Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
A pergunta começa a ser feita por jornalistas e ativistas. Além de tirar do poder um ditador com intenções e ligações terroristas que estaria desenvolvendo armas de destruição em massa, a alegação do governo norte-americano para atacar o Iraque foi a necessidade de democratizar o Oriente Médio. A região, rica em petróleo, não poderia mais estar em mãos de dirigentes antidemocráticos, argumentavam membros do gabinete do presidente dos EUA, George W. Bush.
Saddam Hussein foi preso e as armas de destruição em massa até hoje não foram encontradas. Afinal, eram inexistentes. Ao que parece, a democracia está chegando à região. Mas há ativistas que acham que a palavra "democracia" não se aplica nesse caso.
No dia 30 de janeiro, aproximadamente 60% dos iraquianos foram às urnas eleger seu novo presidente, Ghazi Al-Yawer. O alto comparecimento à votação, feita em meio a diversas ameaças de bombas e assassinatos por parte da resistência iraquiana, foi encarado como uma tentativa dos iraquianos de forçar o exército norte-americano a se retirar. A saída, contudo, foi descartada por Washington. A nova constituição deve ficar pronta em outubro. O governo norte-americano tem argumentado que o Iraque, a partir de agora, servirá de exemplo para os países da região.
Não foi só no Iraque que houve votações depois de muitos anos, ou até mesmo pela primeira vez na história. Com a morte de Yasser Arafat, os palestinos também foram às urnas em janeiro para eleger o novo presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Eleições parlamentares estão marcadas para julho.
No Líbano, protestos contra a presença de tropas sírias no país tomaram conta de Beirute e fizeram com que Damasco anunciasse a retirada parcial de soldados, apesar das negativas do grupo religioso e político Hezbollah. A crítica era direcionada à interferência estrangeira nos assuntos internos libaneses.
No Egito, o presidente Hosni Mubarak, no poder desde 1981, anunciou em fevereiro a realização de eleições presidenciais com vários candidatos, em setembro. Na Arábia Saudita, aliada de longa data dos EUA, eleições para conselhos locais foram feitas pela primeira vez recentemente, mas mulheres não puderam votar. Ainda assim, foi considerado um avanço para o país dominado por príncipes ditadores. “O que mudou o clima no Oriente Médio não foi só a invasão pelos EUA e a mostra de armas. Foi a determinação norte-americana em permanecer e a recusa de seu povo em novembro passado [mês em que foram realizadas as eleições presidenciais norte-americanas] de não eleger um presidente que rejeitou uma estratégia de retirada”, escreveu Charles Krauthammer, analista da revista Time.
Tais medidas, contudo, não são vistas com deslumbramento por ativistas como a norte-americana Naomi Klein, autora do livro “Sem Logo”. Em recente artigo para a revista The Nation, Klein argumenta que a divisão de poder no Iraque não é democrática, e por isso pode causar diversos problemas. Segundo ela, a grande representatividade dos curdos na Assembléia Nacional, 27%, não equivale ao tamanho da população curda no país, de 15%. Sua forte presença política se deve a incentivos a candidaturas e à maior tranqüilidade no norte do país em relação às demais. E como todas as principais decisões no parlamento iraquiano demandam grande maioria, o resultado pode ser explosivo, observa.
“O estado de emergência acaba de ser renovado pelo quinto mês e a Aliança Iraque Unido, apesar de ter vencido com clara maioria, ainda não pode formar um governo. O problema não é perda de fé dos iraquianos na democracia pela qual arriscaram suas vidas em 30 de janeiro. É que o sistema eleitoral imposto a eles por Washington é profundamente antidemocrático”, escreve.
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