Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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O artigo 17 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança reconhece a importância do papel dos meios de comunicação para a promoção do bem-estar na infância. Baseados nesse artigo, o Escritório Regional do Unicef para a América Latina, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e a Rede Andi América Latina lançaram o projeto Ação 17. O objetivo é formar uma comunidade virtual ibero-americana de profissionais, militantes e estudantes de várias áreas que estimule o debate acerca da produção de informação pública de qualidade sobre a infância e a adolescência.
A Rede Ibero-americana de Jornalistas e Comunicadores pelos Direitos da Infância e Adolescência, batizada de Ação 17, contará com salas virtuais de bate-papo, enquetes, textos de páginas individuais e documentos relevantes sobre temas relacionados nas línguas portuguesa e espanhola. De acordo com o coordenador executivo da Rede Andi América Latina, Ulisses Lacava, o tema escolhido é essencial para a promoção dos direitos humanos nesses países. "Não se pode falar em direitos humanos sem colocar as crianças e adolescentes em primeiro lugar. E a mídia tem um papel-chave nisso", avalia. Ele explica que o Ação 17 responde a essa necessidade, apoiando os atores fundamentais no processo de promoção de uma cobertura midiática mais responsável. "Vamos apoiar os atores mais importantes desse processo, que são os próprios jornalistas, utilizando uma ferramenta cada vez mas acessível, que é a Internet", diz Lacava.
O coordenador explica que o projeto é um desdobramento do trabalho da Andi, por meio da Rede Andi, e da longa parceria da organização com o Unicef. A Rede Andi nasceu em 2003 com o objetivo de criar agências de notícias sobre os direitos das crianças e dos adolescentes em países da América Latina. "Hoje a Rede engloba 10 países e o Ação 17 nos permite trabalhar com jornalistas dos países onde não estamos presentes", diz Lacava.
O projeto será um espaço temático para a troca de experiências. Cada pessoa cadastrada terá sua página pessoal onde poderá publicar seus próprios textos e acessar a produção dos demais participantes. "Além disso, poderão participar dos fóruns temáticos, dos grupos de discussão e das coletivas virtuais, com convidados que poderão ser entrevistados pelos participantes. Há várias funcionalidades, que podem ser conhecidas no pré-sítio que já está no ar", explica o coordenador. A página pode ser acessada no próprio endereço do Ação 17 (cujo link se encontra ao lado). Segundo Lacava, todos os que se cadastrarem na página temporária já farão parte do banco de dados do portal e poderão continuar participando quando o site oficial for lançado, daqui a dois meses.
Nesse espaço virtual, serão travados debates amplos em torno das grandes questões relativas aos direitos das crianças e dos adolescentes, de acordo com a oficial de comunicação do Unicef no Brasil, Rachel Mello. "Obviamente, um dos temas centrais será como a questão da infância se relaciona com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ou seja, o combate à pobreza e à fome, à mortalidade infantil e materna, a doenças como a malária e o HIV/Aids, assim como a promoção da educação para todos e a eqüidade de gênero", afirma Rachel. Além desses temas, algumas questões também receberão atenção especial, segundo ela. "Há temas ainda escondidos na mídia brasileira no que diz respeito à infância. Como exemplo posso citar a questão das crianças com deficiência e das crianças indígenas", diz. Para Lacava, que usa como base um levantamento que vem sendo feito pela Andi desde 1997, as crianças e adolescentes em situação de rua, as crianças desaparecidas, o impacto dos problemas ambientais sobre os mais jovens e o tema das migrações foram os assuntos menos citados na mídia em 2004. A mesma pesquisa mostra que temas como educação e violência têm maior visibilidade nos meios de comunicação.
Além das questões negligenciadas ou valorizadas pela mídia, Rachel destaca que os conteúdos do jornalismo mudaram pouco nos últimos anos. Para ela, o fato de ainda existirem as mesmas editorias há décadas mostra que o jornalismo não acompanhou as rápidas mudanças que ocorreram no mundo. "Ainda temos as mesmas editorias de política, economia, mundo, cidade, artes e espetáculos, por exemplo. A área da infância há 10 anos começou a migrar das páginas de polícia ou cidade para a área de política. Mas a infância também diz respeito à economia. O trabalho infantil, a formação profissionalizante e mesmo o orçamento público destinado aos programas voltados à infância não estão cobertos porque são ainda considerados menos importantes para os cadernos de economia", analisa a oficial do Unicef. E complementa: "Cobrir bem a área da infância também compreende um desafio de mudar a forma de como se pensa a inclusão da notícia nos jornais, telejornais e nos sites informativos" afirma.
Tanto para Lacava quanto para Rachel uma das palavras-chave de um jornalismo mais responsável e solidário está na multiplicidade de fontes. "Não podemos esquecer que não se ensina sobre direitos humanos ou direitos da infância nas faculdades de jornalismo, e muitas vezes o jornalista não tem com quem trocar idéias para saber se está no caminho certo. Daí a idéia de realizar esse projeto", avalia o coordenador. A oficial do Unicef chama a atenção para o fato do Ação 17 não advogar por um jornalismo militante, mas por um bom exercício da comunicação. "Isso inclui ouvir os atores locais e as próprias crianças e adolescentes, e não apenas os homens de terno e gravata", enfatiza Rachel.
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