Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Mobilização social que surge a partir do bate-papo, da convivência e de uma relação afetiva com a comunidade: assim é atuação do Coletivo Comungos - Conexões Comunitárias, em Salvador, Bahia. Constituída oficialmente como ONG em 2000, a organização realiza trabalhos sociais com populações tradicionais ou de baixa renda da capital baiana desde 1997, apoiando o fortalecimento e a autonomia comunitária.
A história do Comungos começou com o interesse de um grupo de oito estudantes de psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) pela área social. O grupo criou um núcleo de estudos comunitários e deu início a um trabalho de intervenção em comunidades de baixa renda de Salvador.
A primeira intervenção foi em uma associação de jovens de Siribinha, comunidade que enfrentava problemas de infra-estrutura, como a falta de saneamento básico, coleta seletiva etc. O trabalho, segundo Fábio Giórgio, diretor de Comunicação da entidade, começou de modo informal e ganhou impulso a partir de uma pesquisa etnográfica solicitada através de um programa de extensão da UFBA. "Fizemos várias visitas para conhecer melhor como vivia aquela comunidade, quais eram os seus principais problemas e para saber o que as pessoas queriam mudar", conta. Um dos resultados dessas visitas informais foi a mobilização da comunidade para a formação de associações de jovens, de mulheres e de pescadores. O grupo do Comungos intensificou, então, a relação com essas associações – principalmente a associação de jovens –, pois percebeu a necessidade de expandir o espírito coletivo e colaborativo e de ajudá-las a lutar pelas necessidades da comunidade.
O espaço da próxima intervenção foi uma escola comunitária da comunidade de Calabar. O grupo do Comungos incentivou a equipe pedagógica a abrir mais o espaço da escola para a comunidade – tudo a partir de muita conversa com os alunos e professores. "Nossa proposta era chegar com calma e construir projetos junto com a comunidade", explica Fábio. Esse método, que privilegia a elaboração de projetos "de baixo para cima", desenvolvido informalmente, definia o perfil do grupo.
Outro projeto desenvolvido em Calabar, chamado Cultura e Cidadania – ou "Esquina", como foi apelidado –, buscou atingir os adolescentes e foi realizado nas ruas. "Nós íamos aonde eles estavam, para conversar, ensinar violão e falar sobre os problemas da comunidade", conta Fábio. O mais interessante desse projeto, ressalta, é que ele foi escrito em conjunto com duas pessoas da comunidade, portanto elaborado com os próprios beneficiários. "Foi o auge do nosso trabalho, que tem como princípio a intervenção feita de forma democrática".
Ao longo dos seus primeiros anos de atividade, a Comungos passou a ser reconhecida na região e conquistou apoios e parcerias de outras instituições além da UFBA, como Rits, Capacitação Solidária e Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), entre outras.
Nova etapa
O grupo passa agora por um período de avaliação e reformulação das suas atividades. A idéia é incluir outras possibilidades de atuação além do fortalecimento de grupos e movimentos sociais de base. Entre elas, a catalisação de informações e ações sociais em Salvador, por meio da promoção de encontros e trocas de experiências, e de debates abertos ao público em que as pessoas da comunidade também possam se posicionar. Outra possibilidade é apostar em trabalhos individuais e pontuais, como, por exemplo, um projeto que utilize as novas tecnologias, fotografia ou vídeo e aborde problemáticas sociais, voltado para grupos e organizações que atuam na área social, incluindo escolas públicas e comunitárias, explica Fábio. "É um outro estilo de intervenção".
O que não muda nessa nova etapa da trajetória da Comungos é a visão crítica do grupo em relação a questões sociais. "Continuamos com o olhar aguçado para o que acontece ao nosso redor e a inquietação com os problemas sociais, atentos ao que merece a nossa intervenção como cidadãos", garante.
Para entrar em contato com o Coletivo Comungos, basta escrever para comungos@comungos.org.br.
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