Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original:
Há mais de uma década, as ONGs amazônicas organizam-se em rede para ganhar peso na definição das políticas públicas. Pouco a pouco, algumas redes se tornaram atores importantes da sociedade civil até participarem das transformações da governança regional. No entanto as redes são mal-conhecidas e muitos preconceitos circulam a respeito delas. Alguns consideram que elas representam uma forma de ativismo político adaptada à nossa era de globalização, outros vêem nelas um ideal de organização solidária entre os desfavorecidos. Ainda há os que criticam a pouca visibilidade de suas atuações. Sem dúvida, as redes merecem ser mais bem conhecidas. As poucas informações e qualificações disponíveis sobre as suas características e a falta de conhecimento de suas atividades dificultam a definição de políticas de desenvolvimento regional baseadas sobre a participação da sociedade civil. Além disso, as redes estão sob perfusão das agências internacionais de desenvolvimento, daí a questão: as redes são novos produtos do mercado do desenvolvimento ou existe realmente uma “cultura de rede” atrás destas estruturas?
Este documento apresenta os resultados de um estudo encomendado pelas agências de cooperação Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ) e Deutscher Entwicklungsdienst (DED), aliadas à União Mundial para a Natureza (UICN). Durante mais de seis meses, foram estudadas as redes ligadas à gestão de recursos naturais na Amazônia, com os seguintes objetivos: produzir um diagnóstico do universo das redes; fornecer uma análise e reflexão sobre a capacidade das entidades pesquisadas em influenciar políticas públicas e gerenciar o fluxo e troca de informações para seus membros/afiliados; oferecer uma metodologia para avaliar e caracterizar redes e articulações; identificar possíveis atores/parceiros para a cooperação internacional e definir estratégias de fomento para estes atores; entender e qualificar a gestão de conhecimentos e o fluxo de informações entre redes, articulações e principais ONGs no intuito de fomentar a troca de experiências e conhecimentos; identificar as principais temáticas para fortalecer a articulação panamazônica a respeito de políticas setoriais voltadas para a gestão dos recursos naturais.
Os resultados deste estudo constituem, sem dúvida, um avanço no entendimento destes atores sociais de primeiro plano que são as redes. A partir de dados quantitativos e qualitativos, as análises da história, do modo de formação, da atuação e do funcionamento interno das redes revelam características comuns que permitem esclarecer a natureza das redes. Ao longo do texto, são apresentados os elementos que têm um papel fundamental para a sustentabilidade das redes. Entre eles, a descentralização das tomadas de decisão, a formalização adequada da estrutura e o uso de ferramentas de comunicação adaptadas aparecem como determinantes.
Além disso, este estudo revela as duas caras das redes: uma orgânica (ligada ao lado “processo”) e uma construída (ligada ao lado “projeto”), cada uma com propriedades específicas e complementares. Três tipos de atividades são característicos da atuação em rede: o manejo da informação, a prestação de serviços e uma forma de ativismo político. O estudo também traz elementos de definição para a “cultura de rede”, relacionada com a confiança, o compromisso, a adesão coletiva e até mesmo o “companheirismo”.
Em uma primeira parte são apresentados os resultados da fase sistemática da pesquisa: a partir das respostas a questionários, é proposta uma fotografia do universo estudado. Em uma segunda parte são apresentados os ensinos de uma pesquisa qualitativa, baseada em entrevistas semidirigidas com 11 redes. As entrevistas realizadas servem de base ao refinamento da análise sobre as redes e permitem ir além dos preconceitos mais comuns. Finalmente, a terceira parte trata da caracterização das redes e propõe algumas pistas para a elaboração de uma metodologia de avaliação.
Este texto é um resumo do estudo "Amazônia em redes". A íntegra do documento está disponível na área de Downloads desta página.
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados. |
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer