Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
A formação de “esquadrões da morte” data dos anos 50, no Rio de Janeiro. Naquela época, policiais começaram a se reunir para torturar e executar criminosos. Desde então esses grupos têm se disseminado pelo país e cometido massacres que raramente recebem punição.
No livro “Cidade Partida”, onde conta a história da chacina de Vigário Geral, em 1993, o jornalista Zuenir Ventura aponta o general Amauri Kruel como “precursor” dessa prática e também da corrupção policial moderna. Kruel foi chefe da polícia carioca e fundador do primeiro grupo policial organizado para realizar punições extrajudiciais, que ficou conhecido como Esquadrão da Morte. Em 1958 as ações teriam começado. Naquele ano a Associação Comercial do Rio de Janeiro reclamava da quantidade de assaltos a lojas. “Kruel respondeu à interpelação dos comerciantes com a garantia de que adotaria medidas drásticas. Se fosse preciso, prometeu, autorizaria ‘o extermínio puro e simples dos malfeitores’”, escreve Ventura.
Foi criado então o Serviço de Diligências Especiais (SDE), órgão da polícia encarregado de cumprir as determinações de Kruel. O problema, aponta o autor, era o poder do chefe de polícia do então Distrito Federal. Nomeado pela Presidência da República, era considerado praticamente um ministro da Justiça. Truculento, o general liberou o uso da violência por agentes já violentos. “Coberto pela impunidade institucional, cada policial passava a acumular várias instâncias: investigação, julgamento, decretação da pena e sua execução”, analisa o jornalista Ventura.
O SDE era formado por 30 homens, que passaram a ser denominados “Homens de Ouro”, “Turma da Pesada” ou, simplesmente, “Esquadrão da Morte”. Seus atos mais famosos foram o assassinato de dois conhecidos bandidos da época: Mineirinho e Cara de Cavalo. O primeiro morreu com 13 tiros; o segundo, com cem. O gasto de munição com o segundo foi resultado da revolta dos integrantes do grupo de extermínio. Em 1959, Cara de Cavalo matara um dos mais famosos integrantes do SDE, o detetive Milton Le Cocq de Oliveira. A vingança veio rápido e gerou frutos. Anos depois, era criada a Scuderie Le Cocq, outro “esquadrão da morte”.
Esses grupos nasceram com um discurso de manutenção da ordem e de moralidade. Queriam “limpar” a cidade de elementos que consideravam indesejáveis, como assaltantes, mendigos e prostitutas. Apesar do discurso, eram freqüentemente envolvidos em atos de corrupção. O próprio general Kruel teve participação comprovada em um esquema de extorsão. Possuía, por exemplo, “caixinhas” do jogo do bicho, hotéis e cassinos clandestinos. Mais tarde, participou do golpe militar de 1964.
Os grupos de extermínio foram utilizados nos anos 60 no combate a grupos de contestação à ditadura. Já tinham a experiência de torturar e de matar sem deixar pistas.
A prática se tornou rotineira e perdura até hoje. Muitos crimes têm sido cometidos por eles e permanecem sem solução. Entre os episódios recentes que mais chamaram atenção estão os das chacinas de Vigário Geral, em que morreram 21 pessoas, e da Candelária, em que oito crianças e adolescentes foram assassinadas enquanto dormiam, no Centro do Rio. Ambas ocorreram em 1993. No julgamento do caso da Candelária, quatro dos oito acusados foram condenados. No outro, seis dos 52 acusados hoje cumprem pena.
No dia 17 de abril, outra chacina, a do Borel (morro localizado no bairro da Tijuca, no Rio), em que quatro moradores foram mortos pela polícia, completará dois anos sem que nenhum dos envolvidos tenha sido condenado.
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