Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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No começo de agosto, o governo brasileiro organizou uma série de viagens a cinco países da África (África do Sul, Moçambique, Namíbia, Angola e São Tomé e Príncipe) com intuito de melhorar as relações entre o Brasil e os países daquele continente. As conversas, entretanto, concentraram-se em aspectos comerciais como a diminuição de barreiras tarifárias e investimentos. Para ampliar as discussões e começar a abordar temas como a cooperação entre a sociedade civil organizada da região do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e da Comunidade de Desenvolvimento do Sul da África (CDSA) está sendo desenvolvido o “Diálogo entre os Povos Africanos e Latino-americanos”, cuja primeira reunião aconteceu em 9 de setembro em Johanesburgo (África do Sul).
Lá estiveram presentes 40 organizações de Brasil, Uruguai, Argentina, África do Sul, Angola, Malawi, Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, além de representantes da Índia. O objetivo do encontro foi debater assuntos do interesse das sociedades civis dessas áreas e meios de inseri-los nas agendas oficiais. "Desenvolvimento sustentável, modelos alternativos e necessidade de construir um mundo multipolar são alguns dos temas que queremos discutir. Queremos lançar as bases de um diálogo duradouro, contribuindo para uma integração entre os países que vá além da mera agenda comercial. A idéia geral é que os povos do Sul se fortaleçam mutuamente", exemplifica Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), entidade que coordena o diálogo junto com a sul-africana Alternative Information and Development Centre (AIDC). Também estiveram presentes na África do Sul, representando o Brasil, Fase, CUT, Instituto Equit, Rebrip; Instituto Terra Azul e o Centro de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Candido Mendes.
Em Joanesburgo não foi elaborado nenhum programa de ação, pois, segundo os brasileiros presentes, o momento ainda é de identificação de temas que podem ser inseridos em agendas comuns, como as questões sindicais, de meio ambiente, comércio e indústria, gênero e comunidades rurais. “Fizemos um mapeamento da situação de cada país, para todos identificarmos problemas comuns e percebemos um grande potencial de cooperação”, diz Maurício Santoro, pesquisador do Ibase.
Para aprofundar essa troca, serão feitos estudos sobre a história do Mercosul e do CDSA. Será avaliado o potencial desses grupos diante das demandas de movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Haverá também pesquisas sobre a aplicabilidade de alternativas e, assim, estratégias de ação serão definidas. Tudo será discutido anualmente em encontros como o de Joanesburgo. “Precisamos aumentar a participação da sociedade civil nos blocos comerciais. Apesar de termos diferentes sistemas políticos, principalmente na África, há muitas coincidências no processo de inserção na globalização”, lembra o assessor técnico da CUT Marcelo Mariano.
O Diálogo é lançado em um momento em que os governos do Brasil, África do Sul e Índia aprofundam as discussões sobre o Fórum IBSA (Índia-Brasil-África do Sul), que visa à cooperação política e comercial entre os três países. A aliança pretende fortalecer o poder de barganha do trio em negociações multilaterais. Ao mesmo tempo, acontece uma aproximação comercial entre Brasil e países africanos integrantes do CDSA, bloco econômico que reúne 206,4 milhões de habitantes e produz US$ 162,2 bilhões. Compõem o CDSA Angola, Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Malawi, Ilhas Maurício, Moçambique, Namíbia, Ilhas Seichelles, África do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue.
O próximo encontro das entidades que compõem o Diálogo será no Fórum Social Mundial de 2005, que acontece em Porto Alegre durante uma semana de janeiro. Os participantes também lançarão um site, mas ainda não há data definida para ele ir ao ar.
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