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Pacífico desde o início

Autor original: Italo Nogueira

Seção original: Novidades do Terceiro Setor





Adolescente do Projeto Vietnã grafita a sala do Nas Ondas da Paz
Movimento Tortura Nuncas Mais - PE

Disseminar a cultura da paz não tem sido uma tarefa das mais fáceis nos dias de hoje. Um trabalho de longo prazo, no entanto, começa a ser feito em Recife (PE) para que a mentalidade da não-violência passe a fazer parte do cotidiano das pessoas no futuro. O projeto Nas Ondas da Paz, desenvolvido pelo Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco, com o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), pretende implementar quatro rádios com programação desenvolvida por adolescentes de 14 a 20 anos de comunidades pobres do município.

O projeto aprofunda a metodologia de uma outra iniciativa do Tortura Nunca Mais, o Paz nas Escolas. Desde 1999, o movimento instalou oito rádios em escolas e abriu a programação para os jovens da região. "O problema é que as crianças entravam e faziam os programas sem preparação. O projeto era bom, mas faltava essa base", comenta Fabiane Amorim, coordenadora do Nas Ondas da Paz.

No atual projeto, os alunos, antes de entrarem na rádio, participam de um curso que discute comunicação, direitos humanos e introdução às técnicas de rádio. Com essas aulas, o movimento pretende incluir os jovens na discussão sobre direitos humanos e, principalmente, contribuir para que a cultura da paz seja assimilada desde cedo. Os adolescentes que participarem da oficina serão, ao mesmo tempo, alvos e multiplicadores do ideal do projeto. Para Fabiane Amorim, a iniciativa estimula a criança a repassar o conhecimento e, ao mesmo tempo, mantém o adolescente na escola, desenvolvendo alguma atividade. "Na verdade, o que a gente quer é espalhar a cultura da paz nas escolas, o que depois eles podem levar adiante. Além disso, também queremos tirar a criança do ócio e mantê-la na escola".

Aliado à contribuição para a não-violência, o curso e a experiência na rádio servem também como capacitação para a formação de novos radialistas. O curso tanto abordará o manejo técnico dos equipamentos de um estúdio como ensinará as ferramentas de linguagem utilizadas no meio radiofônico. Desse modo, contribui para a formação de profissionais – que certamente terão em sua prática a preocupação com o respeito aos direitos humanos.

Uma das rádios já foi implementada no clube da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Um dos programas já em andamento é o "Terça negra", que aborda, toda terça-feira de manhã, temas étnicos e a história da cultura africana. As outras três funcionarão na Escola Jordão Emerenciano, no bairro do Ibura; na Escola Municipal de Tejipió, em Tejipió; e na Escola José Villela, em Parnamirim. Elas foram escolhidas tendo por base a mobilização estudantil e a participação no Paz nas Escolas. "A idéia é que os programadores façam também atividades externas, envolvendo a comunidade local", comenta Amorim.

As rádios, a princípio, terão como alcance somente o espaço das escolas e do clube. As diretorias dessas instituições são encarregadas monitorar o uso do veículo e repassar os resultados ao Tortura Nunca Mais. "Mesmo com o projeto, não queremos que o desempenho escolar seja prejudicado", explica Amorim. O objetivo é, mais à frente, expandir o projeto e envolver mais intensivamente toda a comunidade na discussão sobre os direitos humanos e a paz. "Ainda não temos licença para atuar como rádio comunitária, mas a idéia é essa. E, depois, expandir o projeto para o interior de Pernambuco". Um projeto nacional ainda não foi pensado, mas a proposta está no ar para que seja implementada em outros estados.

Italo Nogueira

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