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Dança de oportunidades

Autor original: Viviane Gomes

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor





Dança de oportunidades
Divulgação

Em Fortaleza, a Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca) vem proporcionando aos jovens de uma comunidade carente um contato com a arte e o universo lúdico dos espetáculos. A iniciativa, que vem conquistando reconhecimento nacional, oferece anualmente atendimento médico, aulas complementares à educação formal, lições sobre arte e dança e capacitação para as mães de cerca de 400 crianças e adolescentes em situação de pobreza.


Há 13 anos, duas escolas e um grupo de dança representavam o embrião do que se tornaria um projeto social voltado para o desenvolvimento da capacidade criativa de jovens da comunidade de Santa Teresinha. De acordo com a coordenadora da Edisca, Dora Andrade, o objetivo inicial era formar um grupo de dança para que no futuro fosse formada uma companhia nacional. Entretanto, os rumos mudaram devido à percepção do grande potencial artístico desses jovens e da situação de extrema vulnerabilidade em que viviam. “Fechamos as escolas e o grupo e ficamos só com a turma da comunidade. Foi um grande encontro e hoje nos sentimos realizados”, orgulha-se Dora.


Três anos depois de sua primeira turma, a Edisca se constituiu juridicamente para facilitar o trabalho e a captação de recursos. Hoje, Dora destaca que as dificuldades ainda são muitas. “O ano de 2004 foi muito difícil para a instituição. Perdemos uma criança atingida por uma bala perdida e sabemos que, na região em que atendemos, a violência cresce a cada dia”, afirma. A coordenadora diz que, por causa da grande necessidade de ampliação de renda dessas famílias, não é fácil chegar até elas e é comum alguns jovens terem de parar os estudos para trabalhar. Mesmo assim, a organização ostenta o excelente índice de 100% de crianças matriculadas na escola e 96% de aprovação.


Os jovens ficam na instituição no período da tarde ou da manhã, dependendo do horário em que estudam. Lá recebem atendimento médico, odontológico, vale-transporte, uniforme, alimentação, aulas de português e matemática e participam de oficinas de artes. Para as mães, há aulas de capacitação em culinária, artesanato e estética. “Achamos que para essas mães a capacitação é muito mais fundamental do que para seus filhos. Algumas já conseguiram ampliar de maneira significativa a renda familiar”, diz Dora.


Um dos fundamentos da instituição, segundo a coordenadora, é proporcionar um espaço lúdico, de jogos, brincadeiras e principalmente criatividade. “É uma forma de devolver um pouco de tudo de que foram privados por causa da pobreza e da falta de oportunidades. Queremos transformar habilidade em competência”, destaca. Para Dora, o objetivo principal não é formar grandes cenógrafos ou coreógrafos, mas fazer com que as lições aprendidas sejam aplicadas em qualquer área do conhecimento. “Usamos a educação para isso. Trazemos profissionais de primeira linha para trabalharem com os educandos e depois tentamos descobrir para que área pode ser direcionado o potencial daquele jovem”, explica.


A idade dos educandos varia entre sete e 19 anos. Alguns problemas, próprios de crianças e adolescentes pobres da capital cearense e de muitas cidades brasileiras, preocupam a coordenadora, como a prostituição infantil e o uso de drogas. Nesse ponto, o projeto se mostra bem sucedido, pois, segundo ela, não houve nenhum caso de drogadicção ou prostituição registrado entre os alunos. “Eu entendo, no entanto, que é impossível que uma ONG sozinha promova a justiça social. Acho que nem o governo pode fazer isso sozinho”, avalia.


Dora destaca que, quando a Edisca foi fundada, em 1991, Fortaleza era a capital nacional da prostituição infantil. “O Nordeste e o Norte ainda têm os piores recordes. A escola pública e a saúde passam por uma grave crise. Não podemos substituí-las, mas seria melhor se pudessem ser asseguradas por outros meios”, afirma, referindo-se à qualidade da educação e da saúde proporcionadas pelos governos de alguns países. Para ela, o trabalho das ONGs no Brasil é fortalecer esses serviços deficitários. “O mais importante de tudo é encontrar ex-alunos trabalhando, passando no vestibular, enfim, encontrando os seus lugares”.


Luisa Gockel

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