Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
![]() Fotomontagem Luis Felipe Florez | ![]() |
Desde 1985, a França promove as Saisons Culturelles Étrangères en France (Temporadas Culturais Estrangeiras na França) para homenagear diferentes países. Em 2005, o Brasil é o país escolhido pelo governo francês para apresentar a sua diversidade cultural aos franceses e a outros europeus. O Ano do Brasil na França, que tem como tema Brasil, Brasis, iniciativa lançada em meados de janeiro, começará oficialmente em março, com uma exposição sobre o "Brasil Indígena" no museu do Grand Palais, em Paris, e vai até dezembro deste ano. Mais de 400 projetos brasileiros – entre eles, trabalhos propostos por ONGs brasileiras – de teatro, cinema, dança, grupos folclóricos, fotografia, gastronomia, esporte, música, artes plásticas, design e literatura terão a chance de divulgar o seu trabalho e a riqueza da cultura brasileira durante esta temporada na França.
A proposta do governo brasileiro para a Temporada Cultural 2005 do Brasil na França é a de mostrar aos europeus as diversas facetas do país: as diferentes regiões geográficas com suas características específicas e os diferentes grupos sociais com suas manifestações culturais e expressões típicas. A intenção é, também, fugir do estereótipo do Brasil como o país do carnaval, do samba e do futebol e apresentar uma imagem mais rica e ampliada da sociedade brasileira. As exposições e os espetáculos acontecerão em espaços culturais por toda a França.
A temporada será também uma grande oportunidade para as ONGs brasileiras divulgarem e difundirem a sua experiência na França, fazerem novas parcerias com organizações francesas (e européias de maneira geral), trocarem experiências com as instituições de lá e até conseguirem, através da exposição das suas atuações, novos financiadores.
Ajuda à Amazônia
A exposição Amazônia Brasil, organizada pelo Projeto Saúde e Alegria, é um dos projetos que fazem parte da agenda oficial do Ministério da Cultura para o Ano do Brasil na França. Realizada em 2004, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ), a exposição ocupará uma área de mil metros quadrados, no Palais de la Découverte, em Paris, de 18 de abril até 15 de agosto. Além do Saúde e Alegria, mais de 350 ONGs estão envolvidas na produção da exposição.
De acordo com Eugênio Scannavino Neto, coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria, a exposição será dividida em dois espaços: "Amazônia" e "Ações antrópicas". No primeiro espaço haverá uma maquete do rio Amazonas, réplicas de moradias típicas das comunidades da região e exibições de vídeo. "O espaço será montado para que os visitantes se sintam na Amazônia", diz. No espaço "Ações antrópicas", serão apresentados diversos dados sobre águas, peixes, madeiras, queimadas e a ocupação do homem. "Esperamos um público de três a quatro mil pessoas por dia na exposição", afirma Eugênio. Haverá também uma agenda paralela de shows, seminários e palestras, ainda não definida.
"Esperamos divulgar uma visão realista da Amazônia e mostrar que existem projetos e trabalhos positivos brasileiros, desenvolvidos por ONGs. Queremos mostrar que existem comunidades locais que estão trabalhando lá, mas estão isoladas e precisam de apoio deles [das instituições francesas e européias]; que a Amazônia é brasileira mas está precisando de ajuda", afirma o coordenador do Saúde e Alegria.
Patrimônio
Entre junho e setembro, será montado o "Espaço Brasil", no Carreau du Temple, no bairro do Marais, em Paris, um tradicional pavilhão para exposições com 2.400 metros quadrados de área, com entrada franca. O local será composto por diferentes ambientes que abrigarão atrações como shows musicais, mostras de artes plásticas e artesanato, apresentações de filmes e seminários.
Uma das apresentações no Marais será feita pelo Grupo Cultural Jongo da Serrinha. O grupo que, através de shows, mantém viva a cultura do jongo (manifestação cultural popular de origem angolana que mistura música e dança de roda), espera divulgar também o trabalho social que realiza no Morro da Serrinha, comunidade localizada no bairro carioca de Madureira. A instituição criou uma escola com base na cultura afro-tradicional, que oferece aulas de jongo, capoeira, samba, circo, além de reforço escolar em português e matemática, para as 120 crianças e jovens, de quatro a 24 anos.
"Essa oportunidade de divulgar o nosso trabalho na Europa é muito importante, pois toda a França estará voltada para a cultura brasileira. Pretendemos conseguir novos parceiros e financiamentos para o nosso projeto social", diz Dyonne Boy.
Para o Jongo da Serrinha, 2005 também é especial por ser o ano do tombamento do jongo junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como "bem cultural imaterial brasileiro" do Patrimônio Histórico Nacional.
Referência feminista
Além da participação em atividades ligadas oficialmente ao Ano do Brasil na França, outras ONGs apresentarão seus trabalhos e formas de atuação aos franceses, como a Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra).
Eleutéria Amora da Silva, fundadora e coordenadora geral da Camtra, irá este ano para França, Holanda, Alemanha e Itália para divulgar a entidade entre instituições européias. "Vamos em busca de novos recursos financeiros e trocas de experiências. A idéia é, na volta para o Brasil, fazer a apresentação de instituições de lá para entidades daqui. Queremos ampliar possibilidades e buscar uma rede de solidariedade", afirma.
A França, segundo Eleutéria, é uma grande referência para as feministas e, particularmente, para a Camtra, instituição que atua pelo fortalecimento da autonomia das mulheres. Eleutéria destaca a escritora francesa Simone de Beauvoir, autora de O Segundo Sexo, como referência. "Esperamos ver o que as feministas têm feito na França e o que tem de renovação por lá", afirma.
Cooperação
Um série de colóquios abordará temáticas relacionadas à sociedade civil organizada no Ano do Brasil na França, mas o principal deles será o Fórum Franco-brasileiro da Sociedade Civil, segundo Moema Salgado, coordenadora de relações institucionais do comissariado brasileiro, ligado ao MinC, que coordena a participação brasileira no Ano do Brasil na França.
O Fórum, que acontecerá nos dias 12 e 13 de julho na sede do Conselho Econômico e Social da França, em Paris, terá como pauta o trabalho social desenvolvido por ONGs brasileiras e francesas. A Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais (Abong) e a Coordination Solidarité Urgence et Développement (SUD) – entidade que reúne ONGs francesas de solidariedade internacional – são responsáveis pela organização do evento. As duas entidades assinaram em 2003 um acordo de cooperação para reforçar os movimentos sociais que trabalham com a temática dos problemas sociais e ambientais dos dois países e aproximar as ONGs brasileiras e francesas.
"Será um momento importante para mostrar os resultados das parcerias realizadas entre as organizações conveniadas da Abong e da Coordination SUD, que estão dando certo", afirma Maureen Santos, assistente da coordenação geral do convênio de cooperação da Abong e a Coordination SUD.
Durante o encontro, serão realizados seminários, debates e oficinas, que abordarão questões sobre os meios rural e urbano, economia solidária e negociações internacionais. Educação para o consumo solidário, agricultura familiar, desenvolvimento sustentável, a defesa do direito à cidade e o financiamento para o desenvolvimento são alguns dos temas de interesse em comum entre os dois países e que terão destaque no Fórum.
Maureen enfatiza que este é o primeiro ano em que uma Temporada Cultural na França inclui um eixo social. De acordo com Moema Salgado, foi uma iniciativa do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, incluir uma atividade de caráter social no Ano do Brasil na França.
"O Brasil é reconhecido como um dos países mais ativos no campo da sociedade civil. A França sabe que o Brasil tem um importante papel na área social (grande parte dos participantes do V FSM era de franceses) e é um grande receptor de projetos internacionais. Nessa área, os dois países têm muitos interesses em comum, como a cooperação descentralizada. Por isso, o debate a respeito da importância da participação da sociedade civil é imprescindível no Ano do Brasil na França. É fundamental mostrar alternativas inovadoras propostas pela sociedade civil brasileira", afirma Moema.
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