Entre os dias 3 e 4 de novembro, as 20 economias mais desenvolvidas, agrupadas no G20, se reunirão na cidade francesa de Cannes para tomar decisões sobre as crises financeira e alimentar que abalam o mundo.Para pressionar por posições favoráveis à maior parte da população, a Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais e a Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) solicitaram audiência pública que ocorre nesta terça-feira (18), às 8h30, no plenário da Comissão de Meio Ambiente do Senado brasileiro.Participam um representante do Ministério da Fazenda, do Ministério das Relações Exteriores e de cada uma das redes sociais, bem como uma representante do Grupo de Mulheres da Rebrip.De acordo com Edélcio Vigna, assessor político do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) – entidade que faz parte da coordenação das redes –, embora a crise financeira esteja no centro das atenções midiáticas, o ponto mais polêmico a ser debatido na audiência é a crise alimentar, caracterizada pela volatilidade dos preços dos alimentos/commodities no mercado internacional."O Brasil está mais preocupado com a crise alimentar, que afeta a balança de pagamento do país, já que é produtor primário de commodities – soja, cana de açúcar, trigo, minérios etc”, explica.Frente a isto, as redes levam para a audiência um posicionamento bem definido: a não aceitação de medidas que protejam as commodities e, ao contrário, a defesa de políticas para que o povo tenha mais acesso a alimentos, com preços mais baixos, o que pode ocorrer a partir do desenvolvimento da Agricultura Familiar. Atualmente, o setor é responsável pelo abastecimento de 70% do mercado interno."Se o lema é erradicar fome e pobreza, [o governo] não pode cumprir isso se não oferece produtos alimentares para o povo, mas sim soja para alimentar animais da Europa. Somos contra isso! Não aceitamos nenhum acordo que prejudique a Agricultura Familiar. Queremos é que o governo se comprometa a fortalecê-la”, declara.Sobre a possibilidade de o governo levar para a reunião do G20 estas reivindicações sociais, o assessor pondera. "Nenhum governo é monolítico. Há setores ruralistas, como o Ministério da Agricultura, e há setores, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Meio Ambiente, a própria Casa Civil e outros que entendem que agronegócio tem peso na balança, mas pouco poder de redistribuição de riqueza”, analisa.Segundo Edélcio, o Ministério das Relações Exteriores, que faz a negociação com o G20, tem posição equilibrada, a favor de que benefícios do comércio internacional sejam repartidos de forma mais justa."Na audiência, pediremos ao ministério não esquecer que a cada dia o preço dos alimentos aumenta e que esse [mercado das commodities] já é um mercado bilionário, controlado por grandes empresas transnacionais, como Cargill, BIM”, acrescentou.Ele denunciou ainda que as transnacionais atualmente ficam com a maior fatia de lucro no mercado de commodities. "As corporações adiantam recursos para os produtores brasileiros e compram antecipadamente toda a produção. Depois, fazem a exportação, vendendo, muitas vezes, para suas próprias filiais em outros países. Os produtos industrializados voltam ao Brasil, onde são vendidos em supermercados pertencentes a estas transnacionais, na maioria das vezes. No fim, o produtor nacional não se beneficia tanto com este comércio”, argumenta.Com relação à crise financeira, que afeta principalmente Grécia, Portugal e Espanha, o assessor político avalia que Brasil vai seguir padrão de países desenvolvidos: socorrer bancos em crise para evitar que o sistema financeiro entre em falência. Contudo, por ser um país em desenvolvimento, não poderá injetar grandes montantes, mas apenas tentar escapar da crise ou ser atingido de maneira mais branda.Nesse assunto, a posição das redes sociais é a mesma do movimento Occupy Wall Street, acampado há quase um mês na praça Zucotti, em Manhattan, Nova Iorque, nos Estados Unidos. "Já houve 700 bilhões de dólares em 2008 para acabar com a crise e não deu certo. Colocar esse montante ou um superior novamente, em 2011, não vai resolver nada, são os mesmos atores, o mesmo tipo de crise. Os bancos não estão preocupados com o povo, mas sim com sua saúde financeira. O sistema vive de crise, portanto, vai ocorrer de novo. Injetar dinheiro é querer curar uma ferida profunda com bandaid”, compara.Por Camila QueirozJornalista da ADITAL
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