Vontade de arte

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Preocupada com a realidade de adolescentes de baixa renda que convivem com a desagregação familiar, a falta de estímulo para os estudos e oportunidades limitadas de trabalho, a artista plástica e ceramista Márcia Limani criou, no Rio de Janeiro, a associação sem fins lucrativos Oficina do Outeiro e o seu Projeto Jovem Ceramista, iniciado em março de 2002. A iniciativa tem por finalidade oferecer a jovens como esses que estejam estudando em escolas públicas a capacitação inicial na arte da cerâmica. A idéia é que esses jovens possam atuar como ajudantes, futuros ceramistas ou multiplicadores dessa arte. Entre os apoiadores do projeto estão o Instituto Kinder do Brasil, uma organização suíça que desenvolve programas sociais no país, e a Prefeitura do Rio.

A motivação para desenvolver o projeto surgiu quando a artista plástica participava do Artes de Portas Abertas, evento cultural que acontece todos os anos no bairro de Santa Teresa, e do Projeto Jovens Aprendizes, realizado com jovens de escolas municipais daquela região. "Uma menina que participava do Jovens Aprendizes contou que só entrou para receber os R$ 50 que o projeto oferecia. Quando passou a entender o trabalho e a arte que estava fazendo, mudou o seu modo de pensar e quis passar o que aprendeu para outros jovens de uma região pobre da Bahia, onde ia morar", conta Márcia.

A história da menina despertou em Márcia o desejo de fazer um trabalho semelhante com foco na sua arte – a cerâmica. Márcia entende que a expressão artística – em especial a cerâmica – pode servir como instrumento de socialização desses jovens, além de complementar a educação formal oferecida pela escola e permitir uma nova possibilidade de inclusão no mercado de trabalho. Durante dois anos a artista plástica buscou apoio financeiro para iniciar a oficina. Desde então, passaram pelo Jovem Ceramista 52 adolescentes de 13 a 19 anos.

Os alunos moram em comunidades de baixa renda como o Vidigal e a Rocinha, que ficam próximas ao local do projeto, no bairro do Jardim Botânico. Os únicos requisitos para participar são: estar matriculado em escola pública e ser proveniente de família de baixa renda.

As aulas são realizadas com a ajuda de ceramistas voluntários e são semanais, com três horas de duração. Os adolescentes utilizam as técnicas em cerâmica para produzir jarros, pratos, vasos, quadros, entre outros objetos de utilidade doméstica e de decoração. Quando há uma exposição, os alunos vão à oficina com uma freqüência maior, para dar conta das encomendas.

Além de preparar as peças, eles aprendem a vendê-las. "Ensinamos como lidar com o público, como falar sobre o projeto e apresentar o produto", afirma Márcia. As exposições acontecem em universidades, colégios, feiras e eventos culturais etc. Metade da renda obtida com a comercialização das peças é revertida para os jovens ceramistas; a outra metade é revertida para o próprio projeto. Não é muito, mas é intenção de Márcia tornar o projeto auto-sustentável, com uma equipe maior e um ponto de vendas. Atualmente a instituição busca apoio para uma exposição no exterior. Márcia também planeja a incorporação de capacitações paralelas em empreendorismo e cidadania para o fortalecimento pessoal dos jovens.

"A idéia do projeto é montar uma semente. Não prometo a eles que serão artistas conhecidos, que vão sair daqui com emprego garantido", pondera. "Digo que é preciso correr atrás como em qualquer trabalho".

Alguns alunos já tiveram a oportunidade de trabalhar em ateliês como ajudantes. Outros pretendem prosseguir o trabalho como ceramistas independentemente da profissão que escolherem, como Adeílson Silva, de 16 anos. O jovem, que está no primeiro ano do segundo grau, entrou no projeto por curiosidade e não pensa em sair tão cedo. Além de achar a atividade relaxante, Adeílson está bastante empolgado com a descoberta da nova habilidade. "Nada é impossível de fazer com a cerâmica, basta ter vontade".

Para entrar em contato com a Oficina do Outeiro, ligue para (21) 2249-6371 ou escreva para contato@oficinadoouteiro.org.br ou jovemceramista@terra.com.br.

Mariana Loiola