Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor
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O Brasil tem uma das populações histórica e culturalmente mais diversificadas do mundo, que, por sua vez, abriga a mais rica biodiversidade do planeta. A relação entre ser humano e natureza no Brasil (assim como no mundo todo), no entanto, está em crise. É com este olhar que o Instituto Socioambiental (ISA) produziu o Almanaque Brasil Socioambiental, publicação de 480 páginas, que apresenta uma visão inovadora sobre as relações de interdependência entre fatores sociais, econômicos e ambientais dentro e fora do Brasil. O Almanaque foi lançado em 21 de dezembro, como parte das comemorações pelos dez anos do ISA. Teve ainda um lançamento no São Paulo Fashion Week e outro hoje nesta sexta-feira, 28 de janeiro, no V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
Viabilizada pela aprovação do projeto pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura e pela parceria entre o ISA e o Grupo AES, a publicação teve a colaboração de mais de cem profissionais, que escreveram ou deram consultoria para a produção dos textos, além de fotógrafos que cederam suas imagens ou produziram ensaios temáticos para a publicação.
O Almanaque Brasil Socioambiental é a realização de um sonho cultivado desde a fundação do ISA, em 1994, segundo o antropólogo Beto Ricardo, membro do conselho diretor do ISA e um dos editores da publicação. "Desde que fundamos o ISA, pensamos em uma publicação que apresentasse uma maneira diferente de olhar a realidade – um olhar focado na relação homem-natureza – e que fizesse esse conhecimento sair do gueto dos ambientalistas e ecologistas", conta. Pela primeira vez, uma publicação faz um balanço sociombiental do Brasil, ressalta o antropólogo.
Ricardo considera importante destacar que o ISA não é uma ONG ambientalista, e sim, socioambientalista. "Quando algumas pessoas falam de conceito de biodiversidade excluem o ser humano do seu discurso. É preciso pensar em meio ambiente em uma nova perspectiva, que vise a melhorar a qualidade de vida das pessoas", afirma. A palavra "socioambiental", que deu nome ao instituto e que agora sintetiza a idéia da publicação, não era muito usada há dez anos, lembra ele. "A idéia de que o Brasil tem uma natureza virgem, preservada, é totalmente errada. Como todo o mundo, o Brasil está totalmente mudado pelo homem", enfatiza.
Voltada para estudantes, professores, jornalistas e também para cidadãos e entidades socialmente responsáveis, o Almanaque traz, em linguagem simples, informações atualizadas sobre os diferentes biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa, Pantanal e Zona Costeira) e as grandes questões socioambientais contemporâneas, mostrando a relação entre elas e alternativas que possam conciliar desenvolvimento com valorização da diversidade socioambiental do país. Aborda temas como uso sustentável dos recursos naturais, conflitos sociais, problemas urbanos, biodiversidade, depredação ambiental e mudanças climáticas.
Ao longo de doze capítulos temáticos, foram incluídos, além de fotos, mapas, gráficos, tabelas, casos paradigmáticos, curiosidades, referências bibliográficas e dicas de participação. O Almanaque traz uma seleção com 24 campanhas relacionadas a consumo responsável, proteção da biodiversidade e direitos coletivos, através das quais todos podem exercer sua cidadania, com ações diretas ou ajudando a divulgar. Conta ainda com uma relação de 395 endereços de organizações governamentais e da sociedade civil ligadas aos temas socioambientais, um mapa-pôster dos Ambientes Brasileiros e o encarte "Você sabe o impacto que gera no planeta?", questionário onde a pessoa pode refletir sobre o impacto que suas ações cotidianas exercem sobre o mundo e sobre sua própria qualidade de vida.
O texto publicado como editorial do ISA no Almanaque foi o mote inspirador da publicação, segundo o editor. "O ‘Amansa Brasil’ [título do editorial] é quase um manifesto", afirma. O texto denuncia um "modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório, economicamente concentrador, socialmente empobrecedor e culturalmente alienante" e afirma que "é preciso fazer uma revisão drástica do paradigma do crescimento indefinido e a qualquer custo, que continua guiando nossos planos econômicos e nossos sonhos de grandeza nacional."
"O ambiente não é uma atração turística, um detalhe pitoresco, uma alegoria de carnaval. Ambiente não existe só aos domingos, nem é luxo de rico. Ambiente é uma questão de saúde pública e de justiça social, não só para os que vivem hoje, mas para as gerações futuras", diz o editorial.
Com tiragem inicial de 18.500 exemplares, o Almanaque está à venda em livrarias e na loja virtual do ISA (ver link ao lado), a R$ 30. Cinco mil exemplares foram encaminhados, gratuitamente, para bibliotecas e escolas públicas de todo o país.
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