Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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O lema “ensinar a pescar em vez de dar o peixe” foi o que motivou a criação de um projeto que hoje é referência para uma comunidade pobre de São Paulo e outras instituições de ação social. O Projeto Arrastão, fundado em 1968, no bairro do Campo Limpo, Zona Sul da cidade, por um grupo de senhoras da sociedade paulistana, segue com a missão de formar cidadãos capazes de transformar a realidade e o meio social em que vivem. O nome “arrastão” se refere ao ato de lançar a rede ao mar e recolher várias espécies de peixe – que, aliás, é a logomarca da entidade.
A organização surgiu com a formação de um clube de mães, com intuito de geração de renda para as famílias da região por meio de trabalhos artesanais. Com o decorrer do tempo, as mães passaram a trabalhar fora de casa e a organização passou a se dedicar mais a atividades com seus filhos. Hoje, atende crianças, jovens e adultos – somando duas mil pessoas, direta e indiretamente – do bairro de Campo Limpo e seu entorno (região com alto índice de anafalbetismo), nas áreas de educação, cultura, geração de renda e mobilização comunitária.
Vera Masagão é presidente da ONG há dois anos, mas está envolvida no projeto há quase 30. “Sempre fui voluntária no Arrastão. No início, enquanto as mães ficavam no clube, eu cuidava da recreação com as crianças. Quando os fundadores foram envelhecendo e queriam fechar a organização, eu resolvi assumir a direção do projeto”, conta.
O trabalho de educação infantil e a brinquedoteca atraem crianças para atividades esportivas, artísticas, culinárias, musicais e recreativas. Entre as atividades voltadas para os jovens em situação de risco social, há curso de cinema; projeto de confecção de lanches artesanais; formação de jovens recreacionistas; esportes; orientação para o mundo do trabalho e um espaço para que expressem suas idéias, divulguem seus trabalhos e discutam assuntos de seu interesse. As crianças e os jovens do Arrastão também são incentivados a participar da gestão democrática da escola pública do município.
O Arrasta Lata, que utiliza a música e a dança para favorecer o processo de construção de identidade, faz apresentações em teatros e eventos da cidade e até acompanha alguns artistas, se destaca entre os projetos para as crianças e os jovens. “O Arrasta Lata é o nosso carro-chefe”, diz Vera.
Outra iniciativa que também tem dado o que falar é a oficina de moda e formação de jovens estilistas. “Como a moda está na moda, investimos em trabalhos com artesanato e costura e, no ano passado, montamos uma grife com jovens estilistas”. A marca exclusiva da entidade – No Quintal – tem dado aos alunos a chance de usar sua criatividade para produzir e personalizar peças como camisetas e itens de moda infantil e praia criados com retalhos e miçangas. As bolsas de lona recicladas feitas pelas costureiras do Arrastão são alguns dos produtos que têm chamado a atenção de empresas conceituadas no ramo da moda e têm ajudado na geração de renda das famílias.
O trabalho do Arrastão não é realizado apenas na sede da entidade. “Está nas ruas também”, enfatiza a presidente. Vera se refere ao Cor Arrastão, projeto que tem melhorado o espaço físico da favela do Parque Pinheiros. O embelezamento da comunidade, com a aplicação de pintura, mosaicos e texturas nas fachadas das casas e revitalização de espaços públicos, por trabalhadores autônomos locais, tem resgatado a auto-estima dos moradores. “Também realizamos um trabalho de educação ambiental com a comunidade para não jogar lixo nas ruas e nos rios”, acrescenta.
A busca de um contato mais próximo com a população é uma marca do Arrastão. Para isso, a sede da instituição é aberta aos sábados à comunidade – as pessoas podem freqüentar a biblioteca, a brinquedoteca e outros espaços da organização. Parcerias com empresas, universidades e instituições públicas, bem como voluntários em odontologia, pediatria, psicologia, orientação jurídica, nutrição, saúde preventiva etc. contribuem para os trabalhos de incentivo ao espírito crítico, participativo, empreendedor e cooperativo em busca da melhoria da qualidade de vida. “Chegamos a ter uma circulação de dez mil pessoas por mês”, afirma. Um curso de incentivo à leitura voltado para os educadores de escolas públicas da região também colabora para a aproximação entre o projeto e a comunidade. Vera acredita que esse perfil aberto é o grande diferencial do Arrastão e o que o faz ser legitimado pela comunidade.
Uma mudança importante causada pelo trabalho do Arrastão é observada entre os jovens do projeto. “O índice de gravidez precoce é praticamente zero. Além disso, cerca de 70% das pessoas que freqüentam as atividades de capacitação profissional conseguem colocação no mercado de trabalho. Esses jovens estão no limite social, e vemos que estamos conseguindo evitar a marginalidade. Com uma oportunidade para desenvolver seus talentos, eles vêem que têm outras alternativas. Promovemos um arrastão do bem”, afirma.
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