Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
A escolha temática do Fórum Social Mundial 2005, que será realizado em janeiro, em Porto Alegre, teve como objetivo principal a ampliação do diálogo e a valorização da diversidade. Para aproveitar esse ambiente democrático, a Rede Saci, em parceria com várias entidades, está se mobilizando para conferir maior visibilidade à questão da deficiência no evento, que reúne ativistas do mundo inteiro. A iniciativa, batizada de Fórum Social Mundial para Todos, tem o objetivo de promover o debate sobre as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam para ter acesso a vários serviços e atividades, como educação e trabalho.
De acordo com o Censo de 2000, praticamente 15% da população brasileira têm algum tipo de deficiência. Para a coordenadora da Rede Saci, Marta Gil, a questão da acessibilidade ainda é o grande problema para esses milhões de pessoas. "O tema da deficiência ainda precisa de mais visibilidade no Brasil. Não adianta pensarmos em escolas adaptadas porque as crianças deficientes e pobres não chegam à escola. Muitas pessoas não conhecem os seus direitos", alerta Marta. Para colocar a questão na pauta, diversas organizações estão se articulando e vão promover mesas redondas sobre o tema no FSM 2005. Marta explica que a iniciativa do Fórum Social Mundial para Todos vai atuar em duas frentes principais: a apresentação do trabalho da Rede Saci e a promoção de debates com as ONGs.
O principal projeto que será apresentado pela organização é o Agenda Deficiência. Desde o início do ano, a Rede Saci está desenvolvendo essa iniciativa em parceria com a Fundação Banco do Brasil. "Esse é um projeto que trabalha em rede recolhendo subsídios de profissionais de várias áreas que tenham idéias para melhorar a vida das pessoas com deficiência", explica. Para isso foi criada uma página na Internet (http://agenda.saci.org.br/) para hospedar o fórum onde a temática é discutida. O objetivo é elaborar um documento que posteriormente sirva de base para a formulação de políticas públicas.
Em conjunto com outras organizações, o tema que será discutido é o desenvolvimento inclusivo. "Não é possível haver desenvolvimento social sem que este alcance a todos. Não adianta beneficiar só negros ou pessoas com necessidades especiais porque as categorias se cruzam", avalia a coordenadora. Segundo ela, as principais dificuldades dessas pessoas ainda são a educação, o trabalho e o transporte, questões que devem ter destaque no Fórum.
Apesar de ser o primeiro FSM de que a Rede Saci participa, Marta acredita que houve avanços no tocante à abordagem de temas sobre as pessoas com deficiência, o que também pode ser notado fora do FSM. "Este ano, o Banco Mundial e o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] começaram a adotar uma política de financiamento que prevê a contemplação de pessoas com deficiência nos projetos. Se for para construir casas populares, por exemplo, deve haver unidades adaptadas", afirma.
A iniciativa também contou com a ajuda de uma lista de discussões "agitadíssima", segundo Marta. "Lançamos a lista para agregar pessoas e poder promover ações em conjunto. Tivemos muitas sugestões que serão aproveitadas nas mesas redondas do FSM", diz. Qualquer pessoa pode se inscrever pelo correio eletrônico fsmparatodos@listas.saci.org.br e participar.
Durante a realização do Fórum, haverá uma exposição sobre o tema da deficiência, para chamar a atenção dos participantes. O artista Ricardo Ferraz, que usa cadeira de rodas desde que teve poliomielite, é desenhista e faz charges de humor sobre as dificuldades encontradas diariamente pelas pessoas com deficiência.
Apesar do esforço para levar o tema ao centro do debate do maior evento da sociedade civil mundial, Marta reconhece que não é fácil o acesso ao evento – tanto online quanto físico – para as pessoas com necessidades especiais. "A acessibilidade digital do Fórum não é muito boa. Se a pessoa estiver num telecentro e não tiver familiaridade com o computador, terá muita dificuldade, por causa da restrição do tempo de navegação. Quanto ao acesso físico, ele está mais relacionado à infra-estrutura da cidade e sabemos que as cidades brasileiras ainda precisam de muitas adaptações", avalia a coordenadora. Ela garante, no entanto, que tem conversado com os organizadores e eles, conscientes das limitações de acesso, estão trabalhando para amenizar o problema.
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