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União para transformar a Cidade de Deus

Autor original: Italo Nogueira

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Maria Aparecida, moradora da Cidade de Deus
Foto: Tony Barros

Há cerca de 20 anos, a Cidade de Deus vê surgir diversas entidades com o intuito de suprir as necessidades da comunidade. Agindo isoladas, essas iniciativas muitas vezes não tinham força para construir uma transformação no local, atendo-se apenas às necessidades imediatas. "Algumas entidades nasceram com a visão da necessidade, sem formar base. Às vezes nem sabiam o que era assistencialismo, mas acabavam fazendo sem maldade", diz Iara Oliveira, membro da executiva do Comitê Comunitário da Cidade de Deus. O Comitê nasceu em fevereiro de 2003, com o objetivo de unir as entidades locais para iniciar um processo de mudança real da Cidade de Deus por meio da ampliação da visão política dessas organizações. "Mas nada de acabar com a autonomia das entidades. Cada uma gere seu dinheiro e seus projetos depois de implementados", adverte Iara.


Reunindo 13 entidades, o Comitê procura propor políticas públicas e compor parcerias para construir projetos que atendam à demanda da população local e que tenham ação de longo prazo. "Muita gente estava ganhando dinheiro com a nossa miséria. Vinham aqui e implantavam o projeto. Quando acabava a verba, iam embora sem provocar nenhuma mudança efetiva", reclama. O Comitê se propõe a ser um avaliador dos projetos a serem implementados na Cidade de Deus em parceria com iniciativas públicas e privadas. Programas que não têm visão de longo prazo são descartados pela organização ou modificados para que tenham resultados mais duradouros.


Foi o que aconteceu recentemente com o Projeto Segundo Tempo, apresentado pelo Ministério do Esporte. O Comitê o readaptou, devolvendo-o ao governo federal. Agora, o programa vai integrar projetos que já existem na comunidade, divindo-se em diversos comitês. Outro projeto desenvolvido pelo Comitê nasceu a partir da identificação da necessidade de 4 mil casas populares na área conhecida como Rocinha 2. A Caixa Econômica Federal liberou verba para a construção de 600 unidades habitacionais, mas ainda falta a liberação do terreno por parte da Prefeitura.


Segundo Iara Oliveira, todos esses projetos têm como objetivo diminuir o estigma que o morador da Cidade de Deus carrega. "Nosso trabalho tem como visão aumentar a auto-estima dos moradores da comunidade. É muito duro ser rejeitado em um emprego simplesmente porque aparece 'Cidade de Deus' no seu endereço", comenta. Iara afirma que o filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, complicou ainda mais a situação. Tendo por base solidariedade, justiça social e políticas de inclusão, o Comitê acredita que esse estigma desaparecerá aos poucos. Com o Plano de Desenvolvimento Comunitário Integrado e Sustentável desenvolvido pelo Comitê, os moradores da Cidade de Deus têm acesso a cursos de alfabetização, oficinas de capacitação profissional em contrução civil, saúde, educação popular e outras áreas. Além disso, procura capacitar as entidades para administrar a verba recebida e os projetos em andamento


Para identificar as demandas da comunidade, o Comitê realizou dois Fóruns Comunitários, convocando entidades e moradores para listar as necessidades prioritárias. Além disso, mantém um fórum permanente – realizado às quintas-feiras, na sede do Comitê –, no qual moradores e parceiros podem apresentar alternativas. A entidade também pretende fazer um Censo comunitário, com a parceria do Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm), para aprofundar o conhecimento sobre a comunidade e tornar mais efetivos os resultados dos projetos. "A gente não acredita em paternalismo. Acreditamos que todos devem participar da transformação da Cidade de Deus", diz Iara.


Italo Nogueira

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