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Saúde e consciência política

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor





Saúde e consciência política

A cura de doenças e a manutenção da saúde podem estar nas mãos da própria população. É a partir deste princípio que o Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP) desenvolve o seu trabalho. Fundado em 1988, o CNMP desenvolve ações voltadas para a educação popular na área da saúde em Pernambuco, Paraíba e no Rio Grande do Norte. As atividades buscam a formação, mobilização e articulação de grupos comunitários com o objetivo de qualificá-los para a sua participação nas políticas públicas de saúde de seus municípios. Atualmente, o CNMP trabalha com mais de 300 comunidades urbanas e rurais nos três estados.

A história do CNMP começou em 1979, quando os fundadores da organização começaram a resgatar a utilização das plantas medicinais em bairros periféricos de Recife e buscaram respaldo científico para usá-las em atendimento clínico. Esse trabalho de pesquisa e resgate do saber popular, que mobilizava forças comunitárias, cresceu e passou a ter como objetivo principal contribuir para a saúde integral de comunidades menos favorecidas.

"A intenção do CNMP não é simplesmente curar pessoas, mas educar e cuidar da saúde integral da população. Trabalhamos com o conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo o qual saúde integral não significa só a ausência de doenças, mas o bem-estar social, cultural, político, sexual e ambiental", explica o assessor de comunicação do CNMP, Luca Sinesi.

O trabalho, que inicialmente era realizado em comunidades de baixa renda da Região Metropolitana do Recife, passou a ser conhecido e solicitado por organizações populares de outras localidades e hoje está presente também em nove microrregiões dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. A ampliação da área de atuação do CNMP constitui um dos quatro programas da entidade: o de extensão regional. Os outros programas tratam de segurança alimentar; políticas públicas de saúde, controle social e cidadania; e juventude. As atividades são dirigidas a grupos populares e agentes comunitários de saúde, pastorais sociais, grupos de mulheres, associações, sindicatos e assentamentos do Movimento dos Sem Terra (MST).

O programa de segurança alimentar abrange cursos e oficinas com ênfase em segurança alimentar, educação nutricional e preparação de remédios à base de plantas medicinais. Inclui também o estímulo a atividades produtivas que gerem renda e garantam a subsistência das famílias, como farmácias populares e o cultivo de hortas comunitárias. Neste programa, o CNMP procura fomentar, entre as comunidades, a discussão em torno da agricultura familiar, do uso de alimentos orgânicos, da ética na produção e distribuição dos alimentos.

O programa de políticas públicas de saúde, controle social e cidadania incentiva a comunidade a participar de espaços políticos para intervir em políticas públicas. Esse programa capacita lideranças comunitárias para atuarem em canais de controle social, como os conselhos municipais, estaduais e nacional de saúde. A partir deste trabalho, criou-se, em 2001, a Rede de Conselheiros Usuários de Saúde de Pernambuco.

"Hoje existem 105 conselheiros representantes de 45 municípios, que analisam os problemas de seus municípios, socializam experiências, se articulam e fazem propostas para melhorar as condições de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado", conta Luca.

Essas propostas são apresentadas em conferências municipais de saúde com bons resultados de aprovação, segundo a entidade. "Nós tentamos conscientizar essas comunidades de que são elas que vão poder mudar a sua situação e que vão ter que conquistar isso", diz Celerino Carriconde, um dos fundadores do CNMP.

Por meio do envolvimento com as comunidades, a equipe do CNMP – formada por profissionais de medicina, farmácia, nutrição, agronomia, enfermaria etc. – percebeu que deveria ter um atuação específica voltada para a juventude. Inicialmente a ação era feita apenas na área de sexualidade, gênero e prevenção de DST/Aids. Os jovens participam de oficinas e multiplicam as informações em escolas públicas de suas regiões. Hoje o programa de juventude engloba também cursos e oficinas de direitos humanos, cidadania, vídeo e fotografia para despertar nos jovens o interesse em ter uma participação ativa em suas comunidades e intervir nas políticas públicas de seus municípios.

Celerino diz que atualmente a instituição tem uma especial preocupação com a juventude para dar continuidade à sua proposta. "Temos que preparar novas lideranças", ressalta. Ao avaliar os resultados do trabalho do CNMP ao longo dos anos, Celerino demonstra otimismo quanto ao futuro: "Vemos cada vez mais as pessoas querendo participar de políticas públicas".

Mariana Loiola

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