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Outro gênero de informação

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

"É importante os jornais levantarem questões como a que levanta a 'JC nas Ruas' de hoje. O comentário principal da coluna, intitulado 'Rosas despedaçadas', faz uma breve reflexão sobre o aumento do número de homicídios praticados contra as mulheres. Só que, provavelmente pelo pequeno espaço, o texto limita-se a atribuir a crescente violência contra a mulher à própria presença de pessoas do sexo feminino em atividades criminosas. Sabemos que não é bem assim. Por serem normalmente mais frágeis (fisicamente), mulheres são constantes vítimas de violências e abusos. Não raro, são agredidas pelos próprios companheiros. O comentário da coluna do JC não explora esses pontos, que são um prato cheio para uma ótima reportagem especial. Entidades como o Centro das Mulheres do Cabo, o SOS Corpo e o Fórum de Mulheres de Pernambuco são excelentes fontes para se conseguir informações atualizadas sobre este tipo de violação".

O trecho acima está publicado no blog Ombuds PE – iniciativa do Centro de Cultura Luiz Freire que monitora a abordagem de temas de direitos humanos pela mídia pernambucana – e reflete uma das preocupações do movimento de mulheres no estado: a abordagem adequada das questões de gênero. Ao final do texto, o blog relaciona algumas entidades que poderiam ter sido ouvidas pela reportagem.

Em maior escala, é justamente esse papel que o Fórum de Mulheres de Pernambuco pretende cumprir com o Guia de Fontes para Profissionais de Imprensa e Veículos de Comunicação: sugerir organizações e pessoas capazes de esclarecer dúvidas em pautas envolvendo mulheres ou temas normalmente discutidos pelas feministas.

A publicação tem o apoio da ONG Ação Mundo Solidário (ASW) e é uma iniciativa do projeto Mídia Advocacy, do programa Gênero, Reprodução, Ação e Liderança (Gral), da Fundação Carlos Chagas, em parceria com a Fundação MacArthur, o Instituto SOS Corpo e a Rede Feminista de Saúde. O lançamento foi no dia 18 de novembro, e o guia já está sendo distribuído aos profissionais da imprensa pernambucana. "Temos tido uma resposta muito favorável", comenta Ana Veloso, coordenadora do Fórum de Mulheres de Pernambuco. "Agora vamos fazer visitas a essas redações, bater um papo com os profissionais, ver como eles estão utilizando o guia e se ele está servindo aos objetivos que imaginávamos".

O guia foi produzido em formato de bolso e tem um índice temático com os principais eixos do movimento de mulheres pernambucano, de modo a facilitar a busca. Cada página é reservada a uma única entidade, com o resumo das suas atividades e os principais contatos. O objetivo é estreitar os laços entre a mídia e as organizações que defendem os direitos da população feminina em todo o estado. "O Guia de Fontes vai aproximar o movimento de mulheres pernambucano da mídia, facilitar o diálogo e o acesso à imprensa", diz Ana.

Atualização

Nessa primeira edição, o Guia de Fontes reúne 47 entidades e redes. A idéia é que a publicação seja renovada periodicamente. Uma atualização, aliás, já está sendo programada para o segundo semestre do ano que vem. Serão incluídas outras organizações que participam do Fórum, pois novos movimentos sociais e entidades são incorporados constantemente.

A elaboração do guia envolveu a realização de uma série de oficinas com lideranças locais. “A gente começou a fazer uma rede de contatos e passou a realizar essas oficinas principalmente para habilitar as mulheres em sua fala pública”, explica Ana Veloso. “Não é apenas o contato com a imprensa, mas também a forma de relação com as comunidades em que atuam. Queremos destacar a comunicação como campo de ação política. Não se trata apenas de saber 'conversar com a mídia', mas de entender como discutir os temas politicamente, até mesmo com os próprios jornalistas”.

Na análise da coordenadora do Fórum de Mulheres de Pernambuco, essas lideranças conseguiram perceber a importância de se posicionar de forma correta perante a mídia e entender como ela funciona. “A gente não pode ter uma atitude de somente criticar. É preciso ter uma atitude propositiva, até mesmo para facilitar o trabalho do próprio jornalista”, observa.

De outro lado, profissionais de veículos de comunicação pernambucanos (incluindo não apenas a grande imprensa, mas também rádios comunitárias e mídias alternativas) têm sido convidados a conversar, numa tentativa de sensibilizá-los para as questões que mobilizam o movimento de mulheres. “Temos conseguido pautar vários temas, como aborto e violência contra a mulher”, comemora Ana Veloso. “Tem sido um bem-sucedido esforço de diálogo comum para que os temas do feminismo estejam na mídia não apenas no 8 de março, Dia Internacional de Mulher”.

Fausto Rêgo

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