é um lugar à margem de rios, mares ou canais que facilita o embarque e o desembarque de passageiros, cargas e, por vezes, a atracação de embarcações. Em Olinda, Pernambuco, a palavra cais é homônima da sigla pela qual é mais conhecido o Centro Ativo de Integração do Ser - ou, simplesmente, C.A.I.S do Parto. A ONG, que trabalha há 13 anos para dar visibilidade ao trabalho das parteiras do norte e do nordeste do Brasil, inaugurou no dia 20 de agosto um telecentro. O espaço é aberto ao público e a idéia da entidade é fornecer capacitações para que as parteiras da região possam utilizar a Internet para se comunicar e se fortalecer.


A procura pelo telecentro causou supresa na primeira semana. As pessoas queriam saber se podiam fazer inscrição para o vestibular, baixar manuais e obter informações sobre as atividades que serão realizadas no espaço, que funciona de segunda a sexta, das 8h30min às 17h. Para atender às demandas do público, o C.A.I.S do Parto já começou a constuir uma grade de cursos relacionados a Internet e comunicação voltados para a comunidade e as parteiras tradicionais. "Quando falamos para as parteiras sobre o telecentro, elas disseram que isso era um sonho. Porque os filhos e netos delas não têm paciência para explicar e dizem que elas não têm capacidade de aprender informática. Aos poucos os grupos para a facilitação serão formados. Estamos envolvidas com a inclusão digital para empoderar as mulheres", afirma Marla Carvalho diretora técnica e política do C.A.I.S do Parto.


Para articular, mobilizar e promover a troca de experiências entre as parteiras de todo o Brasil, o  C.A.I.S do Parto criou e coordena a Rede Nacional de Parteiras Tradicionais. A comunicação da rede é feita por rádio, e foi por isso que a organização submeteu o projeto ao concurso Cyberela, promovido pelo Cemina (Comunicação, Educação e Informação em Gênero) para viabilizar o uso de novas tecnologias de comunicação para mulheres radialistas das regiões Norte e Nordeste que atuam no campo dos direitos das mulheres, especialmente em rádios comunitárias. "Muitas vezes a rede de parteiras tem dificuldades para funcionar, devido à distância entre os grupos. Com o telecentro esperamos fortalecer a rede e, como o telecentro é aberto ao público, vamos promover cursos para capacitar a comunidade em informática para que a população tenha mais chances no mercado de trabalho e divulgar as informações do acervo da organização sobre saúde, gênero, cidadania, educação, ecologia e cultura", diz Marla.


Atuação política


De 21 a 25 de setembro, será realizada, em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, a reunião Rede Nacional de Parteiras Tradicionais e o Encontro Internacional. Entre os temas que compõem a pauta estão o desenvolvimento do projeto Casa das Parteiras e o debate sobre o projeto de lei que está tramitando no Congresso para regulamentar a atividade. Sueli explica que grande parte das parteiras tradicionais, chamadas assim porque são a continuidade da fusão das culturas de nascimento das parteiras africanas e indígenas, são mulheres que estão na terceira idade e têm baixa escolaridade. Dados do Ministério da Saúde, de 1991, mostram que no Brasil há 60 mil parteiras e, destas, 85% são analfabetas. "Há uma pressão grande para fazer com que as parteiras tradicionais se tornem enfermeiras obstetras e se adaptem ao sistema. Mas se as parteiras trabalharem em hospitais como enfermeiras obstetras, a cultura das parteiras tradicionais, cujo saber é inquestionável, vai acabar", desabafa a presidente do C.A.I.S.


Mesmo a baixa escolaridade não vai impedir que as parteiras se comuniquem pela Internet. Os cinco computadores do telecentro são equipados com programa de voz. Além disso, possuem webcam e microfone. "Alfabetizar essas mulheres para que elas possam navegar pela Internet seria um processo excludente. A informática já é excludente para mulheres - e especialmente para a terceira idade. A idéia é iniciar uma reflexão sobre a eqüidade de gênero e empoderamento da mulher na inclusão digital".


Viviane Gomes

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