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Estudo denuncia abordagem midiática preconceituosa com crianças vítimas de abuso sexual no Chile

Notícias com abordagem meramente policial e uso de termos pejorativos, como "menor”, são alguns dos fatores que denotam abordagem preconceituosa contra crianças vítimas de abuso sexual no Chile, segundo o monitoramento de imprensa realizado pela ONG Raízes entre janeiro e setembro deste ano.Das 945 notícias publicadas durante o período observado, 96,1% se contentam em narrar os fatos, sem contextualizá-los. "A falta de contextualização das notícias sobre violência sexual é dramática. O desenvolvimento das notícias se reduz, em sua maioria, a detalhar o tipo de abuso sofrido pela vítima. Não se problematiza sobre aspectos que repercutem diretamente em suas vidas, por exemplo, a cobertura de atenção psicológica das vítimas de abuso sexual ou os efeitos complexos produto de uma violação, como a gravidez”, assinala.Como exemplo, a ONG cita que, durante os oito meses de monitoramento, 30 meninas ficaram grávidas em consequência de agressões sexuais. "No entanto, este tema é ignorado, invisibilizando a realidade que as meninas deverão enfrentar, duplamente vítimas”, pontua.Apenas 9% dos textos jornalísticas vincularam as violações noticiadas a temas como políticas públicas ou campanhas de sensibilização.Para a ONG, este é um problema que não apenas diminui a qualidade do jornalismo, mas contribui para toda uma aceitação social da violência sexual contra crianças e adolescentes. "A falta de contexto (...) gera uma sensação de ‘normalidade', ou seja, já não nos surpreendem, as vítimas passam a segundo plano e se põe em relevo o violador. Assim, os abusos cometidos por sacerdotes obtêm maior cobertura”, pontua.Além disso, o relatório aponta que 273 notícias não identificam a fonte. "Considerando que a fonte de informação é um pilar do jornalismo de qualidade, se pode afirmar que a cobertura é qualitativamente muito pobre. A ausência de dados estatísticos é uma constante nas notícias sobre violência sexual contra meninos, meninas e adolescentes”, comenta.Outra crítica da organização se direciona ao uso do termo "menor” para se remeter a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. "O termo menor é rechaçado pelas organizações promotoras dos direitos de meninos, meninas e adolescentes, pois remete à doutrina da situação irregular, que põe em um lado os ‘menores' (meninos, meninas e adolescentes, geralmente em situação de pobreza ou em conflito com a lei) e, por outro lado, meninos, meninas e adolescentes integrados socialmente”, explica.Apesar do quadro negativo, há várias maneiras de driblar a matéria puramente factual e passar a um texto mais esclarecedor, levando em conta os múltiplos fatores sociais que contribuem para a violência sexual."Se além de dar conta da idade e tipo de violência sexual sofrida por uma criança, se adicionasse informação sobre a cobertura atual de apoio psicológico às vítimas, o número de delitos deste tipo cometidos até a data, o tratamento das pequenas vítimas no interior do circuito judicial, as penas imputados aos culpados ou, dar conta dos avanços em políticas públicas sobre prevenção ou reparação do dano, permitiria que mais que vitimizar a pessoa que sofreu o abuso, se ponha ênfase nos aspectos jurídicos, políticos, sociais e culturais que facilitam ou contribuem a prática do crime”, sugere.MetodologiaO monitoramento é elaborado a partir do ObservatorioInfancia.cl, uma iniciativa da ONG Raízes para travar debate com jornalistas e meios de comunicação acerca da produção de notícias sobre infância e adolescência com enfoque em direitos.O observatório utiliza um sistema de registro de informações da mídia impressa, rádio e TV, agrupando dados qualitativos e quantitativos.Para baixar o relatório do monitoramento na íntegra acesse http://www.ongraices.org/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=126&limit=8&limitstart=0&order=date&dir=DESC&Itemid=47 Por Camila Queiroz - Jornalista da ADITALFonte: Adital

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