Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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A história de organização social e produtiva dos catadores de papel de Belo Horizonte terá um novo marco em janeiro de 2005, quando começará a funcionar uma das primeiras indústrias de reciclagem do mundo dirigidas pelos próprios catadores. A indústria consolidará um trabalho que teve início há 13 anos, com a criação da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (Asmare). De recolhedores de materiais, os catadores poderão também ter o domínio da cadeia produtiva de plástico – material escolhido para o novo empreendimento por ser considerado com maior possibilidade de aceitação e ascensão comercial.
A iniciativa tem como objetivo aumentar a renda do catador, por meio da eliminação da figura do comerciante intermediário. Este, também chamado de "atravessador", compra o material recolhido nas ruas pelos catadores a um custo baixo e revende para as fábricas transformadoras, ficando com a maior parte do lucro.
Além da Asmare, mais sete organizações de catadores de resíduos sólidos de municípios da região metropolitana de Belo Horizonte estão envolvidas no processo. Todas surgiram a partir da disseminação do modelo Asmare – em parceria com os técnicos da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte – e, juntas, formaram a Rede de Economia Popular Solidária dos Catadores de Material Reciclável da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Planejamento em rede
Para a construção da indústria, foi realizado um amplo estudo com as oito organizações, de modo a verificar a viabilidade econômica do projeto, a capacidade de produção, o impacto no mercado, entre outros componentes. "O planejamento estratégico dessa indústria vem sendo discutido há dois anos em reuniões mensais com as organizações que compõem a rede", conta José Aparecido Gonçalves, coordenador técnico do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável, entidade que oferece toda a coordenação do projeto. O Instituto Nenuca trabalha há 14 anos com os catadores de Belo Horizonte, visando à organização da coleta seletiva em benefício da inclusão social.
A gestão administrativa da indústria ficará a cargo de um conselho executivo, composto por dois membros indicados de cada uma das associações de catadores que integram a rede e dois representantes das respectivas prefeituras.
O espaço, que conta com a parceria da prefeitura de Belo Horizonte, da Fundação Banco do Brasil, da Brasil Previ e do Ministério do Trabalho, deverá ficar pronto até o final deste ano. Nos dois primeiros anos, o empreendimento será destinado à produção de matéria-prima (o plástico reciclado). Nesse espaço serão recicladas mais de 3.600 toneladas de plástico por ano que iriam para aterros sanitários. Em seguida, a indústria começará a fazer produtos como baldes, bacias etc. Um novo estudo deverá ser realizado para identificar os produtos mais rentáveis.
Melhoria da renda e da qualidade ambiental
Segundo José Aparecido, parte do capital gerado pela unidade de reciclagem será investido em novos projetos sociais na área. "Do lucro líquido gerado pela unidade de reciclagem, 50% serão reinvestidos na própria indústria, 25% irão para as associações que compõem a rede e os outros 25% serão destinados à criação de novos projetos", afirma.
Além de melhorar a renda e a qualidade de vida dos cerca de 560 catadores que fazem parte das organizações que compõem a rede, a indústria criará novos postos de trabalho na unidade de reciclagem e contribuirá ainda para a melhoria da qualidade ambiental, pois deverá reduzir o descarte inadequado de materiais plásticos em aterros não controlados.
Luiz Henrique da Silva, que faz parte da diretoria da Asmare, acredita que a indústria fortalecerá as organizações e ampliará o número de associados. "Ela vai gerar mais oportunidades de trabalho", prevê.
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